No meio da azáfama do trabalho, Lee Na-Mi, uma jovem sul-coreana, acaba por se esquecer do telemóvel no autocarro. Dado quase como perdido, tenta ainda num último recurso ligar para o aparelho. Surpreendentemente, alguém atende. Do outro lado da linha, um homem diz lhe que poderá recuperar o telemóvel numa loja de reparação.
Na-Mi recupera o telemóvel, mas tudo parece começar a correr mal nos meses seguintes. Subitamente, vê documentos confidenciais da sua empresa serem revelados. Toda a responsabilidade apontava para si — e acaba por ser demitida.
Numa sucessão de acontecimentos improváveis, Na-Mi vê-se cada vez mais isolada do mundo, até perceber que, durante todo esse tempo, alguém se tinha infiltrado no seu smartphone e, 24 sobre 24 horas, monitorizava tudo o que ela fazia: as chamadas, as mensagens trocadas, até a câmara era usada para a observar a todo o tempo.
O thriller é uma das novas adições sul-coreanas ao catálogo da Netflix e tem-se revelado mais um sucesso da aposta da plataforma nos conteúdos do país asiático. E o conceito parece estar a dar origem a surtos de paranoia em quem assiste ao filme.
A possibilidade remota de haver alguém que tenha capacidade de observar e monitorizar tudo o que fazemos no aparelho que, basicamente, usamos no dia a dia é verdadeiramente assustadora. E foi com base nessa ideia, originalmente usada na produção japonesa “Stolen Identity” — “Identidade Roubada” —, que “Desbloqueado” nasceu, como uma nova versão da história de Akira Teshigawara.
O papel principal é entregue a Woo-hee Chun e ao jovem Si-wan Yim (Oh Jun Yeong). Como seria de esperar, a maioria dos nomes no elenco são desconhecidos dos públicos ocidentais. Mas isso não tem impedido o filme de deixar uma forte impressão em quem o vê.
Entre desejos de “atirar o telemóvel ao mar” e apelos a que “todos vejam”, parece ser opinião unânime de que há cada vez mais uma preocupação com os dados e o acesso a que damos aos nossos telemóveis — e que de forma simples podem cair nas mãos erradas. E, neste caso, as mãos erradas são as de um potencial assassino em série. Um mistério que vai sendo desvendado ao longo das quase duas horas da produção que chegou à Netflix em fevereiro.
“Desbloqueado deveria ter sido lançado nos cinemas, mas a opção acabou por recair na plataforma da Netflix, isto depois de em 2018, a versão original “Stolen Identity” ter feito um sucesso estrondoso nos cinemas japoneses. O filme chegou mesmo ao top dos mais vistos em inúmeros países, incluindo Portugal.
A produção terá convencido mais o público do que propriamente a crítica especializada. No agregador de avaliações Rotten Tomatoes, “Desbloqueado” exibe um 71 por cento de nota entre críticos, que destacam a capacidade de “fazer os telespectadores pensarem duas vezes antes de deixarem o seu telemóvel longe da sua vista”.
Com uma pontuação mais robusta de 88 por cento entre a audiência, parece ser opinião unânime de que se trata de um thriller criminal com nervo e com mistério de sobra, embora lhe seja apontado o facto de pouco ou nada trazer de novo ao género. O facto de tirar partido de uma situação comum e plausível torna tudo ainda real — e, por conseguinte, mais assustador.
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