A aldeia de Piódão está situada na Serra do Açor. É conhecida pelas paisagens instagramáveis e pelas tradicionais casas de xisto que apaixonam qualquer um, como foi o caso do escritor Miguel Torga. Agora, mais recentemente, foi a vez de o autor e ator Lourenço Seruya, de 31 anos, se inspirar neste recanto do País.
“Crime na Aldeia” é o nome da quarta obra do lisboeta, juntando-se aos livros “A mão que mata”, “A maldição” e “Crime na Quinta das Lágrimas”. A história desenvolve-se a partir de um duvidoso acidente de viação, sendo que a vítima é um dos habitantes da aldeia de Piódão. Inicialmente, tudo parece ser um despiste acidental. No entanto, após a peritagem, descobre-se que alguém cortou o tubo de óleo dos travões do carro. A partir daí, apenas uma questão se impõe: afinal, quem é o culpado do crime?
Para descobrir toda a verdade, basta ler a obra. “Crime na Aldeia” está disponível nas livrarias portuguesas, desde o dia 18 de abril, e pode aproveitar um desconto de dez por cento. Antes custava 18,50€ e, agora, está por 16,65€.
A propósito do lançamento do livro, a New in Coimbra conversou com o escritor Lourenço Seruya para percebermos quais são as suas inspirações, como nasceu o amor pela escrita e o que podemos esperar para o futuro.
Leia a entrevista na integra que o autor deu à New in Coimbra.
Como é que surgiu a escrita na sua vida?
Na verdade, foi o desemprego que me tornou escritor. Tinha terminado o curso de Teatro e mantive-me sempre a trabalhar na área durante dois anos. Passei por imensos palcos e também televisão. De repente, aos 25 anos, pela primeira vez vi-me sem trabalho. Numa primeira fase, ainda era chamado para castings e mantinha-me ativo. Como pode imaginar, a minha autoestima não estava maravilhosa, mas como ainda não tinha renda para pagar, nem responsabilidades desse género, decidi experimentar escrever o primeiro livro. Já era uma paixão antiga e veio muito antes do teatro até. Assim que aprendi que os livros não caem do céu, sempre sonhei em criar a minha própria obra e narrativa. Não disse nada a ninguém e, depois de nove meses, tinha o primeiro projeto concluído. Foi muito importante e uma validação tremenda. Mesmo que não fosse um grande livro, era algo que tinha conseguido escrever sozinho do início ao fim.
Como foi a transição dos palcos para a escrita?
Quando terminei o secundário, decidi que queria estudar Comunicação e tornar-me jornalista. Ainda um pouco sem saber porquê, mas queria entrar na imprensa e já tinha vontade de tornar a escrita na minha área profissional. Ao fim de um ano, não gostei do curso. Como também tinha aquele bichinho pelo palco, saí de Comunicação para o teatro, aos 19 anos. Comecei a estudar, a aprender as técnicas e a trabalhar. Terminei aos 22 anos e todos os projetos começaram a surgir naturalmente. Paralelamente, também comecei a dar aulas de teatro. Por isso, são duas das coisas que continuam muito presentes na minha vida. Hoje em dia, acabo por me desdobrar entre a escrita, dar aulas e ainda integro uma empresa de team building teatrais. Mesmo que não seja ator até ao fim da minha vida, essa experiência na representação trouxe-me valências para todas as áreas em que trabalho. Ao contrário do que muitos podem achar, não foi uma perda de tempo.
Todos os livros seguem a temática de investigação de homicídios. O que é que mais o fascina nos crimes?
O ponto de partida é sempre um crime. Para mim, a decisão foi muito rápida, quase automática e a razão é simples: são os livros que mais gosto de ler. Além disso, sempre me interessei pelo processo criativo de um escritor. Procurei muitas entrevistas de escritores policiais, com o objetivo de ganhar as minhas próprias ferramentas de investigação. Nunca ouvi um escritor dizer que escreve um livro que não gostasse de ler. Aliás, tem de se gostar muito de um género para se escrever sobre ele.

Quando está a preparar um livro, qual é a primeira decisão que toma?
Para mim, é importante definir o local e o espaço da história, quem é a vitima, quem é o assassino e a motivação. No entanto, nunca são crimes reais, é tudo fruto da minha imaginação. Ainda assim, preciso de criar uma história credível e com motivos que podem ser reais, para não parecer descabida. Não escrevo livros sobre serial killers, porque acho mais interessante desconstruir pessoas comuns em que o assassino pode ser qualquer um de nós. Acredito que todos nós temos essa predisposição para matar, quando somos levados a condições extremas, e é isso que tento transmitir em todos os livros. O leitor acaba por estar no lugar do detetive, o que cria suspense até ao fim.
Como disse, o mais importante é o local. Dois deles são em Coimbra, o que esteve por detrás dessa escolha?
Para o primeiro livro, “A mão que mata”, queria situar a ação em Lisboa, uma vez que é a cidade que conheço melhor. Sempre tive um grande fascínio por Sintra, pelo seu misticismo e encanto que é muito difícil descrever por palavras. O segundo, “A maldição”, também foi num local que conheço muito bem, um teatro. Depois de terminar esse livro, apercebi-me que deixei em aberto a hipótese de tirar a ação de Lisboa e seguir para outro ponto do País. A minha mente foi automaticamente para Coimbra, mais especificamente, a Quinta das Lágrimas. É um espaço com muita história associada, além de toda a tragédia. Foi nesse momento, que tomei a decisão de ter um novo cenário em cada livro. O primeiro foi, efetivamente, a Quinta das Lágrimas Adorava visitá-la em miúdo, mas agora teria de regressar para ver tudo com outros olhos. Falei com os responsáveis pelo hotel e a associação Inês de Castro, para pedir uma autorização informal para utilizar o espaço no livro e ficaram encantados com o projeto. Diverti-me muito. Até agora, foi o livro mais bem sucedido, sem dúvida.
Depois da Quinta das Lágrimas, quis continuar pelo distrito de Coimbra. Porquê?
Assim que terminei o terceiro livro, sabia que queria continuar por Coimbra. Foi uma decisão muito curiosa porque nunca tinha estado em Piódão. Só conhecia através de fotografias e vídeos nas redes sociais e achei deslumbrante o contraste entre a montanha com as casas de xisto. Escolhi-o por ser um sítio bonito e também porque queria explorar a problemática do isolamento do interior e mostrar como os acontecimentos têm um maior impacto numa pequena aldeia do que numa cidade. Outro dos grandes objetivos é dar a conhecer aos leitores locais incríveis, em Portugal. Quando lá estive, passei por diversos espaços e decidi que iriam fazer de cenário para as cenas: uns por serem locais de convívio e outros pela beleza. Tudo serve de inspiração. Procuro ser um espelho da realidade, mas não um livro histórico e documental de Piódão. Deixo sempre espaço para a imaginação e faço questão de salientar que os sítios são reais, mas as situações e personagens não.
A rotina de cada escritor é um elemento pessoal e que tem influência no resultado final. O que fez mais diferença para si, no caso deste livro?
O segredo é, sem dúvida, a autodisciplina. É um trabalho como os outros, há dias difíceis em que não me apetece escrever e, por isso, é preciso ter muita disciplina. Acaba por ser um processo muito solitário e o que funciona melhor para mim, é tentar cumprir os horários específicos que reservo para escrever e obrigar-me a estar ali. No máximo, só permito pausas de dois dias sem tocar no livro, porque sinto que se deixar muito mais tempo, perco o fio à meada. Relativamente à inspiração, não preciso de grande esforço para ter ideias. Sou naturalmente criativo, mas é claro que não posso escrever apenas quando estou inspirado. Existe muito aquela ideia enraizada de que os escritores estão sempre inspirados, basta ouvir o cantar dos passarinhos, mas não é bem assim.
O que é que os leitores podem esperar do novo livro “Crime na Aldeia”?
É o mais ambicioso e onde arrisquei mais. Apesar de todos os livros abordarem o homicídio, neste caso concreto, trato de temas mais sensíveis. É uma história muito crua e cruel. O processo demorou mais tempo, cerca de um ano e meio, precisamente porque há muitos assuntos que precisam de muito mais cuidado, do que nos livros anteriores. Quando escrevi, já sabia que motivos queria e o feedback que tenho tido é que os leitores ficaram emocionados com o final. Principalmente neste livro, queria deixar claro que não existe o estereótipo de pessoas más e boas. Há uma maior aproximação com pessoas reais e uma certa humanização das personagens. Tal como na vida real, os leitores podem adorar uma personagem e sentir que está a agir corretamente, como depois reprovar as suas ações no momento seguinte. Até mesmo os vilões e assassinos, podem ter boas ações e comportamentos que os leitores vão gostar.