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Pedro Carvalho “teletrabalha” para rádios locais de norte a sul do País

O teletrabalho e o ser freelancer estão na moda, mas este jornalista já o faz há dez anos.
Tem 50 anos.

Determinado em fazer da rádio a sua profissão, o jornalista Pedro Carvalho montou um estúdio em sua casa, em Soure, no distrito de Coimbra. Todos os dias, entre as 7 e as 19 horas, entra no ar para várias rádios locais, provando que os media de proximidade não foram esquecidos.

A rádio regional está viva — e ouve-se. Do estúdio em casa para vários pontos de Portugal, o sourense Pedro Carvalho, 50 anos, dá voz às notícias que marcam o dia. Numa altura em que os media de âmbito nacional seguiram um crescimento, o jornalista acredita que a rádio de proximidade não se deixou abalar. “As rádios regionais estão sempre com um ‘machado na cabeça’, mas têm uma resistência incrível”, revela. 

O dia a dia de Pedro é tudo menos aborrecido. “Como trabalho com informação, não tenho um plano.” É a partir do estúdio que criou no piso superior da sua casa que entra no ar às 7 da manhã em ponto, porque “em rádio é tudo ao segundo é à hora.”

Primeiro que tudo, informa-se dos últimos acontecimentos para depois filtrá-los para as quatro rádios com que trabalha atualmente. Com o alinhamento preparado e os tópicos delineados, não entra em antena sem o ler previamente e engolir três vezes para que não haja um tropeço ali ou acolá. “É como os jogadores que entram em campo e se benzem.” Até às 19 horas – e de três em três horas –, atualiza os blocos de notícias com as novidades mais recentes. “É viciante”, afirma.

Apesar de estar sozinho no estúdio, está acompanhado na missão de informar. É aqui que ter uma rede de contactos é uma mais-valia. “Como os meus colegas fazem entrevistas e reportagens, vão chegando sons. Se eu fiz uma entrevista e até acho que faria sentido ser transmitido em determinado projeto, facilmente passo o som com o jornalista. Assim, evitamos deslocações.” 

O teletrabalho e o ser freelancer estão na moda, mas Pedro Carvalho já o faz há dez anos, o que, para o próprio, abriu várias ‘portas’. Além de ser dono do seu tempo, tem uma maior autonomia. “Estarmos agarrados a um só projeto implica ficarmos ‘presos’ ao modelo que nos impõem. Por outro lado, se fazemos um produto para vários tipos de público, para várias rádios e vários clientes, começamos por ‘beber’ um pouco das suas filosofias e ficamos muito mais enriquecidos.” 

No entanto, nem sempre foi assim. Antes de ser jornalista a tempo inteiro, Pedro teve outras profissões pelo meio, como pintor de casas e vendedor de loiça cerâmica. No entanto, nenhuma dessas atividades o preenchiam. O que lhe corria nas suas veias, o que fazia os seus olhos brilhar e sua voz aquecer era a paixão pelo rádio, que o acompanhava desde a juventude. 

Na escola, foi mais além e criou o primeiro núcleo de rádio. “Em 1987, juntou-se à rádio pirata Saurium. Desde os revolucionários anos 80 que o jornalista acompanha de perto o crescimento do rádio. Da cassete ao gravador de bobines, skipper, minidisk e computador, a tecnologia esteve ao serviço da radiodifusão. “É arrepiante ver a evolução que teve.”

Com um curso de jornalismo no Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (CENJOR) e vários anos de experiência em frente ao microfone, só se tornou jornalista de rádio de ‘corpo e alma’ em 2013. “Tive a sorte de me rodear de pessoas que me foram abrindo portas e que me deram a entender que o sonho era possível.” 

São vários os momentos e as memórias que marcam a sua carreira. Mas se há história que guarda com várias risadas é a de quando colaborou numa rádio regional. “Era primavera e estava a fazer um programa de discos pedidos. Como era um fenómeno tremendo, tínhamos três linhas, ou seja, três ouvintes em simultâneo. Houve uma altura em que as linhas caíram. Olho para a janela e vejo que estava a chover. Era o que queria ver. Cheguei à antena e disse que estava a chover e que foi por isso que as linhas caíram. Qual é que era o meu espanto? Não estava a chover, os dispersores do jardim é que estavam ligados [risos].” 

Pedro Carvalho desfaz o mito da “voz de rádio” e afirma que todas as pessoas têm boa voz. Para o jornalista, o mais importante na rádio é a emoção. “Se formos para a antena despejar informação, o ouvinte não ouve. Os jornalistas têm que sentir aquela rádio como sua. Se eu não falo para a pessoa com emoção, se não a cativar e se não para uma conversa, ela não ouve.” 

Além da emoção, escrever corretamente é um dos ingredientes-chave para o sucesso de um jornalista que queira vingar na rádio. “Temos que em três palavras contar uma história e ter um vocabulário e forma de construir as frases com um português tão perfeito que não há hipótese de corrigir. Um erro que vai para a antena é um erro que não se apaga.” 

O microfone é visto por Pedro como algo “cómodo”. “Em rádio, não vemos quem está do outro lado. É confortável.” Em tempos, só de pensar em falar em público a voz ficava trémula. Hoje, está confiante nos seus recursos de comunicação. Esta mudança de comportamento deu-se com a apresentação do espetáculo de celebração dos 30 anos da Rádio SFM 98.1 da Murtosa e da carreira do cantor Miguel Ângelo. “Quando, no fim do programa, o público bateu palmas, vi que correu bem. O nervosismo desapareceu e reparei que tinha jeito para isso.” 

Com o ‘boom’ da Internet, das redes sociais e dos podcasts, a rádio enfrenta novos desafios. De acordo com Pedro, o futuro passa pela formação de novos talentos para a gestão das rádios e pelo investimento estatal. “Pagamos todos os meses mais de 2  euros na fatura da eletricidade para o audiovisual. A minha proposta é: uma percentagem desse valor pode ir para os meios regionais para terem mais jornalistas e uma melhor cobertura do que se passa na sua região. Ficávamos todos a ganhar.” 

Pedro Carvalho vive de – e para a – rádio. São mais de 30 anos de uma relação que é alimentada todos os dias com amor, dedicação e profissionalismo, como se entrasse no estúdio pela primeira vez. “Acordo para fazer um hobbie que me sustenta e que me faz totalmente feliz”, conclui.

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