Nos últimos anos, a oferta de alternativas vegetais a produtos de animal tem vindo a multiplicar-se. Muitos apresentam-se como não apenas como substitutos dos derivados da carne, peixe ou leite, mas recorrem às mesmas designações. Uma estratégia pouco consensual entre muitos vegans e vegetarianos, para quem a utilização de desses termos para descrever produtos de origem vegetal gera confusão.
Como forma de aliciarem consumidores maioritariamente omnívoros, ou seja, que comem um pouco de tudo, muitas marcas sentem a necessidade de definirem os seus produtos pensados para dietas baseadas em plantas por comparação a outros que conhecem bem. A polémica já não é nova e estalou quando a bebida vegetal à base de soja se popularizou com a designação comercial leite de soja, com muitos a defenderem que não deveria usar o termo que define a substância produzida pelas glândulas mamárias das fêmeas dos mamíferos.
Em França, por exemplo, foi decretada em julho de 2022 a proibição do uso de termos associados a carne e peixe para nomear substitutos vegetais. A legislação entra em vigor a 1 de outubro de 2023 e o governo francês considera que devia ser adotada pelos restantes países da União Europeia. A guerra sobre a forma como as marcas podem comercializar ou publicitar produtos de origem vegetal ainda não tem fim à vista. A mais recente batalha deste conflito está a ser travada pelo direito de utilização da palavra manteiga. Afinal, os cremes ou pastas de amêndoa, amendoim ou outros frutos secos podem ser considerados manteiga?
O que distingue a manteiga da margarina e das pastas vegetais
As margarinas estão há muitos anos no mercado e nunca geraram esta confusão. Isto porque foi estabelecido desde o início que, uma vez que são produzidas a partir de gorduras de origem vegetal, nomeadamente de sementes de girassol, milho, soja, entre outros, não poderiam usar a mesma designação. Apesar de apresentarem uma textura idêntica à da manteiga, não utilizam gordura de origem animal.
A discórdia surge com as pastas de frutos secos, habitualmente comercializadas sob a designação manteiga — de amendoim, de amêndoa, de caju, entre outros — apesar de também não terem ingredientes derivados do leite na sua composição.
A verdadeira manteiga é feita a partir da gordura do leite, e a receita tradicional é composta única e exclusivamente deste ingrediente (por vezes leva também sal). Os cremes de frutos secos são produzidos de forma idêntica, através do processamento de um único ingrediente. E este é o motivo da discussão. Sendo que se fazem praticamente mesma forma, apesar da matéria-prima base ser diferente, o produto final pode ter a mesma designação?
Segundo a decisão 2010/791/UE da Comissão Europeia, os termos manteiga e leite não podem ser usados em Portugal para designar produtos feitos com ingredientes que não sejam de origem animal. Porém, o decreto prevê umas quantas exceções, a saber: leite de coco, manteiga de cacau, manteiga de amendoim, queijo doce de Tomar e queijinho de sal. Em Espanha, por exemplo, a designação leite de amêndoa é aceite sendo, aliás, a única exceção permitida neste país.
A nutricionista Ana Bravo prefere simplificar: “para que não haja dúvidas, chamo-lhes creme ou pastas vegetais, porque nutricionalmente não são idênticas à manteiga”.
E a ghee, o que é? É uma manteiga clarificada, ou seja, é produzida retirando os componentes sólidos da manteiga tradicional. Esta é derretida lentamente até atingir o ponto de ebulição, momento em que se começam a separar-se os componentes sólidos do leite da parte líquida, a gordura. Os sólidos que ficam à superfície — que incluem lactose e caseína (é, por isso, uma boa opção para os intolerantes a estas suas substâncias) —, são retirados e aproveita-se apenas o líquido. Quando este arrefece torna-se numa pasta amarela de cheiro e sabor mais intenso que a manteiga tradicional. Como é feita a partir da receita original, não há confusão com o nome
Qual é a opção mais saudável?
Todas as manteigas produzidas com leite são muito calóricas, já que têm obrigatoriamente um teor de matéria gorda láctea entre 80 a 90 por cento. Ainda que atualmente existam algumas versões com um índice de gordura reduzido, estas contêm conservantes, corantes (betacaroteno) e aromas. E têm outro problema: mais de 60 por cento dos ácidos gordos da manteiga são saturados — os responsáveis por problemas cardiovasculares.
As pastas vegetais (feitas apenas com frutos secos) acabam por ser uma alternativa mais saudável. Utilizando o exemplo da manteiga de amendoim, a nutricoach Sónia Marcelo explicou que este fruto é rico em proteína (entre 25 a 30 por cento), nutriente que promove uma sensação de saciedade e é essencial à manutenção e aumento da massa muscular. O elevado teor proteico do amendoim faz dele uma opção muito comum na dieta de atletas e desportistas profissionais e amadores. Além de auxiliar no controlo do peso, da gordura abdominal e dos níveis de açúcar no sangue, tem imensos benefícios cardiovasculares.
As margarinas, ao contrário do que se possa pensar têm valores calóricos muito semelhantes à manteiga tradicional, feita à base de leite. Não se tratam de uma opção necessariamente mais saudável porque grande parte destes cremes feitos à base de óleos vegetais têm gorduras hidrogenadas que aumentam os níveis de mau colesterol.
Concluindo: quer prefira manteiga, margarina ou pastas de frutos secos, nenhuma das opções deve ser consumida em excesso. A moderação deve ser, como muitas vezes acontece quando se trata de alimentação, a palavra de ordem.
Caso tenha preferência pelas pastas vegetais, mas nem sempre saiba qual a melhor opção, carregue na galeria e descubra quantas calorias têm os frutos secos mais comuns.