No final da década de 60 do século XX, uma peça de teatro conseguiu escapar parcialmente à censura do Estado Novo e chegou a ser apresentada em quatro cidades. Corria o ano de 1969 e, em Ovar, Coimbra, Aveiro e Castelo Branco, atores subiram ao palco para representar “A Ilha dos Escravos”, uma obra do dramaturgo francês Pierre de Marivaux que aborda a inversão de papéis entre escravos e seus senhores.
Embora a peça tivesse sido inicialmente aprovada pela censura do regime, após algumas exibições, foi proibida de continuar a ser apresentada. A interação entre as personagens evidenciava “as desigualdades que os homens permitem que reinem entre eles”, relações de poder e, de forma disfarçada, continha uma crítica profunda à repressão política e à ausência de liberdade.
A narrativa inicia-se com um naufrágio que leva tanto serviçais como senhores a uma ilha na Grécia Antiga, que se transforma num refúgio para os escravos que aspiram à liberdade. A única regra que deve ser respeitada é que todos os patrões que pisem aquele solo devem ser eliminados, garantindo assim a proteção dos restantes.
Contudo, os tempos tornam-se mais favoráveis e passa a ser possível o perdão aos antigos senhores, desde que ocorra uma troca temporária dos papéis, permitindo a liberdade dos demais.
Decorridos mais de 50 anos, a peça regressa aos palcos, precisamente no Dia Mundial do Teatro. A estreia está marcada para 27 de março, às 21h30, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), da Universidade de Coimbra. Os bilhetes custam 5€ e estão disponíveis online.