Há projetos que parece que nunca conseguem sair do papel e foi exatamente isso que aconteceu com a Semente durante muitos anos. Depois de se reformar, em 2010, Clara Moura começou a pensar em qual seria o próximo passo a seguir. “Estar em casa a ver televisão não era para mim, ainda sinto que tenho muita energia para dar”, começa por explicar. Por isso, há cerca de cinco anos, desenhou aquilo que seria a sua próxima aventura: um atelier com uma vertente cultural e comunitária.
“Considero essencial o acesso à cultura e era uma área que sempre procurei desenvolver, um sonho antigo de aproximar as artes da população que não tem essas possibilidades”, salienta. Este desejo foi impulsionado pela experiência de oito meses em São Tomé e Príncipe. “Foi uma aprendizagem interessante, em termos culturais. Lá, entendi de que forma podemos deixar marcas enquanto país colonizado”, acrescenta.
Por sua vez, a filha Inês Moura decidiu regressar a Portugal após uma longa estadia no Brasil. Em 2009, foi estudar Belas Artes em Lisboa, tendo-se candidatado a uma bolsa de estudo. E assim foi: partiu para um intercâmbio de seis meses, que se estendeu por mais de oito anos. “A minha vida sempre foi muito entre cá e lá”, explica a filha de 39 anos.
Inês sempre viveu rodeada de professores, já que era a profissão de ambos os pais. “Venho de uma formação artística e, nos meus anos no Brasil, encontrei uma pessoa que tinha uma visão muito abrangente do conceito de ensino. Acreditava que o professor não é detentor dos conhecimentos, mas um intermediário da informação. Para mim, foi revolucionário”, explica. E foi nessa perspetiva que começou em ensinar em escolas particulares no Brasil, em 2014.
Na realidade, a pandemia de Covid-19 foi a principal responsável pelo seu regresso a Portugal. Participou em algumas exposições em nome próprio pela cidade de Coimbra até que a sua mãe partilhou o desejo de regressar à educação, desafio que Inês aceitou na condição de ser “experimental”.
Em resumo, a Semente representa “o concretizar de todas essas vontades, num molde intergeracional e intercultural”, que as suas experiências proporcionaram. Após anos na gaveta, o atelier abriu a 5 de setembro, no Seminário Maior. Este é um novo espaço de debate cultural, artístico e social, “num local ainda mais especial pela própria localização”.
O objetivo é criar um espaço artístico e seguro para todas as idades e nacionalidades, ou seja, uma espécie de comunidade em Coimbra. Poderá usufruir de workshops, roda de conversas e partilha de experiências de vida com convidados. “A escola é um lugar de formatação e na Semente pretendemos fazer exatamente o oposto”, explicam.
Um dos pilares do projeto são as expressões, as linguagens e a combinação de todas essas valências. Todos os workshops são teórico-práticos e abordam diversas áreas, como artes plásticas, instalação, fotografia, escrita, expressão dramática, entre outras. As inscrições devem ser feitas antecipadamente através do email (sementeatelier@nullgmail.com) e pagamento, que varia de acordo com os workshops. Por exemplo, a Educação como Semente custa 15€ por pessoa.
Já as rodas de conversa são um espaço de debates para o qual são convidadas pessoas de diversas áreas, participando num momento de diálogo e de troca de conhecimentos. Os encontros procuram promover uma conversa livre para conhecer pessoas e caminhos. Na secção de mentoria, pode esperar um serviço individualizado e personalizado sobre como iniciar um projeto do âmbito artístico ou criativo.
Carregue na galeria para conhecer o novo atelier em Coimbra, Semente.