Vasco Palmeirim é um dos nomes do momento na televisão portuguesa. Venceu o Globo de Ouro de Personalidade do Ano na categoria de Televisão, está no ar com “Porquinho Mealheiro” e “The Voice Portugal” na RTP1. Neste momento prepara a segunda temporada de “Taskmaster”, que promete ser mais um sucesso. E isto sem falar de tudo o resto que faz na Rádio Comercial.
“Porquinho Mealheiro” é o programa que sucedeu a “Joker” e é um concurso de cultura geral diferente, com famílias. No “The Voice”, Palmeirim tem menos protagonismo — mas tem o papel fulcral de gerir as emoções junto dos familiares dos concorrentes, nesta fase inicial das provas cegas.
Quanto à segunda temporada de “Taskmaster”, já sabemos que os quatro concorrentes fixos se irão manter. Toy, Inês Aires Pereira, Gilmário Vemba e Jessica Athayde voltam às provas inusitadas — e aos desafios improváveis — para os tentarem superar da forma mais criativa possível. A NiT entrevistou Vasco Palmeirim sobre estes projetos e a vitória nos Globos de Ouro.
O que é que o continua a fascinar no “The Voice Portugal”?
O “The Voice” é um formato que adoro. Há anos que o faço — estamos na décima temporada e eu fiz nove. Sempre com a Catarina [Furtado] e uma equipa incrível da Shine. Aquilo que mais me fascina no “The Voice” é a constante surpresa de ver, ano após ano, que apesar de sermos um país pequenito, temos talento para dar e vender. Não só dentro deste retângulo à beira-mar plantado, como temos cada vez mais o poder de trazer pessoas de fora. Temos brasileiros que vêm cá porque no Brasil o “The Voice Portugal” é muito forte. Temos ucranianos, emigrantes que já tentaram em França ou na Bélgica e que agora voltam a tentar a sorte… É algo que me fascina muito e quase me deixa emocionado saber que as pessoas vêm porque sabem que é um formato com valor. É um programa de bem, não é um programa de gozo. Todos têm o seu valor. O “The Voice” começa logo com espetáculo, não começa com castings. Começa com o bom, com banda ao vivo, com luzes, com um espetáculo em estúdio. Isso é bom porque não só temos já pessoas com alguma tarimba, mas também grande parte das vezes é pessoal que nunca cantou e quer só saber o que vale. É também um atestado de confiança para o nosso programa e enquanto apresentador deixa-me muito feliz saber que temos cada vez mais pessoas que encaram o “The Voice” como ele deve ser encarado: um formato de qualidade, que permite às pessoas perceberem aquilo que podem valer, e nunca gozamos nem achincalhamos. Pelo contrário, incentivamos: se não deu nesta, continua a tentar, a lutar e as portas estão sempre abertas.
O Vasco e a Catarina também gerem os nervos, as emoções, às vezes, as frustrações dos familiares e amigos dos concorrentes. Como é desempenhar esse papel?
Temos características diferentes — a Catarina é bastante mais emocional. E eu, com o passar do tempo — deve ser da velhice —, já não sou aquele calhau que era antigamente. Agora já tenho algumas emoções e arrepio-me imenso. Já chorei e tudo. Mas como dizias, é esse o nosso papel. Enquanto o concorrente está a cantar, nós estamos ali com o seu núcleo duro que veio assistir e estamos ali a dar-lhes força. Estamos a apoiá-los, também para fazer a festa caso as cadeiras virem. Caso as cadeiras não virem, para dizer que “isto não é o fim de nada”. E é um papel por vezes complicado. Temos os “nãos” das pessoas que dizem “valeu a pena ter vindo”, mas também há uns “nãos” de “como é que não aceitaram? A minha filha canta tão bem”. E, às vezes, temos de ser nós os primeiros a dar a cara, a dizer “atenção, isto não quer dizer nada, não quer dizer que a sua filha/marido/pai cante mal, pelo contrário”. Por vezes é complicado gerir e explicar isso aos familiares, mas são poucos os casos de amargura. As pessoas sabem que, quer com a Catarina quer comigo, têm ali um porto seguro de conforto.
Sobre o “Taskmaster”, como estão a equacionar os desafios da segunda temporada? O que é que as pessoas podem esperar, tendo em conta que decidiram manter o leque de concorrentes?
Começando pelos concorrentes: a primeira temporada teve apenas oito programas. E nós achámos, e acho que teremos razão nisso, que o sumo daquele leque de concorrentes não se esgotou. E daquilo que já vimos das provas, asseguro-vos que não se esgotou. Isso é muito bom. Ponto dois: apercebemo-nos todos — eu, o Markl e a produção — que quando o programa foi para o ar e eles viram aquilo que fizeram, o nível de competição entre eles aumentou muito. Ou seja, aquilo que durante as gravações foi uma espécie de brincadeira, eles ao verem e perceberem a repercussão daquilo tudo pensaram “espera aí, eu na segunda temporada quero ganhar”. E todos querem ganhar. Não é que não quisessem, mas agora a coisa está diferente. Temo-los de garras de fora e é muito bom ver que continuam a dar o litro e fiéis ao que mostraram na primeira temporada. Em relação aos desafios que perguntaste, estamos ainda — e o “ainda” é porque, se houver mais temporadas, gostávamos de mudar um pouco o paradigma — reféns dos desafios do formato original. Fora de Inglaterra, onde já se fizeram 12 temporadas, tenta-se sempre que o melhor seja servido nos “Taskmaster” dos vários países. Portanto, apenas temos o créme de la créme dos desafios. São aqueles que correm melhor, aqueles de que nitidamente os concorrentes e as pessoas mais gostaram, e por isso continuamos fiéis ao formato original dos desafios ingleses. Claro que, com o sucesso e as mentes extremamente idiotas e criativas que fazem o programa, de vez em quando temos ideias para que possamos fazer na próxima temporada desafios nossos. Talvez seja complicado convencer a produtora, mas é uma ideia que temos.
Mas chegaram a equacionar fazer a segunda temporada com outros concorrentes, suponho.
Foi uma coisa de que falámos. Quem conhece o formato original sabe que tentámos ao máximo ser o mais fiéis possíveis. No estúdio parece que foi gravado em Inglaterra: com aquele ambiente de teatro vitoriano, as cadeiras, o posicionamento dos concorrentes, as provas de estúdio, a minha ligação com o Markl, tentámos ao máximo manter isso. E em cada temporada deles que acaba, vêm outros concorrentes, por mais bem-sucedida que tenha sido. Mas a deles é maior, nunca é só de oito programas, costumam fazer 10 ou 12. Por isso foi bom que tivéssemos percebido que ainda havia muito sumo naquelas quatro laranjas. E, do lado deles, todos queriam continuar. Aliás, eu e o Markl fizemos uma coisa muito engraçada: uma espécie de prank call aos quatro. Ligámos a cada um a dizer “olha, infelizmente não vamos continuar, porque a RTP quer mudar o painel todo”. E todos ficaram — menos a Inês, porque já sabia —: “a sério? Não me digas isso. Queria tanto”. E lá dissemos que estávamos a gozar, que eles iriam continuar e ficaram felizes da vida. Por isso, falámos de uma possível mudança tendo em conta o formato original, mas a produtora aceitou [manter estes concorrentes], eles também e vai ser uma ligação muito boa para continuar. Até fiz aquele teste de mercado. Quando dizia a amigos e familiares fãs do “Taskmaster”: “preferias que o elenco continuasse ou que a coisa mudasse?” Eles ficavam todos: “olha, não sei, mas se eles continuassem eu iria adorar”. Toda a gente está muito feliz com a permanência daqueles quatro.
Até porque não seria simples nem fácil conseguir outros quatro concorrentes igualmente fortes.
Não seria. Mas acho que a primeira temporada serviu para toda a gente perceber que não é preciso ter medo do ridículo. Às vezes abraçar o ridículo, e não ter vergonhas, é a melhor coisa que qualquer pessoa pode fazer. Por isso é que acertámos na mouche com aqueles quatro. Com personalidades bastante diferentes, formas de fazer as provas bastante diferentes, uns mais meticulosos… o Toy não pensa, executa, como costumamos dizer. E foi bom para que toda a gente percebesse o que é o “Taskmaster”. Mesmo que agora viesse uma segunda temporada, mesmo com outros, o facto de ter havido uma primeira temporada ia mostrar ou ensinar aquilo que nós queremos. Ainda bem que vão continuar, mas se houver mais concorrentes tenho a certeza de que conseguimos arranjar gente boa também.
Sobre o “Porquinho Mealheiro”, e comparando com o “Joker” — outro concurso de cultura geral que fez durante muito tempo — de que gosta mais neste programa?
Este processo de um novo concurso pós-“Joker” foi uma coisa que foi falada durante muito tempo entre mim e a RTP. Foram quatro anos de “Joker”, foi muito tempo. Se vai voltar ou não, obviamente não depende de mim. Mas uma coisa que pedi à RTP foi: se é para mudar, que seja para uma coisa completamente diferente. Não queria uma coisa parecida. E diferente era a todos os níveis: se eu pudesse estar de pé, melhor, porque no “Joker” estava sentado; se pudesse ser mais do que um concorrente, era ótimo, e tenho cinco; se for um programa com vários tipos de rondas, era ótimo, e é o que tenho; um programa com efeitos especiais, é o que tenho. Por isso é uma coisa diametralmente oposta ao “Joker”, que me está a dar imenso gozo. Não ter público é um grande desafio para mim. Porque o público dá-me aquele feedback que, com cinco concorrentes, tenho em muito menor escala. O estúdio em que gravamos é completamente diferente do produto final. Gravo num estúdio todo preto, com quatro cadeiras, e quando o programa volta do computador passa a ter luz por todo o lado, uma torre incrível e quatro cápsulas. Nada daquilo está lá. E até nesse aspeto dos efeitos especiais foi uma coisa muito importante para mim, nunca tinha feito um programa deste género. Sempre fiz programas de “what you see is what you get”: na rua, com o “Sabe ou Não Sabe”; o estúdio do “Joker” era exatamente tal como na televisão; o “The Voice” é exatamente aquilo. E agora estar a fazer um concurso em que estou a fazer e não é nada daquilo que é o produto final, para mim foi um desafio. Mas a partir do momento em que comecei a ver o resultado na televisão, agora, trabalhando no escuro à mesma, já tenho outras ferramentas e consigo trabalhar melhor com a cabeça e a imaginação.
Que tipo de programa de televisão é que nunca apresentou mas sonha um dia fazê-lo?
Eh pá, não sei. Não perco muito tempo a ver ou a pensar em formatos. Comecei a apresentar concursos — primeiro o “Sabe ou Não Sabe”, que era completamente diferente mas claramente calhou porque me disseram “isto é a tua cara”. E era. Depois, no “Joker” disseram-me: “é completamente diferente, mas vamos lá ver se és capaz de fazer isto”. Aceitei como um desafio e correu muito bem. As coisas quando me são entregues, ou quando me convidam para as fazer, já há ali um trabalho por parte da RTP de achar “olha, isto pode ser para ti”. Não tenho ainda na cabeça aquilo que gostava de fazer. Acho que é uma coisa de que gostaria de ter tempo um dia para pensar: imagina, um formato completamente do zero, e eu criar o conceito e o conteúdo, pensar em tudo. Gostava muito de dizer que já tenho isso pensado, mas não tenho. Há um concurso que adoro e que gostava muito de um dia apresentar, que é o “Family Feud”, e que em Portugal foi o “Entre Famílias”. Nos EUA é feito por um tipo que adoro, o Steve Harvey, que tem muita graça e também junta famílias. Estou a adorar trabalhar com famílias. O “Porquinho Mealheiro” não tem equipa contra equipa. É uma equipa a batalhar por um valor comum e no final é dividido. E se calhar era engraçado um dia pensar numa família contra outra família. Um dia gostava muito de fazer o “Family Feud”, e a RTP sabe isso porque já falei com eles. Mas também não vou dizer que, se não fizer, é uma falha na minha carreira. Se der, dá, mas também se não der, outras coisas virão.
Já disse que não esperava ganhar o Globo de Ouro e que até acreditava que o vencedor seria Manuel Luís Goucha. Agora, já com algum distanciamento, como olha para a distinção? É um reconhecimento importante, vindo de outra estação?
Não estava à espera, continuo a dizer que achava que era o Goucha — aliás, já vi as imagens e inconscientemente não estou de frente para a plateia. Estou meio oblíquo. Porquê? Porque estou a olhar para o Goucha. Quando o José Mata e a Júlia Palha estão a dizer “o vencedor é”, estou à espera de ouvir Manuel Luís Goucha e já estou a olhar para ele para bater palmas. Já estou meio com o ombro virado para a câmara, assim uma coisa esquisita. É um reconhecimento ótimo, claro que é. Sempre que tenho a nomeação por parte da SIC, encaro aquilo como uma avaliação do meu trabalho. É uma coisa feita ano a ano, portanto eu continuar a ser nomeado e tendo em conta que não sou uma cara SIC, é quase uma avaliação por parte de uma entidade…
Imparcial.
Sim, a dizer “olha, estás a fazer um bom trabalho”. Por isso, se essa nomeação aparecesse anualmente, ficava muito feliz. Agora, fui nomeado em 2019 e estava lá a Cristina Ferreira. E pensei: Cristina. E aconteceu. Depois fui nomeado em 2021 com o João Baião. Pensei em toda aquela dinâmica que envolveu o João, quase um prémio por aquilo que sempre fez pela camisola da SIC desde o “Big Show SIC”, depois a aguentar o programa da manhã sem a Cristina, e disse: “pá, este tem de ir para o João”. E foi. Desta vez, estava o Goucha. Lá pensei: OK, mais um ano, e vai para o Goucha. Nunca pensei que eu pudesse ganhar. E, agora, passado uma semana, deixa-me muito feliz. Está ali numa estante no meu quarto. Portanto, todos os dias, “olha, está aqui um globo” e é muito engraçado. O meu filho perguntou-me: “oh papá, com o globo ganhaste muito dinheiro?” [risos]. “Não, meu amor, só ganhei este prémio e já é muito bom”. Portanto, estou radiante da vida. Não penso que será o primeiro de muitos mais. Tal como os programas de televisão, não trabalho a longo prazo, trabalho com aquilo que tenho hoje e agora. Se alguma coisa aparecer, melhor ainda, mas aquilo que me traz é querer continuar a ser relevante. Quero continuar a fazer o meu trabalho da forma como tenho feito, com muita seriedade, trabalho, atenção e cabeça, que faz parte de mim. E parvoíce. O globo é muito bem-vindo, agradeço muito, mas não irá mudar nada daquilo que é o meu modus operandi no trabalho.