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Portuguese Pedro: a mítica figura que mantém o rock n’ roll vivo em Coimbra

O músico acerta a agulha ao rock n’ roll que ainda faz vibrar muitos na cidade.
Portuguese Pedro leva-os até às raízes do rock n' roll.

Coimbra nem sempre vive de fado. O rock n’ roll também tem o seu palco, com Pedro Serra a.k.a Portuguese Pedro a provar que este estilo musical apesar de ser retro, não está fora de moda. Através da sua música, leva-nos numa viagem por sonoridades que nos fazem bater o pé.

O percurso profissional do músico e empresário, de 46 anos, começou nos revolucionários anos 90, que impulsionaram um revival do rock n’ roll e do rockabilly. “Foi uma altura onde se ‘bebia’ a cultura dos anos 70 e 80 da Inglaterra”, revela. Pedro adianta também que consumia esses ritmos e batidas na noite de Coimbra, como por exemplo, na já extinta discoteca States.

Numa fusão do country com o rockabilly, o artista é uma referência a nível mundial. Deu o pontapé de saída na música com os Garbage Catz, anos 90, na mesma altura dos Tédio Boys, banda que transformou a cidade de Coimbra e a cultura pop portuguesa. Depois, formou o projeto, Ruby Ann and the Bopping Boozers, onde compunha e tocava guitarra. Ao longo da sua carreira, foi para a estrada com várias bandas internacionais, como os Tiguana Bibles e os amigos Carl & the Rhythm All-Stars.

O salto para a carreira a solo

Pedro Serra licenciou-se em Engenharia Civil e trabalhou na área durante vários anos. Com o eclodir da crise civil abandonou a profissão e decidiu criar o seu projeto a solo, Portuguese Pedro. Além de tocar guitarra, que aprendeu sozinho aos 15 anos com a ajuda de cassetes VHS, também canta, sendo que, no início, achava que não tinha voz para fazê-lo. No entanto, a sua perspetiva mudou quando Cátia Melo, a sua mulher, o convenceu do contrário. “Foi ela a grande impulsionadora. Gostava do que estava a fazer e achava que a minha voz não era assim tão má, visto que os artistas que amo de música country também têm a voz anasalada”. 

Depois de compor, acabou por gravar ainda sem banda o primeiro disco de 45 rotações, que tem duas músicas. Devido ao feedback positivo de amigos e colegas de profissão decidiu levar a sua arte mais além. “Enviei as músicas para várias editoras e a Migrane Records, editora alemã, adorou o disco e acabou por editá-lo.” Assim que foi lançado, alcançou o sucesso — até nas pistas das discotecas.

A paixão pela rádio

O músico é uma “caixinha de surpresas” e multifacetado em vários níveis. Quando estava a estudar na universidade, a paixão pela rádio e por comunicar com quem está do outro lado levaram-no a criar o primeiro programa de rádio em Portugal inteiramente dedicado à estética musical dos anos 40 e 50, transmitido na Rádio Universitária de Coimbra (RUC), e que esteve no ar quase 15 anos.

E é da rádio que vem o peculiar nome Portuguese Pedro. “O José Braga, formador na rádio, professor universitário e colecionador monstruoso de discos, quando passava por mim perguntava-me se tinha um disco do [cantor] Portuguese Joe.” Quando terminou a formação na rádio e surgiu a ideia de ter um programa soube logo que nome dar: ‘Portuguese Pedro Radio Show’. A forma efusiva como falava com os ouvintes diferenciava-o dos restantes locutores, inspirada nos programas de rádio dos anos 50, como o ‘Red Hot and Blue’. “Era uma hora que eu tirava para mim para fazer o que mais gostava.”

Portuguese Pedro é um devoto assumido do vinil. “Pôr a agulha e ouvir todas as frequências que o disco tem, tenho a certeza que o Mp3 não consegue fazer isso.” De canção em canção, deixa-se levar pela sonoridade envolvente de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. No entanto, afirma que não é o estereótipo do rockabilly.

A sua grande paixão é o country, género musical que tem origem nos Estados Unidos da América e que tem no seu reportório baladas e melodias de dança, acompanhadas por instrumentos de corda. “O fulcral deste estilo é a alma e a dedicação. Toca-se todos os dias, a toda a hora e isso sente-se. A música country é o que me faz vibrar.”

Um apreciador de cerveja

Além de ser proprietário de vários estabelecimentos espalhados pela cidade, como a concept store Coola Boola CoLAB, que nos convida a entrar no seu mundo do rock n’ roll, Pedro Serra é um apreciador de cerveja, tendo até uma com o seu nome. A cerveja Portuguese Pedro, feita na Praxis, pode ser degustada no Académico e no Coola Boola CoLAB. Tem um sabor cítrico, com um amargo de boca. Às vezes, é surpreendido com mensagens de amigos que dizem: “estou a beber a tua cerveja no bar da torre da Serra da Estrela, no pico mais alto de Portugal.”

A agenda do músico para 2023 vai estar preenchida. Em fevereiro, vai voltar a Málaga para dar um espetáculo no festival Rockin’ Race Jamboree que está esgotado. “A cidade vira-se toda para o rock n’ roll. Há pessoas que vão de todo o mundo.” As novidades não se ficam por aqui. Portuguese Pedro adianta que vai lançar um novo disco, que foi gravado durante a pandemia, sobre o qual revela que: “foi tempo para voltar às raízes.”

Pedro é um verdadeiro sonhador. Apesar de já ter realizado vários sonhos, há um que ainda lhe falta realizar e que, segundo o músico, vai ser concretizado em breve: viajar à América e percorrer os locais que marcaram a história do rock n’ roll, do rockabilly e do country. “Vou andar com a lágrima no canto do olho e com arrepio na espinha”, conclui.

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