“Voz dos Avós da Nascente até à Foz” é um projeto que junta a arte ao envelhecimento ativo. Promovido pelo grupo “Encerrado para Obras”, tem como objetivo recolher histórias que liguem o rio Ceira à vivência da população sénior que ainda habita nas aldeias espalhadas por sete concelhos do distrito de Coimbra.
Garantido o financiamento por parte de uma candidatura feita à Direção-Geral das Artes e o apoio financeiro e logístico de seis municípios (Arganil, Pampilhosa da Serra, Góis, Lousã, Vila Nova de Poiares e Miranda do Corvo) e da Junta de Freguesia de Ceira (Coimbra), a equipa arrancou com o projeto em setembro de 2022. Durante alguns meses, e como recordou à New in Coimbra o cantautor e diretor artístico David Cruz, “ouvimos mais de 1 200 pessoas em seis dezenas de sessões de trabalho”.
A “viagem” durou alguns meses e levou a equipa do grupo “Encerrado para Obras” até 26 localidades situadas entre a nascente do rio, que fica na Malhada Chã (Arganil), e a sua foz, na freguesia de Ceira (mesmo às portas de Coimbra). “Queríamos muito lutar contra a desertificação deste território porque há aqui um valor económico que não é de desprezar”, referiu David Cruz.
Ao longo destes meses, o diretor artístico do projeto reconheceu que as principais dificuldades na recolha das histórias residiu no facto de terem encontrado diversas realidades ao longo do território. Se, em alguns casos, o contacto com as pessoas foi feito de forma direta, pois ainda moravam nas suas habitações, noutros casos tiveram de recorrer a instituições de solidariedade social que acolhem estes séniores.
A timidez inicial foi outro dos obstáculos que a equipa enfrentou, mas aos poucos foram ganhando confiança com estas pessoas e, dessa forma, conseguiram obter o que pretendiam. “Houve locais onde houve necessidade de fazer mais do que duas sessões de trabalho para ajudar a quebrar o gelo inicial”, lembrou.
O resultado de todo este trabalho está agora reunido num disco com 12 temas originais, intitulado “Memórias de Água Doce”. David Cruz e João Francisco são os cantautores destas histórias que representam “um retrato de vida dos nossos antepassados”. As brincadeiras e os namoricos no rio, nas fontes e nos bailes; o universo dos trabalhos da terra; o inteligente aproveitamento dos escassos recursos existentes no território, as desgraças no rio tais como os afogamentos, as cheias e as secas ou o ciclo da água e do pão são alguns dos temas retratados neste disco.
Fundamentais foram também os cerca de 80 seniores de sete concelhos parceiros que participaram de forma mais ativa, integrando os coros das canções na obra fonográfica. Alguns destes cantores vão participar nos concertos de apresentação do trabalho que irão ter lugar durante os meses de agosto e setembro neste território.
O primeiro espetáculo tem lugar no dia 11 de agosto, pelas 21h30, na Praça Simões Dias em Arganil. Depois, é a vez do Edifício Fajão Cultura na Pampilhosa da Serra (19 de agosto, pelas 16h30), a Casa da Cultura de Góis (26 de agosto, pelas 21h30), o Centro Cultural de Vila Nova de Poiares (2 de setembro, 15h30), o Parque Carlos Reis na Lousã (9 de setembro, 21h30), a Casa das Artes de Miranda do Corvo (13 de setembro, 16 horas) e termina no Centro Popular de Trabalhadores do Sobral de Ceira (23 de setembro, 21h30).
Duas exposições e um vídeo
Em paralelo com os concertos, está prevista a realização de uma exposição de pintura por parte dos utentes da Associação Nacional de Apoio ao Idoso (ANAI) e uma exposição de fotografia da autoria de Cláudia Santos e um filme de apresentação do território realizado pelo videasta Pedro Homem. “Contrariando a fragmentação social, a efemeridade, o imediatismo e o egocentrismo que caracterizam os nossos dias, neste projeto procuramos estabelecer uma ponte entre passado, presente e futuro, bebendo das memórias do povo a inspiração para juntos construirmos, através da Arte, a nossa identidade”, refere David Cruz.