Caminhar é bom para a saúde e tem imensos benefícios. A premissa não é nova e já todos a conhecem. Ainda assim, nem todos a colocam em prática e acabam por preferir ficar sentados no sofá a ver uma série — isto depois de um dia inteiro passado à frente do ecrã de um computador e sentados a uma secretária. Se precisa de mais um motivo para se tornar menos sedentário, não tem de procurar mais.
Um estudo recentemente publicado no “The American Journal of Gastroenterology” concluiu que bastam 150 minutos de exercício físico, moderado a intenso, para se manter saudável. E não, não precisa de o fazer diariamente — trata-se da duração semanal recomendada. Fazendo as contas, não passam de 22 minutos por dia. Os investigadores da Penn State College of Medicine confirmaram que a prática regular de exercício leva a uma redução clinicamente comprovada da gordura no fígado.
“As nossas descobertas podem dar aos médicos a confiança para prescrever treinos como tratamento para a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA)”, afirmou Jonathan Stine, um dos autores do estudo e professor no Penn State Health Milton S. Hershey Medical Centre, nos Estados Unidos. “Ter uma meta quantificada da atividade física necessária será útil para que os profissionais desenvolvam abordagens personalizadas, de forma a ajudar os pacientes a modificar os seus estilos de vida e a tornarem-se mais ativos fisicamente.”
A investigação norte-americana baseou-se na análise de 14 estudos anteriores. No total, foram avaliados 551 indivíduos que sofrem de fígado gordo. Foram tidos em conta o sexo, idade, índice de massa corporal, alterações no peso e níveis de gordura hepática medidos por ressonância magnética.
Independentemente da perda de peso, a equipa descobriu que o treino físico tinha três vezes e meia mais probabilidades de obter uma resposta clinicamente significativa em comparação com o tratamento clínico padrão. Concluiu-se, então, que esta alteração da rotina ajuda a reduzir 3,2 vezes mais o risco de esteatose hepática, uma condição conhecida como fígado gordo.
“ O exercício é uma modificação do estilo de vida. O facto de poder igualar a capacidade da terapêutica em desenvolvimento é significativo”, defende Stine. “Os médicos que acompanham pacientes com DHGNA devem recomendar esta quantidade de atividade física. Uma caminhada rápida ou um passeio leve de bicicleta, meia hora por dia, cinco vezes por semana, é apenas um exemplo de um programa que corresponderia aos critérios.”
O DHGNA é um problema de saúde grave que, habitualmente, se manifesta quando já é tarde demais e que pode progredir para cirrose e cancro, levando mesmo à necessidade de transplante na idade adulta. Conhecido como inimigo silencioso, o fígado gordo pode comprometer o funcionamento do órgão.
A doença hepática gordurosa não alcoólica afeta cerca de 30 por cento da população mundial. Em Portugal, afeta cerca de 15% dos adultos. Ao contrário da que resulta do consumo excessivo de álcool, a DHGNA aparece, geralmente, associada a casos de obesidade , diabetes tipo 2 ou pressão alta, colesterol alto ou níveis elevados de triglicerídeos.
Não há medicamentos aprovados ou uma cura eficaz para esta condição comum. É por isso que é tão importante saber que algo que é tão acessível como a prática de exercício físico pode reduzir a gordura no fígado e a melhorar o estado geral de saúde— assim como, a qualidade de vida.
Stine adiantou, ainda assim, que serão necessárias mais pesquisas, particularmente ensaios randomizados controlados, para validar as descobertas e comparar o impacto de diferentes doses de exercício frente a frente.