Quando os dias ficam mais cinzentos e mais curtos é natural que os nossos níveis de energia diminuam. Porém, quando também nos sentimos tristes, não temos vontade de sair da cama, nem motivação para ir trabalhar podemos estar a braços com algo mais grave do que uma simples frustração com o tempo de inverno.
Aproxima-se o dia em que atrasaremos os relógios uma hora, o que significa que a partir do próximo domingo, 30 de outubro, as noites chegam ainda mais cedo. Para algumas pessoas esta mudança para o horário de inverno tem efeitos negativos, que acabam por se traduzir numa depressão sazonal. Trata-se de uma desordem comportamental relacionada, sobretudo, com a diminuição das horas de luz do dia.
A fisiologia do ser humano é regida por ciclos: circadiano, menstrual, reprodutivo e é influenciada pelas estações do ano (que também podem ser consideradas um ciclo). O nosso organismo reage às alterações provocadas pela inclinação da Terra em relação ao Sol, que nesta altura do ano implica a diminuição do fotoperíodo. “Isto acontece porque a luz influencia o relógio biológico. Por isso, quando existe uma baixa de luminosidade, há uma quebra na produção de serotonina — um neurotransmissor, conhecido como a hormona da felicidade, que afeta o humor. E quanto menos serotonina, maior a tendência para a tristeza e depressão”, explica à NiT Maria Moreno, psiquiatra da clínica Fisiogaspar.
Nos dias mais frios e chuvosos também é natural que nos refugiemos em casa, o que acaba por limitar os momentos de convívio e diversão com amigos e familiares. “Algo que acaba por deixar as pessoas mais tristes, ansiosas e desmotivadas”, acrescenta a especialista.
Não pense, contudo, que se trata de uma condição rara ou pontual. Esta doença afeta mesmo muitas pessoas. “Estima-se que aproximadamente 10 por cento da população europeia apresenta sintomas leves de uma depressão com a chegada do outono”, revela a especialista em psiquiatria. E continua: “Consideramos ainda que uma em cada cinco pessoas tem um síndrome depressivo nesta altura do ano”.
No entanto, para ser considerada uma depressão sazonal implica que a mesma seja recorrente, ou seja, que surge sempre na mesma altura do ano, como um ciclo. E traz sintomas diferentes da doença habitual. “A depressão normal é marcada pelas insónias, enquanto nestes casos os pacientes se queixam de uma grande sonolência durante o dia. Também relatam o aumento do apetite e outras oscilações no humor. Ou seja, além da tristeza típica da patologia, os doentes sentem-se mais cansados e irritados”, refere a especialista em psiquiatria.
A depressão sazonal apresenta um risco para os médicos, porque é necessário destrinçar se trata efetivamente desta patologia, ou de uma depressão bipolar. Como têm sintomas idênticos, os especialistas podem ser induzidos em erro e prescreverem medicação desadequada aos pacientes.
Numa forma mais atípica, esta depressão de outono pode também aparecer nos meses de primavera e verão. “Pensa-se que estará relacionada com a subida de temperatura e é caracterizada por períodos de mania. Porém, é uma forma muito rara da doença”, destaca Maria Moreno.
É possível tratar e prevenir
O primeiro passo em direção ao tratamento é o diagnóstico. “Esta etapa é realmente importante, porque a patologia pode ser confundida com outras formas de depressão e uma terapêutica errada pode ser perigosa”, realça a psiquiatra. Normalmente, além da avaliação psicológica que ajuda a definir melhor a condição, podem ser requisitados outros exames ao paciente para despistar outros problemas de saúde que possam estar a causar as alterações comportamentais.
Feito o diagnóstico, será definido o processo terapêutico. Este pode incluir a mudança na rotina e no estilo de vida para aumentar a exposição solar, mas também pode passar por terapia de luz, psicoterapia ou medicação.
Como noutros transtornos de saúde mental, os sintomas da depressão sazonal podem não ser evidentes, ou até menosprezados antes de se tornarem mais graves. É, por isso importante, destaca Maria Moreno, estar atento aos sinais. Porém, o próprio nem sempre consegue perceber as alterações ao seu comportamento, por isso, o alerta deve ser dado pelas pessoas mais próximas.
Existem várias estratégias que pode adotar para combater os sentimentos depressivos relacionados com a mudança das estações. E, caso já exista histórico de depressão sazonal, evitam também que as alterações comportamentais evoluam. “É importante sair de casa, passear e fazer caminhadas para aproveitar a luz do dia. A alimentação equilibrada e cuidada é também tem influência, bem como a prática de exercício físico. Nesta altura do ano deve lidar ativamente com os sentimentos de isolamento e tentar estar com amigos e familiares e manter uma vida social ativa”, aconselha a médica.