A posição geográfica, a elevação e a presença de áreas com muito vento levaram os habitantes do concelho de Penacova, que dependiam principalmente da agricultura, a tirar partido da energia natural para erguer moinhos na zona. Movidos pelo vento ou pela força da água, moíam os cereais para produzir farinha — e assim foi, durante muitos anos.
Atualmente, muitos deles deixaram de cumprir a sua função original, mas ainda assim continuam a embelezar a paisagem no topo da Serra da Atalhada. É no município de Penacova que se encontra um dos maiores núcleos molinológicos do País, com mais de 20 moinhos de vento alinhados, bem como 18 azenhas instaladas nas margens dos rios Mondego e Alva.
No passado, estes engenhos foram uma fonte de lucro e um meio de sobrevivência, mas atualmente são mais-valia patrimonial, onde são preservadas as memórias de épocas passadas. Com o fim da atividade, no entanto, muitos deles foram abandonados e caíram em ruínas. Outros foram restaurados e adaptados para o turismo rural. Este é o caso do Moinho do Ourives, que começou a receber visitantes no mês de maio.
O responsável por revitalizar a estrutura foi Joaquim Martins, de 52 anos. “A família do seu lado, bastante distante e separada, possuía um moinho na época para moer o cereal, mas há décadas que estava abandonado, em ruínas”, começa por contar o filho de 24 anos, Afonso.
Como viviam na zona, frequentavam o espaço muitas vezes e tinham, inclusive, amigos com moinhos ao lado. Tudo isso incentivou-os a “recuperar aquilo que foi dos antepassados”. O pai, que desde jovem trabalha na área da ourivesaria e é conhecido na terra como o “Ouvires”, tinha toda a maquinaria para avançar com as obras. Em conjunto, juntou-se a um amigo empreiteiro, ergueram parte das paredes e conseguiram recuperar o moinho e o seu interior em 2009.
“Apesar de gostarmos muito da tradição, mantemos a parte das velas, mas lá dentro já não há o engenho para moer a farinha. Transformou-se num alojamento”, diz. Na altura não pensaram abri-lo ao público e era apenas um espaço utilizado para convívios entre familiares e amigos — e assim foi durante os 15 anos seguintes.
Afonso recorda-se perfeitamente dos “comes e bebes” e dos churrascos que faziam na zona. Tudo ao som da natureza, sem Internet e sem grande rede, o ideal para “aproveitar o convívio”. “Com o passar do tempo deixámos de dar tanto uso e sentíamos pena por estar vazio. Se não usarmos, tudo acaba por se estragar, e começámos a pensar na possibilidade de funcionar como um alojamento local”, recorda.
A ideia surgiu também devido à curiosidade das pessoas que passam por lá, que costumavam perguntar se é possível alugar aquele ou outros dos moinhos espalhados pela serra. “Notamos um interesse enorme em terem esta experiência, que acaba por ser diferente de um hotel”, confessa.
O Moinho do Ourives, que em tempos foi o ganha-pão de uma família com a moagem dos cereais, tornou-se assim num “refúgio rústico” cheio de história e tradição. No rés do chão encontra-se um “espaço acolhedor onde reina o sossego e o convívio, como antigamente”. E lá que fica a cozinha totalmente equipada, com mesa de jantar, e uma casa de banho com duche.
No primeiro andar, onde antes de fazia a farinha, encontra-se um quarto com cama de casal e uma pequena sala com sofá-cama. O alojamento tem capacidade para acomodar quatro hóspedes.
“Relativamente à decoração tentámos presentar ao máximo o antigo e o tradicional. Temos vários detalhes relacionados com a tradição de moer, como sacos de milho em miniatura”, destaca. A madeira e a pedra são também as protagonistas do interior.
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Além de uma paisagem única, os hóspedes podem ainda aproveitar uma mesa, cadeiras e bancos no exterior, rodeados por toda a vegetação, assim como um churrasco em pedra. “Na varanda colocamos um corrimão em madeira e fica do género de um miradouro, com uma vista incrível”, revela.
Outro destaque é a proximidade com a Praia Fluvial do Vimieiro, considerada a zona balnear favorita pelos portugueses em 2023, segundo a revista “Guia das Praias Fluviais”. A apenas três quilómetros do Moinho do Ourives, encontra um “verdadeiro paraíso”, que se destaca sobretudo pela envolvência bucólica da paisagem e pela pequena queda de água que faz sucesso nas redes sociais. De águas cristalinas (com temperaturas que rondam os 15 graus) e rodeada de um verde luxuriante, tem sido o local de eleição de várias famílias, que encontram ali a tranquilidade e descanso que precisam.
Quanto aos valores da estadia no novo alojamento da Serra da Atalhada, variam entre os 70€ e os 80€ por noite. As reservas podem ser feitas através das redes sociais.
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