Miriam Seoane Santos, doutorada pelo Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra, recebeu o prémio de Melhor Tese de Doutoramento em Inteligência Artificial 2022. A distinção foi atribuída pela Associação Portuguesa de Inteligência Artificial. A investigadora recebeu oficialmente o prémio no dia 7 de setembro, durante o jantar da 22.ª EPIA Conference on Artificial Intelligence, que decorreu no Faial.
Miriam Seoane Santos, em entrevista à New in Coimbra, não esconde a felicidade que a distinção lhe trouxe. Nesse sentido, a investigadora considera que, devido ao esforço exigido, “qualquer aluno que complete um doutoramento merece um reconhecimento”. No entanto, a cientista considera que “é uma pequena contribuição” que só se tornou possível por estar “em cima dos ombros de gente muito boa”.
A tese de doutoramento da recém-doutorada, intitulada “Research Problems in Data Quality: Addressing Imbalanced and Missing Data”, teve como principal missão perceber como é que dados em falta, também conhecidos como dados desequilibrados, podem ser identificados “em conjunto com dados reais”, assim como a sua combinação “afeta algoritmos de aprendizagem automática”. Outra preocupação da investigadora foi estudar uma forma de “garantir que os conjuntos de dados usados para treinar esses mesmos algoritmos são o mais representativos possível”, de modo que possam ser usados de forma mais eficiente.
O futuro da Inteligência Artificial
Em relação ao campo da Inteligência Artificial, Miriam Seoane Santos acredita que, apesar de ter havido muito investimento, falta “muita literacia” para desmistificar determinadas visões que se foram consolidando em relação ao tema. “Creio que muitas pessoas têm uma visão trans-humanista da Inteligência Artificial, que vai roubar os empregos e prejudicar a humanidade”, explica.
A investigadora dá o exemplo do seu campo, a engenharia biomédica, para desmistificar esta ideia, explicando que a Inteligência Artificial pode ser utilizada “em favor da humanidade”. Através de dados médicos que sejam “representativos de subgrupos da população”, a engenheira refere ser possível algoritmos de diagnóstico e prognóstico obterem os melhores resultados possíveis.
Aproximação da ciência à sociedade civil
Miriam Seoane Santos salienta que existem bons comunicadores de ciência, mas lamenta haver pouco palco. A engenheira acusa a falta de meios como fator de impedimento de investigadores e cientistas chegarem “a uma plataforma tão grande quanto gostariam”. Reitera, assim a necessidade de se promover mais momentos de conferências ou mesas redondas para “desmistificar a linguagem”. Miriam Seoane Santos reconhece a importância de cientistas conseguirem falar para vários tipos de público sobre as suas investigações, mas relembra que “é preciso ter interesse” para isso acontecer. “Não podemos ver professores e investigadores como algo inatingível ou que este conhecimento só está ao alcance só está ao alcance de pessoas especializadas”, explica.
As mulheres no mundo da ciência
O campo das ciências e tecnologias tem sido, ao longo dos anos, interpretado como um meio predominantemente masculino. No entanto, Miriam Seoane Santos salienta que “cada vez mais se tem tido a consciência” do papel das mulheres neste universo. “Temos tido mulheres muito capazes a trabalhar nesta área”, refere. Apesar disso, a investigadora acredita que no mundo da academia, ainda há muito terreno a percorrer, dado que “falta alguma oportunidade e visibilidade”.
Um exemplo desta falta de oportunidade, segundo Miriam Seoane Santos, surge “à medida que se sobem os degraus académicos”, onde a presença feminina vai diminuindo. A cientista, que sempre teve como sonho ser também docente, considera como fulcral para jovens investigadoras a presença de uma figura mentora, pois essa representação encoraja e mostra que é possível chegarem longe na carreira académica.
A engenheira biomédica refere que, felizmente, sempre foi bastante bem acolhida pelo seu orientador e pelos restantes colegas do centro de investigação. Para as jovens mulheres que têm a ambição de vingar no mundo da investigação, Miriam Seoane Santos apela a que “não desistam”, pois “faz-se um doutoramento através da resiliência e acreditar que alguma coisa vai resultar bem”. Salienta ainda que é importante saber dar uso à plataforma que vão tendo acesso ao longo do tempo.
Miriam Seoane Santos acredita também que a existência de uma boa rede de apoio é fundamental para dar o empurrão necessário para se aventurar e começar a dar “passinhos pequenos”. De resto, a mensagem da cientista é clara: “Vamos para a frente e acredita em ti”.