Dos sons emergentes às batidas energéticas, tudo é cultura musical. Rui Ferreira, 55 anos, é uma das personalidades que dá música à cidade. Em 1995, fundou a editora Lux Records e, em 2017, abriu a loja de discos Lucky Lux e lançou o Festival Lux Interior.
Licenciado em Enfermagem, exerceu a profissão durante 25 anos até que, em 2016, decidiu viver apenas de — e para a — música. “Gostava muito de ser enfermeiro, mas a verdade é que o ordenado no setor público é baixo”, revela à New in Coimbra.
Como eterno apaixonado por música que se preze, foi adquirindo conhecimentos e experiências que o tornaram num profissional multifacetado. Rui Ferreira já editou com a Lux Records discos dos mais importantes artistas do panorama alternativo conimbricense, como o “Fossanova” dos Belle Chase Hotel, o “Naked Blues” de Legendary Tigerman e o “Farewell” de Sean Riley & The Slowriders. “Já ultrapassámos a centena de edições há muito tempo”, afirma.
E se há um projeto que o marcou especialmente, Rui não guarda segredo. “Os D3O foram seguramente a banda com que mais me identifiquei de todas as que tive o privilégio de trabalhar. Não só musicalmente, mas essencialmente porque eram genuínos em tudo o que faziam.” Apesar do ‘rock’ ser o protagonista, a editora já gravou discos de eletrónica e até de ritmos africanos. “Procuro música de qualidade e ela existe em todas as áreas”.
No que toca aos desafios que a Lux Records enfrenta, o fator económico é o principal. “Se tens dois ou mais artistas talentosos que gostas, mas só tens dinheiro para editar um deles, a tua escolha passa a ter um peso determinante. Mas que seria da vida se não fizéssemos escolhas?”.
Decidido em fazer tudo — ou quase tudo — pela música, cometeu umas quantas loucuras. “Em 2004, fiz um empréstimo bancário para poder editar o livro/CD ‘In Cold Blood’ de The Legendary Tigerman.” Agora, em 2023, com o músico Victor Torpedo, volta a aventurar-se: editar 12 álbuns (um por mês) e “Now Here, Nowhere”, um livro de fotografias que retrata a primeira digressão dos Tédio Boys pela América, já disponível.
Da Lux Records, nasceu Lucky Lux, uma materialização do amor de longa data de Rui Ferreira: os discos — e que estão a revelar ser uma forte tendência na indústria. “Podemos encontrar discos novos e usados nos seus vários formatos (vinil, CD e cassete). A maioria são da área do “pop/rock”, mas há secções de música portuguesa, música brasileira, jazz, “soul/funk”, “punk”, “hard and heavy”, “world music” e clássica.” O disco mais valioso que vendeu foi um CD single original do “Pennyroyal Tea” dos Nirvana por 680€.
Rui é também um “incansável colecionador de discos”. Começou por brincadeira aos 17 anos e nunca mais parou. O “bichinho” por ter a música em formatos físicos foi crescendo e, hoje, tem mais de 50 mil discos. Como é também um apreciador de singles (7” em vinil), tem mais de dez mil discos nesse formato. “Atualmente, o que procuro mais são discos que contenham versões (cover versions) e deve ser por isso que tenho tantos singles e maxi-singles na minha coleção”.
Rui Ferreira revela que ao ouvir discos com versões, foi-lhe entrando no ouvido uma miscelânea de sons e batidas que o moldaram no profissional versátil que é hoje. Essa bagagem musical abriu-lhe portas, tendo já sido agente de várias bandas, como, por exemplo, Belle Chase Hotel, Wraygunn, The Legendary Tigerman, Tiguana Bibles e Mancines.
Apesar da sua preenchida agenda, ainda “entra no ar” na Rádio Universidade de Coimbra com o programa “Cover de Bruxelas”, transmitido desde 1996, e é produtor e programador do Festival Lux Interior, que se realizou este mês, no Convento de São Francisco.
“De Coimbra para o mundo”: Rui Ferreira não tem planos em sair da cidade. “Gosto imenso de viver em Coimbra. As sedes da Lucky Lux e da Lux Records serão sempre aqui”, conclui.