Atualmente, já existem várias alternativas vegan aos lacticínios no mercado. Infelizmente, esse não era o caso num passado (muito) pouco distante. Uma lacuna que “era um grande problema” para Martinha Costa, que tem agora 34 anos. É formada em engenharia industrial e gestão e trabalhou na área da consultoria. Criou a Yogan Creamery em 2016 — que se tem vindo a destacar neste segmento — com o objetivo de produzir o que queria consumir e não encontrava à venda.
“Comecei por fazer estas alternativas vegetais a queijos e iogurtes só para mim, porque não encontrava boas opções nos supemercados”, conta à NiT. Embora não se assuma 100 por cento vegan, a alimentação de Martinha é maioritariamente baseada em vegetais há muitos anos. De vez em quando, prova queijos feitos com leite para os comparar com as propostas que ela mesmo cria.
A forma como os animais são tratados ao longo das suas vidas, onde o final é sempre a morte para serem consumidos, entristece-a. “Não há um mínimo de respeito por estes seres vivos. Um dos nossos pilares é não haver sacrifício animal”, confessa. Em vez do leite de vaca, por exemplo, optam por bebidas produzidas com amêndoa e caju, azeite e óleo de coco. Ao mesmo tempo, mantêm as técnicas de fabrico artesanais com o objetivo de obterem produtos pouco processados — o fator que distingue a Yogan Creamary das restantes marcas do mercado.
Embora a empresa tenha sido criada em 2016, com a ajuda do marido José Casimiro, de 35 anos, o negócio apenas “começou a ficar mais sério” no final de 2017. Na altura estava sediada em Lisboa, mas agora trabalha com a Yogan em Barcelos. “Quando somos os primeiros, há todo um conceito para explicar, o que não é fácil”, revela.
O nome da empresa junta três coisas que tanto adora: iogurtes, alimentação vegan e ioga. Segundo Martinha, um dos pilares desta prática milenar é bastante semelhante ao da marca. “Os produtos são mesmo para as pessoas se sentirem bem com elas próprias”, explica. No entanto, a Yogan Creamery vai muito além disto. “Acima de tudo, somos sustentáveis. Mas também queremos manter aqueles momentos tradicionais, enquanto alteramos os materiais utilizados”, aponta.
A esta abordagem juntam-se alimentos e criações saudáveis, algo que, curiosamente, não acontece em muitas outras marcas. “O mercado vegan está cheio de produtos processados, com muitas misturas de óleos, farinhas e sabores artificiais“, realça. A oferta de queijos e manteigas vegan que antes dominavam este segmento da indústria alimentar inclui muitas versões pouco amigas da saúde e Martinha quis mudar isso.
O objetivo é colocar no mercado alternativas saudáveis “usando bons ingredientes”, refere. A fundadora admite que não têm um espetro tão grande de produtos quanto outras etiquetas, mas isso acontece, lá está, pelo facto de não colocarem nas prateleiras algo que seja excessivamente processado. “Conseguimos concorrer com elas não só pela qualidade, mas pelo preço justo que praticamos”, afirma com orgulho.
A Yogan Creamery começou 2023 da melhor forma: com uma colaboração com a Auchan. Desde 2 de janeiro que já pode encontrar a alternativa vegan à manteiga, feita com algas, nos supermercados da cadeia — cada embalagem de 120 gramas custa 3,59€.
Esta proposta, segundo a co-fundadora, “dá um sabor a mar a qualquer prato”. Também pode ser barrada no pão ou usada para fazer um patê juntando-a a grão de bico. Martinha adora utilizá-la numa receita de massa e cogumelos, acrescentando-lhe um sabor diferente. “Além disso, tem a vantagem de não ter sal”, o que acaba por ser mais saudável do que muitas manteigas tradicionais.
Apesar do sucesso desta proposta com algas, o bestseller da Yogan é uma alternativa ao queijo Camembert, feita à base de caju. O processo de fabrico, contudo, é o mesmo. “Usamos uma cultura semelhante à do queijo e depois é colocado numa câmara a curar e a desenvolver a capa durante duas semanas. Foi o nosso produto estrela no ano passado”, explica. O Cajubert, assim se chama, está à venda por 7,29€.
Afinal, como são criadas (e pensadas) as diferentes propostas da insígnia? Tudo surge graças às necessidades que Martinha sente. É comum ir ao supermercado e ver que não existem opções vegan a muitos dos queijos que adora. Depois, “é só começar a experimentar” até conseguir criar alternativas. “É um processo que demora imenso tempo. Antes de chegarmos ao sabor certo temos de partir muita pedra”, confessa.
Em 2023, a Yogan Creamery não pretende abrandar. Um dos objetivos traçados é a criação de uma alternativa vegan ao queijo da Serra da Estrela. “Estamos num bom caminho”, aponta. Além disso, pretendem reforçar a presença no mercado nacional e, acima de tudo, no internacional. Atualmente já estão em Inglaterra e Espanha, mas querem levar mais propostas àqueles países. Também pretendem recuperar a competitividade que perderam no Reino Unido em 2021 e 2022 devido ao Brexit. “O nosso distribuidor foi à falência e tivemos grandes dificuldades”, recorda. Também esperam conseguir chegar a dois novos destinos: Alemanha e Canadá.
Carregue na galeria e conheça algumas das alternativas vegan aos lacticínios da marca.