Quem cresceu nos anos 80 ou 90 não consegue ficar indiferente quando o tema de conversa são papas infantis. E não precisam ter filhos pequenos para esgrimirem argumentos a favor ou contra as famosas Cerelac, Nestum Mel ou Pensal de Chocolate — a tríade mais famosa da década.
É impossível esquecer os lanches que muitas avós adoravam preparar aos netos que estavam sempre “pele e osso” ou precisavam de energia para correrem e saltarem. Esses miúdos cresceram e já na faculdade — e sem ninguém que lhes preparasse um jantar mais nutritivo ou por falta de tempo ou vontade para cozinhar —, voltaram a comer papa. Aliás, a popularidade desta opção entre as refeições caseiras de muitos jovens adultos só encontra rival à altura na famosa massa com atum.
Contudo, não são os únicos. Os purés feitos à base de leite e farinha de cereais são também um dos jantares preferidos de quem que vai ao ginásio nas primeiras horas da manhã (porque garantem a energia necessária para o treino em jejum|), e de tantos outros adultos quando não têm tempo para muito mais. E, sejamos sinceros, de todos os que procuram um prato daquele tipo de comida de conforto que remete para a infância.
Muitas vezes, basta olhar para a embalagem para recordar o aroma daqueles cremes quentes e saborosos que indicavam que a hora do lanche tinha chegado. E quem não se lembra da famosa expressão “saiu-te a carta na farinha Amparo?”, que, à semelhança da Cerelac, da Pensal ou da Farinha 33, faziam parte da receita ideal — sobretudo das gerações passadas — para garantir os nutrientes necessários ao desenvolvimento dos miúdos?
A nostalgia, aliada à falta de tempo, torna-se a desculpa ideal para trocar uma refeição variada por um prato de papa, que demora dois minutos a preparar: basta misturar a farinha com água ou leite.
Este hábito está tão enraizado, que quando a Nestlé desenvolveu uma versão alternativa da famosa Cerelac com menos 40 por cento de açúcar, descansaram os pais: “Vamos propor aos consumidores, aos pais com bebés, uma receita com menos açúcar. Mas vamos manter a receita normal para os outros, em particular para os adultos que gostam do produto da sua infância”, explicou a marca na altura do lançamento da novidade.
No mercado há mais de 80 anos, esta farinha láctea continua a ser a best-seller na área da nutrição infantil. Quem o garante é a própria Nestlé. Porém, será a escolha mais indicada para a refeição de um adulto?
A reposta curta e simples é “não”. Joana Bernardo, nutricionista da Fisiogaspar, explica porquê: “Estas papas são formuladas para satisfazer as necessidades nutricionais dos bebés, que são bem diferentes das dos adultos e, por isso, não devem substituir um jantar ou um almoço”.
A especialista em nutrição refere ainda que estas alternativas não são adequadas, porque além de pertencerem ao grupo dos alimentos processados, têm, geralmente, um teor elevado de açúcar. “Segundo as orientações da Direção-Geral de Saúde, este tipo de produtos são pouco interessantes em termos nutricionais.” A informação nutricional revela, ainda, que têm pouco teor de fibra e, por isso, não se enquadram nos critérios da dieta mediterrânica que, segundo Joana Bernardo, é a mais indicada para quem quer manter um estilo devida saudável e equilibrado.
Por 100 gramas da fórmula tradicional da Cerelac, estamos a consumir 418 calorias, 68 gramas de hidratos de carbono — sendo que 33 gramas são açúcar. O rótulo indica também que o preparado é feito maioritariamente com farinha de trigo, leite e óleo de girassol.
Jantar papa um ou dois por semana, praticamente como rotina, não é, de todo, aconselhado. “Ocasionalmente sim, podemos sempre consumir certos alimentos ou refeições que gostemos ou de que sentimos saudades, como é o caso das papas infantis.”
Já na hora de escolher uma opção entre as que se encontram à venda nos supermercados para dar aos miúdos a nutricionista sugere a que tenha menor teor de açúcar. Porém, é sempre melhor preparar uma papa caseira com ingredientes adequados à idade de cada um.
Carregue na galeria para descobrir algumas receitas que pode fazer quando não tiver tempo para mais.