Quem não tem um intestino saudável, não está bem. Mesmo quem não tem doenças intestinais, pode ter a flora intestinal desequilibrada — e isso tem impacto no humor. E o contrário também acontece. Nos dias em que estamos mais stressados, ansiosos ou tristes, o corpo vai sentir essa pressão, provocando diversas reações, sobretudo neste órgão. As mais comuns são prisão de ventre, dores de barriga, inchaço e indisposição.
“O intestino é o nosso segundo cérebro.” A frase não é nova, mas ouve-se cada vez mais, e Magda Moita, enfermeira na Clínica Pilares da Saúde explica-nos o porquê. “É o único órgão, além do cérebro, que tem neurónios. É, então responsável pela produção de neurotransmissores e um deles é a serotonina, ou seja, a hormona da felicidade.”
Ao longo da última década, os avanços da ciência permitiram-nos entender melhor o funcionamento do corpo humano. Uma das grandes surpresas dessa leva de conhecimento adquirido envolve o intestino. Sim, é verdade.
Com até nove metros de comprimento e cerca de 500 milhões de células nervosas, deixou de ser considerado apenas um órgão de digestão, absorção e transporte de nutrientes e ganhou também o status de parte pensante do corpo. Tudo porque estudos recentes revelaram que o seu funcionamento influencia as nossas emoções e comportamentos, os padrões de sono e até transtornos mentais.
Como resultado destas descobertas, cada vez mais pessoas procuram tratamentos de bem-estar que ajudem a manter este órgão saudável. E há um deles que, apesar de existir há 40 anos, está novamente a fazer sucesso.
Trata-se do hidrocólon, ou hidroterapia do cólon, e consiste numa limpeza completa. “Costumo explicar que é como se fosse um clister, mas à moda moderna”, esclarece Magda Moita. E há até um aparelho apropriado para o procedimento. “Através dele conseguimos controlar algumas funções autónomas, nomeadamente a pressão, a temperatura e a quantidade de água que entra no intestino”, adianta a especialista.
Não comece, porém, a imaginar um cenário de tortura medieval. “Todo o processo é feito por um profissional de saúde e a baixa pressão, para ser o menos doloroso possível para a pessoa”, garante-nos a enfermeira. E tudo é feito num circuito fechado — o que significa que não precisa de se preocupar com odores menos agradáveis.
“A água vai entrar e quando tiver de sair, fá-lo por outro tubo. Ou seja, está um canal dentro do ânus e este tem uma bifurcação diretamente ligada ao esgoto. A água que entra está filtrada e ozonizada, isto é, misturada com ozono, um gás, fórmula O3, que vai remover toxinas e eliminar bactérias (boas ou não). No final, introduzimos probióticos — que são bactérias boas — para repor aquelas perdidas durante o tratamento e dar um boost às que já existem”, explica.
E, se para os que sofrem de prisão de ventre este é um tratamento eficaz, também deveria ser feito por quem quem não padece desta condição. “Qualquer pessoa, a partir dos 12 anos, pode e deve fazê-lo”, assegura a enfermeira. Não sem antes, claro, uma primeira avaliação. O hidrocólon tem muitos benefícios. “A maioria das patologias que existem provêm do intestino, logo, se tivermos um bom funcionamento desse órgão tudo o resto funcionará melhor”, adianta.
Em Portugal, existem vários espaços onde pode realizar esta terapia. Na Clínica Pilares da Saúde, por exemplo, custa 99€ e dura uma hora. Quanto à regularidade com que deve ser feita, Magda Moita explica que esta varia consoante os pacientes.
“Numa pessoa regular, deve fazer-se de seis em seis meses. Idealmente, na primavera e no outono. Isto porque, como se trata de otimizar o sistema imunitário, quando feito na primavera estamos a melhorar as defesas contra as alergias, e no inverno fortalecemos o sistema contra as gripes sazonais próprias da época”, nota a profissional.
E se continua com dúvidas em relação ao processo, nós explicamos. Depois de entrar na sala de tratamento com uns “calções com uma janelinha no rabo”, faz uma primeira triagem, é-lhe explicado o procedimento, são avaliadas as contraindicações, e, por fim, deita-se na marquesa. Feitas as contas, não passará mais de 20 a 25 minutos de pernas abertas. “No final, a pessoa ainda vai à casa de banho para que a ação da gravidade faça a sua parte e ajude a eliminar tudo aquilo que não saiu.”
Os benefícios
A hidroterapia do cólon tem três fins principais. Desintoxicar o organismo, através eliminação de resíduos e fezes que estão impactados no intestino — “algumas delas há algum tempo” —, e que podem levar ao desenvolvimento de pólipos, que posteriormente, podem dar origem a cancros, é um deles.
Em segundo lugar, serve também como mecanismo regenerador das células da parede intestinal. “Sabe-se que o sistema imunitário está ligado ao intestino — cerca de 70 por cento do intestino é responsável pela nossa imunidade — pelo que, quando a água entra no intestino e faz força contra as paredes, vai libertar para a corrente sanguínea linfócitos. Só por esse motivo, vamos fortalecer essa parte e com isso, estamos a prevenir uma série de doenças.”
Por fim, claro, recupera e fortalece a musculatura intestinal, estimulando desta forma os movimentos peristálticos e contribuindo para a regularização do padrão intestinal.
As contraindicações
Grávidas e pessoas que sofram doenças do fórum intestinal em fase ativa (como é o caso das fístulas abertas), não poderão realizar o tratamento, adianta Magda Moita à NiT.
A hidroterapia do cólon também não é recomendada a pacientes com patologias cardíacas severas que não estejam controladas nem medicadas.