Com apenas 28 anos, Matt Rife conseguiu o que muitos só conseguem com décadas de carreira: garantir um especial de comédia na Netflix. E o norte-americano não perdeu tempo. A estreia de “Natural Selection” atirou-o para as manchetes, tudo devido a “uma piada polémica”.
Enquanto ironizava sobre a perigosidade de Baltimore, recordou um episódio na cidade, onde foi atendido num restaurante por uma funcionária com um olho negro. “Acharam que devia estar a atender os clientes com aquela cara? Não deveria estar na cozinha?”, atirou, antes de fechar o segmento. “Bem, se soubesse cozinhar, talvez não tivesse ficado com o olho negro.”
As primeiras críticas não tardaram e geraram uma avalanche de comentários no Instagram do comediante, que acabaria por responder. “Se alguma vez se sentiram ofendidos por uma piada minha, aqui está o link para o meu pedido de desculpas oficial.” A ligação levava os leitores até um site que vende capacetes para pessoas com necessidades especiais. Ou seja, a resposta inflamou ainda mais os ânimos.
Em março, durante um espetáculo, voltaria ao tema após algumas piadas sobre a comunidade trans. “O que vai acontecer? Vou ser cancelado?”, questionou. “Sabem que isso não é um castigo real. Nunca acontece nada. Prisão, isso é que é um castigo.”
E tinha razão. Um mês antes, mesmo após toda a controvérsia, a Netflix ofereceu a Rife um novo contrato que garantia mais dois especiais e uma sitcom. Esta terça-feira, 13 de agosto, chega à plataforma o primeiro, “Lucid”, que tem um conceito particular. Rife promete, durante uma hora, fazer apenas “crowd work”, isto é, entrar num jogo de resposta e contra-resposta com os membros da plateia.
“Os críticos dizem que isto é fácil. Parece-vos fácil?”, atira Rife do palco no trailer que antecedeu a estreia do especial da Netflix.
Tudo isto foi um volte-face gigante na vida de Rife, que passou quase uma década nos circuitos menores a receber pouco mais de 150€ por trabalho. Acontece que tudo mudou graças a um vídeo de dois minutos que decidiu partilhar no TikTok. “Em apenas dois ou três dias, acumulou 20 milhões de visualizações. Criou uma enorme reação em cadeia. A partir daí, todos os vídeos que publicava tornavam-se virais”, contou ao “The New York Times” em 2023. O bate-boca com a plateia foi precisamente o que tornou famoso e é a este formato que regressa no novo especial.
No tal vídeo que o catapultou para a fama interpela uma mulher que explicava que tinha terminado com o namorado porque “não fazia nada” em casa. A certa altura, Rife percebe que o homem trabalhava nas urgências de um hospital. “Desculpa, mas… tu acabaste uma relação com um herói?!” Em pouco tempo, Rife corria o mundo com uma digressão com mais de 200 espetáculos, todos esgotados em 48 horas.
Antes de brilhar nos palcos, o comediante chegou a fazer várias aparições nas revistas cor de rosa, quase sempre identificado como o “toy boy” da atriz britânica Kate Beckinsale, com quem manteve um romance de um ano, apesar dos 23 anos que os separam.
Nas plateias, as mulheres acumulam-se: constituem a maioria da sua base de fãs, atraídas tanto pela comédia como pelos atributos físicos. Durante as apresentações de stand up de Rife é comum ouvir dezenas de piropos e propostas vindas da plateia. “Os espetáculos em clubes têm mais de Magic Mike do que de Comedy Central”, salienta o “The New York Times”.
Rife não se esquiva aos temas potencialmente polémicos. O humor mais cáustico incide sobre tudo, de pedofilia a violência doméstica. Mas a atitude de indiferença perante a controvérsia tem também origem nos conselhos de um dos seus ídolos, Dave Chapelle. “Disse-me que era importante manter-me fiel a mim próprio e ignorar os padrões da indústria”, revela.
Talvez por isso não se importe minimamente de atear fogos por onde passa, redes sociais incluídas. No final de 2023, um clipe de um especial onde gozava com quem acreditava em astrologia deu origem a mais uma polémica. Uma influencer partilhou um vídeo do filho de seis anos a corrigir uma imprecisão de Rife — que era Saturno que tinha anéis, e não Júpiter —, e onde terminou a afirmar que o comediante era “mau para as raparigas”.
Rife, ao seu estilo habitual, não deixou o comentário pendurado e ofereceu uma resposta no Instagram da influencer. “Júpiter também tem um anel. Ah, e o Pai Natal não existe”, atirou. “E a tua mãe compra os teus presentes com o dinheiro que faz no OnlyFans. Boa sorte.” A mensagem acabaria por ser apagada, não sem antes dar origem a mais uma avalanche de críticas.
E embora o humorista deva a carreira (e alguns problemas) às plataformas, elas são tudo menos um sítio onde queira estar. “Tentam cancelar-me três vezes por semana. [As redes sociais] são um lixo.”