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Os filhos dos portugueses são cada vez mais altos que os pais — saiba qual é o segredo

A qualidade da alimentação na infância é determinante para o crescimento dos miúdos e influencia também a saúde na idade adulta.
A comparação foi feita com famílias portuguesas.

O comentário popular “não sei o que lhe dão de comer, mas o miúdo está cada vez mais crescido” nunca fez tanto sentido. Os jovens adultos nascidos na década de 1990 são, segundo um estudo publicado pela Universidade do Porto, mais altos que a geração anterior.

As mulheres cresceram mais 1,46 centímetros do que as mães e os homens mais três centímetros do que os pais, de acordo com a investigação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), conduzida pela nutricionista Berta Valente.

“Esta é uma das primeiras pesquisas realizadas em Portugal que compara não só a altura dos elementos do sexo masculino, como também os do sexo feminino”, começa por explicar a autora do estudo à NiT.

A especialista em nutrição sempre se interessou pela relação entre o desenvolvimento humano, a saúde e os fatores socioeconómicos. Começou a investigar e acabou por realizar um estudo mais aprofundado.

A altura depende de uma componente genética muito forte, mas a questão ambiental também desempenha um papel importante no crescimento. “Isto vê-se ao longo das últimas décadas, em que tem havido um aumento generalizado da altura das populações”, revela Berta Valente. Nesse sentido, procurou investigar se em Portugal, o desenvolvimento social em termos de saúde pública e promoção da alimentação saudável e adequada estavam realmente a contribuir para o aumento da altura média da população.

“Com este estudo observacional conseguimos concluir que a componente genética é muito importante na infância e essa época em cada geração foi diferente”, começa por explicar. Os pais e mães que participaram no estudo nasceram maioritariamente nas décadas de 50 e 60, em pleno regime do Estado Novo, e quando as doenças infeciosas atacavam grande parte dos portugueses. “Além disso, nas famílias mais pobres existia insegurança alimentar”, acrescenta a investigadora.

A infância dos filhos nascidos nos anos 90 foi muito diferente. Já vivíamos em democracia, a esmagadora maioria dos miúdos frequentavam a escola e já havia acesso universal ao sistema nacional de saúde. “Um facto curioso é que a partir desta década arrancou o programa do leite escolar e ofereciam este alimento nas escolas”, realça. E continua: “Isto pode ter sido também determinante para o aumento das alturas, uma vez que o leite é um alimento rico em cálcio e outras proteínas que promovem o desenvolvimento”.

A importância da alimentação durante os primeiros anos de vida foi um dos focos do estudo. “A infância é uma janela temporal em que todos os componentes exteriores vão moldar a pessoa no futuro, juntando-se assim à componente genética”, explica Berta Valente. A alimentação, por exemplo, influencia a saúde, o crescimento, mas também a vida adulta. “Isto significa que as pessoas que durante este período tiveram acesso a alimentos nutricionalmente densos acabaram por crescer mais que os da geração anterior”, conclui.

Outra característica que conseguiram esclarecer é que o aumento da disponibilidade de alimentos de origem animal e ricos em proteína influenciou o maior crescimento dos filhos comparativamente aos pais.

Os descendentes de famílias mais desfavorecidas registaram uma percentagem de crescimento mais elevada do que os filhos de famílias mais privilegiadas. “Ao início ficamos intrigados com este facto, mas depois percebemos que as pessoas deste grupo já tinham atingido o seu potencial de altura nas gerações anteriores, porque tiveram acesso a uma boa alimentação mais cedo”, refere a nutricionista.

A altura é “um indicador de saúde da população e um marcador de desigualdades socioeconómicas”. Atualmente, apesar de ainda existirem diferenças sociais marcadas no nosso País, “há também uma rede que consegue suportar as crianças em termos de alimentos e cuidados de saúde, o que diminui a diferença de desenvolvimento”, explica a autora do estudo.

E as gerações futuras? Berta Valente explica que “com as alterações que têm acontecido no País e no mundo, conseguimos perceber que as próximas gerações vão continuar a crescer e serem mais altos que os pais”. Porém, é importante não esquecer que vivemos contextos sociais diferentes. A pandemia criada pela Covid-19 e a guerra na Ucrânia podem afetar o panorama socioeconómico e isso pode interferir com o desenvolvimento dos mais novos. Por isso, é importante continuar a promover para um estilo de vida saudável, assim como o acesso universal aos cuidados de saúde.

Os resultados do estudo conduzido por Berta Valente, Elisabete Ramos e Joana Araújo, foram publicados, esta terça-feira, 11 de outubro, no “Journal of Biosocial Science”.

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