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O culpado por ficarmos viciados em refrigerantes light e doces sem açúcar

É quase impossível evitar esta substância que faz parte da composição de muitas coisas que adoramos comer.

O que é que os refrigerantes light e muitos doces ditos saudáveis — ou seja, sem adição de açúcar — têm em comum? Além de se apresentarem como alimentos fit e com poucas calorias, são quase todos enriquecidos com adoçantes artificiais, capazes de adoçar entre 200a 600 vezes mais que os cristais brancos derivados da beterraba ou da cana-de-açúcar.

Os edulcorantes são aditivos usados na indústria alimentar como substitutos ao tradicional açúcar que todos conhecemos e entraram na nossa vida quase sem darmos por ela. O aumento da prevalência mundial de doenças crónicas metabólicas como a obesidade, a diabetes tipo 2 e as doenças cardiovasculares abriu caminho à banalização dos produtos enriquecidos com estas alternativas, consideradas mais benéficas para estes pacientes.

Dentro da longa lista de adoçantes sintéticos encontramos o acessulfame K. Pode vê-lo nos rótulos com este nome ou Ace k, acessulfame de potássio ou ainda pela sigla europeia E950. Deriva da combinação de potássio com ácido acético e foi descoberta acidentalmente em 1967 num laboratório na Alemanha. Em 1983 foi aprovado para consumo humano na Europa e, em 1988, recebeu a mesma autorização da Food and Drug Administration (FDA), a agência de supervisão da segurança alimentar dos EUA. Entrou no mercado pouco depois e, agora, quase nem damos por ele.

Este sal de potássio sintético entra na composição de muitas bebidas, pastilhas elásticas e outros produtos com a indicação “sem açúcar”. Embora seja cerca de 200 vezes mais doce que este não é metabolizado pelo organismo, o que significa que é eliminado totalmente.

Tornou-se amplamente popular na indústria alimentar porque apresenta um sabor residual quase impercetível e suporta bem altas temperaturas, o que faz deste uma boa alternativa para receitas que exijam confeção em lume alto, como bolos.

Devemos preferir os adoçantes ao açúcar?

Trocar o açúcar por um adoçante não calórico parece uma escolha óbvia e simples, sobretudo para quem não quer ingerir calorias extra. Este tem sido, até agora, o principal motivo do elevado consumo deste tipo de alternativas e que são muitas vezes incluídas nas nossas bebidas preferidas. Porém, podem não ser tão benéficas quanto se julga — muito pelo contrário.

Os edulcorantes artificiais têm um grande adoçante, com a vantagem de serem baixos em calorias. “Neste sentido, são utilizados em quantidades menores e estão muitas vezes presentes em estratégias de perda de peso e na alimentação de pessoas com diabetes, uma vez que o seu valor calórico é muito baixo ou nulo, e não elevam os níveis de açúcar no sangue”, explica a nutricionista Ana Bravo. Como é sintético e não tem as mesmas propriedades dos açúcares, não temos de nos preocupar com as cáries nos dentes.

No entanto, a verdade é que a contagem de calorias não conta toda a história destes adoçantes. O E950 mantém seu poder adoçante quando aquecido e é também usado como intensificador de sabor de alimentos que são consumidos quentes (como alguns produtos de panificação industrial, por exemplo). Ou seja, este aditivo faz com que os alimentos pareçam (ainda) mais saborosos do que realmente são e isso pode levar a um consumo exagerado que tem impacto na nossa saúde.

“Quando a indústria alimentar retira ou reduz um determinado ingrediente como o açúcar, por exemplo, precisa de acrescentar outros, como a gordura saturada ou aditivos, para garantir as suas características sensoriais”, refere a especialista em nutrição. Esta troca acaba por não tornar o alimento mais saudável, pelo contrário.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou para que seja limitado o consumo de substitutos do açúcar, devido aos potenciais “efeitos indesejados” a longo prazo, incluindo reações no aparelho digestivo (em particular nos intestinos) e na saúde metabólica.

O consumo humano de acessulfame K foi reavaliado pelo Comité Científico de Alimentos (SCF) da União Europeia (UE) em 2000, que confirmou uma ingestão diária aceitável (IDA) de “9 miligramas por quilo de peso corporal”.

A nutricionista Ana Bravo sublinha ainda que as grávidas precisam de ter cuidado com este adoçante. “Embora não seja nociva para o feto, por precaução, é preferível falar com o médico, pois está provado que esta substância atravessa a placenta.” Além disso, alguns especialistas chegaram a apontar que o Ace K poderia ser potencialmente cancerígeno, mas a ideia foi descartada pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA).

Caso queira tentar fugir deste género de substâncias sintéticas, o melhor é sempre ler o rótulo, antes de colocar o produto no carrinho.

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