Quando um bebé desperta às quatro da manhã e começa a chorar sem motivo aparente, é natural que só lhe apeteça fechar os olhos e deixá-lo sozinho até que pare. Pode ser tentador, mas é a última coisa que deve fazer.
Os primeiros meses de vida de um miúdo podem ser realmente desafiantes para os pais. Sobretudo quando despertam a meio da noite e choram sem motivo aparente. No passado, como alternativa muitos profissionais aconselhavam o método do treino do sono.
O principal argumento desta abordagem, é o de que os bebés devem aprender a acalmar-se sozinhos e em consequência disso, conseguirem adormecer sem a ajuda da mãe ou do pai. Porém, a mensagem que estará a passar é que não tem ninguém para o confortar.
Este método é um fenómeno relativamente recente. Até ao século XIX, os pais não pareciam muito preocupados com o sono e o choro dos filhos. Isso mudou quando a Revolução Industrial aumentou as as horas que passavam a trabalhar, o que exigia uma noite mais descansada.
Em 1892, aquele que é considerado o pai da pediatria, o norte-americano Emmett Holt, chegou a argumentar que deixar os miúdos a chorarem sozinhos era bom. “Num recém-nascido, o choro expande os pulmões”, diz o seu popular manual “The Care and Feeding of Children”.
Para Holt, deveríamos “simplesmente deixá-los a chorar. A primeira vez irá acontecer durante uma hora e, em casos extremos, duas ou três. A segunda batalha dificilmente durará mais de 10 ou 15 minutos e raramente será necessária uma terceira”, pode ler-se no livro.
“Nunca se deve deixar um bebé a chorar sozinho”
Atualmente, estas crenças de que o mimo e o colo são demais já estão ultrapassadas. O Pediatra Manuel Magalhães é categórico a afirmar: “Espero que já ninguém acredite nisso. Nunca se deve deixar nenhum bebé a chorar sozinho”. Por mais cansados que estejam devem sempre tirá-lo do berço e dar-lhe conforto, de forma a tentar acalmá-lo.
Nos primeiros três meses um recém-nascido não consegue saber o que é o auto-controlo e a auto-regulação. Ou seja, não vai conseguir perceber quando deve parar. Quando são mais velhos isso não muda. “Quando uma criança chora é porque tem algum desconforto e precisa de ajuda. O auxílio tem de existir sempre”, explica Manuel Magalhães.
Se isso não acontecer, esses momentos acabarão por influenciar o desenvolvimento o comportamento cognitivo e social do miúdo. “Quando for mais velho e estiver numa situação desconfortável vai se sentir ansioso e inseguro, porque não pode contar com ninguém”, explica o especialista em pediatria.
O sentimento angústia infantil interfere com o desenvolvimento do cérebro dos bebés. A pesquisa científica têm demonstrado que o stress liberta cortisol adicional e destrói conexões nervosas no cérebro. Outros estudos demonstram que os miúdos que foram criados com métodos idênticos têm uma probabilidade dez vezes superior, de vir a desenvolver perturbação de hiperatividade e défice de atenção.
O choro é uma resposta quase automática de um bebé a qualquer tipo de desconforto. E a mensagem que os pais e cuidadores devem querer transmitir, quando isto acontece, é a que tudo vai ficar bem. O objetivo é acalmá-lo, de forma tranquila, para que ele perceba que quando estiver mal, isso é o que vai receber. “A isto chama-se modulação sensorial”, conclui o médico.