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Rockluso, a banda de Coimbra que (re)vive o rock português dos loucos anos 80

De “O Inventor” a “Patchouli”, interpretam temas que atravessam (e unem) gerações com a música no leme.
Os Rockluso têm um estilo muito próprio.

Os Rockluso cantam e tocam músicas em português da fervorosa década de 80 e que marcaram de tal forma o panorama do rock, que ele nunca mais foi o mesmo. A banda é made in Coimbra e nasceu em 2002 por intermédio do músico Jorge Neves, conhecido como Joca, que faleceu em 2015.

“Ele [o Joca] estava a antever que o movimento 80’s iria tornar-se viral em Portugal”, revela Guilherme Castanheira, 40 anos (voz, teclas, acordeão e trompete), da banda que é composta por mais quatro elementos: João Paulo Castanheira, 47 anos (guitarra e voz), Mário Veras, 58 anos (baixo e voz), Jorge Reis, 33 (bateria e voz) e José Leal, 55 anos (saxofone).

A ideia de cantar em português foi uma opção tomada para preencher uma falta que se fazia sentir no universo musical da altura. “Já tínhamos muitas bandas no nosso circuito que interpretavam temas internacionais, mas não havia nenhuma que se enquadrava naquilo que queríamos representar”, afirma. Quase a celebrarem 20 anos na música, Guilherme garante que há coisas que nunca mudaram. “A nossa missão é sempre a mesma: fazer reviver os loucos anos 80 em Portugal e em português”.

Os Rockluso resgatam temas que fizeram sucesso no passado e, que, 40 anos depois, continuam a mover multidões. “Temos seguidores que nos acompanham sempre, que são pais e filhos. Os pais porque viveram a década de 80 e os filhos porque estão a conhecê-la agora. As músicas que tocamos representam várias gerações”. “O Inventor” de Heróis do Mar, “Patchouli” do Grupo de Baile e “Canção do Engate” de António Variações são alguns dos hits que levam o público a saltar ― e a cantar como se não houvesse amanhã.

“Os nossos espetáculos são muito dinâmicos, do princípio ao fim. Queremos sempre prender a atenção e interagir”, sublinha o artista. O historial do grupo aponta para mais de um milhar de concertos, tendo partilhado o palco com imensas bandas e artistas nacionais. “Já pisamos palcos de sonho, como a Festa do Avante, a Concentração de Motas de Góis e a Expofacic”. Questionados sobre se têm algum ritual antes de subirem ao palco, Guilherme Castanheira diz que não. “Além de ser a nossa profissão, fazemos por amor e de forma muito natural”.

Os Rockluso na Concentração Motard de Góis.

Das caravelas às bandeiras, os Rockluso revisitam a época dos Descobrimentos através do cenário e dos looks e adereços que os fazem distinguir de outras bandas. Em relação aos figurinos, há um episódio que marcou a banda e que ainda é motivo de riso. “Num concerto em Oliveira do Hospital, em que o tempo entre o jantar e o início do espetáculo foi significativamente curto, a mudança de roupa teve de ser bastante apressada. 

O Mário Veras costuma usar umas botas de cano alto, com a curvatura dos pés bastante vincada. Já ao subir para o palco, notámos que o Mário estava com bastantes dificuldades em andar e equilibrar-se, mas podia muito bem ser resultado do vinho ao jantar. Não, de facto, no decorrer do concerto concluímos que tinha mesmo calçado as botas ao contrário, que com as botas ao contrário, a figura parecia literalmente a do Gru Maldisposto. Escusado será dizer que foi uma risada pegada sempre que olhávamos para ele”.

Guilherme Castanheira afirma que ainda se faz boa música rock em Portugal, sendo que também, de acordo com o seu ponto de vista, é preciso saudar “aqueles que mantiveram sempre o seu estilo, movimento e forma de estar na vida e na música, como os UHF, Peste e Sida, Xutos e Pontapés e GNR”.

Apesar de não cantarem músicas originais, os Rockluso já fizeram vários trabalhos promocionais e gravaram videoclipes. De momento — e após a época alta de concertos — encontram-se de férias para, depois, voltarem à carga com os ensaios e a preparação dos próximos espetáculos. No entanto, Guilherme diz que, neste inverno, pretendem atuar em alguns locais mais pequenos, como bares, associações e salas fechadas. “O rock é uma forma de vida, não sabemos viver de outra maneira”, conclui.

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