“Já preciso de férias das férias.” Por mais estranho que pareça, esta é uma das frases mais repetidas quando os dias de descanso terminam e regressámos ao trabalho. Se já se sentiu desanimado, cansado e até triste com o regresso ao escritório, respire: é normal.
Os períodos de descanso podem ser incríveis. Fugimos das responsabilidades, dos horários e temos mais tempo para alguns dos nossos passatempos preferidos. Podemos passar horas a ler, à beira-mar a brincar com os miúdos ou noites inteiras a dançar com os amigos. Porém, estes dias podem ser também verdadeiras montanhas-russas de agitação, e quando acabam, achámos que estamos ainda mais cansados do que quando parámos de trabalhar. E há uma explicação científica para isso.
“As mudanças de ambiente e rotina, por mais agradáveis que sejam, exigem uma reconfiguração da atividade cerebral. Quando voltamos à rotina, o cérebro precisa se readaptar, e isso pode causar alguma fadiga mental”, começa por explicar à NiT o neuropsicólogo Alberto Lopes.
Atenção: isto aplica-se mesmo quando a pessoa gosta da rotina e do que faz. Afinal, por mais que o trabalho seja prazeroso, com um ambiente agradável, bons colegas e satisfação nas funções que desempenha, todos precisam de um período de descanso. Voltar à rotina diária habitual nem sempre é fácil de gerir, o que pode ser gerador de alguma ansiedade.
Quem vai de férias com miúdos, entre construções na areia, birras e muita brincadeira, é natural que o cansaço seja ainda mais evidente. No entanto, Alberto Lopes chama a atenção que este cansaço e até desânimo tanto pode ser algo temporário, como pode “ter raízes mais profundas”.
“Este estado de espírito pode ser um reflexo de conflitos internos e desejos que, temporariamente, colocamos em pausa durante o descanso. As férias funcionam, para alguns, como um parêntese que permite esquecer, por momentos, os dilemas não resolvidos. No entanto, ao regressar, essas questões, outrora adormecidas, emergem com renovada energia, lembrando-nos da realidade que havíamos deixado em suspenso”, explica.
Como podemos inverter a situação
Durante as férias estamos mais relaxados e o neuropsicólogo fala mesmo de uma “sensação de euforia momentânea”. “Infelizmente, ao confrontarmo-nos com o retorno ao trabalho, o cérebro enfrenta o desafio de se reconfigurar para a rotina habitual. Embora possa ser uma experiência desafiadora para muitos, o regresso também oferece uma oportunidade para a introspeção e crescimento pessoal, já que nos permite analisar o que realmente queremos”, reflete Alberto Lopes.
Nesta altura do ano, o especialista em psicologia explica que talvez seja necessário analisar se nos sentimos realizados. “A chave está em compreender que cada pessoa reage de forma diferente, em encontrar estratégias que se alinham com as necessidades individuais.”
Como ferramenta para o conseguir, Alberto Lopes destaca o recurso à hipnose clínica. “Esta técnica oferece uma visão alternativa sobre o desafio da transição pós-férias”, explica. E continua: “Utilizando-a, ao invés de ver esse desânimo e cansaço como um problema, podemos vê-lo como um convite para uma introspeção e crescimento pessoal.”
No entanto, existem outras técnicas com resultados igualmente satisfatórios, como o mindfulness. “Reconhecer o desafio é o primeiro passo para o enfrentar com resiliência e sabedoria”, conclui.
Para que o regresso à rotina seja mais harmonioso possível deve seguir alguns princípios, que são para manter ao longo de todo o ano. Isto inclui não ignorar as pausas e períodos de descanso, não descurar a saúde, manter atividade física de forma regular, algo “fundamental para libertar a tensão e reduzir a ansiedade”. E, claro, não se esqueça de guardar tempo para a família, amigos e atividades que dão prazer. Nunca é demais dizê-lo: a vida não é só trabalho.