O nome soa sempre mais cool em inglês, mas nem todos adoram o entoar deste rótulo, sobretudo nas mansões de Hollywood. O termo “nepo babies” explodiu em 2022 e culminou na controversa capa da mais recente edição da “New York Magazine”, que explora as ramificações do nepotismo no mundo da televisão e do cinema.
Com uma boa dose de ironia e de humor, questiona-se a tese da meritocracia e do privilégio que cada um destes jovens atores teve no momento de agarrar os papéis de protagonista. Os alvos foram naturalmente os filhos dos famosos e poderosos que, por estes dias, estão um pouco por todo o lado nos ecrãs.
De Maya Hawke a Lily-Rose Depp, de Jack Quaid a Lily Collins, os apelidos quase sempre os denunciam, mas em muitos dos casos, os jovens atores chegaram a esconder a sua linhagem. Há até quem seja surpreendido, mesmo com o nome de família escarrapachado no elenco.
A edição da revista, intitulada “O Ano do Nepo Baby”, é particularmente crítica do destaque dado a estes jovens atores. “São a prova física de que a meritocracia é uma mentira (…) Amamo-los, odiamo-los, desrespeitamo-los, estamos obcecados com eles”, pode ler-se na peça do jornalista Nate Jones. “Tenta e, se à primeira não conseguires, lembra-te que continuas a ser filho de uma celebridade, por isso tenta, tenta novamente”, critica.
Alguns destes novos e famosos atores não têm um pai famoso, mas sim dois. É o caso de Maya Hawke, uma das novas estrelas destacadas e apontadas como exemplos desta nova onda de “nepo babies”. Filha das super estrelas Uma Thurman e Ethan Hawke, a atriz de 24 anos é uma das estrelas do fenómeno “Stranger Things” mas conta também com aparições em filmes consagrados como a última obra de Quentin Tarantino, “Era Uma Vez…em Hollywod”.
Além de atriz, já participou em várias sessões fotográficas para a revista “Vogue” e para a marca Calvin Klein. É também uma cantora e música talentosa. Tem dois discos editados, um deles lançado em 2022, “Moss”, onde protagonizou um videoclipe arriscado.
Quase todos os atores que carregam o fardo — e o privilégio — da fama dos pais tiveram já que responder sobre isso nas diversas entrevistas. Hawke não foi exceção e admitiu que ser filha de quem é “trouxe enormes vantagens” na sua vida.
“Sinto que a única forma de lidar com essa coisa do nepotismo — quem sem dúvida traz enormes benefícios — é perceber que iremos ser oferecidas várias oportunidades, mas que elas não serão infinitas”, disse à “Rolling Stone”. “Por isso tens que te esforçar continuamente e fazer um bom trabalho. Se fizerem um mau trabalho, as oportunidades irão acabar. Esse é o meu ethos.”
Perante as críticas, Hawke prefere fugir à discussão e “evitar tanto quem critica como quem elogia”. “Adoro o conselho que uma vez me deram: se leres as boas críticas, elas são parcialmente verdade; e se leres as más, também são parcialmente verdade”, notou. “Tu não és a dádiva de Deus à humanidade, mas também não és um pedaço de lixo. Não és nenhum e és ambos.”
Também fruto de uma relação entre duas super estrelas, aos 30 anos, Jack Quaid é uma das grandes novas caras da televisão, sobretudo graças ao papel de protagonista na série “The Boys”. Filho da relação entre Dennis Quaid e Meg Ryan, o ator chegou mesmo a ponderar esconder qualquer um dos apelidos que o pudesse denunciar.
“Não queria chegar-me à frente dessa forma. Queria ser o melhor ator possível e continuo todos os dias a aprender. Sinto que não vale a pena fazê-lo se não te esforças ou se ficas à espera que tudo te seja oferecido, porque tens realmente de te matar a trabalhar para seres bom no que fazes”, explicou.
“Sabia que as pessoas iam constantemente dizer ‘Oh, sei bem como é que ele conseguiu aquele trabalho’, e ainda assim vão continuar a dizê-lo. Tudo bem, desde que eu saiba como é que eu cheguei lá, isso para mim é suficiente”, revelou à “Thrillist”.
Quando assumiu que queria ser ator, o pai deu-lhe a possibilidade de usar o seu agente, algo que Jack recusou. Acabou por não ocultar o nome e fez sucesso numa das suas primeira audições, depois de a diretora de casting ter ficado chocada com o facto de ele “ser mesmo bom”.
“[A diretora de casting] estava à espera que eu fosse mais um caso de nepotismo. Um miúdo com pais famosos que marcaria audição, iria para lá a presumir que o papel seria seu e que seria um perfeito idiota”, contou.
Assume-se uma “pessoa ansiosa” e que desde o início da carreira que se questionava. “Duvidava sempre se as pessoas gostavam de mim. ‘Será que gostam? Será que pensam que estou apenas a aproveitar-me da fama dos meus pais?’. Ultimamente tenho feito um esforço para não me focar nisso e aceitá-lo como um facto.”
Fruto de outro power couple, Lily-Rose Depp é mais um dos nomes que têm feito sucesso em 2022. Aos 23 anos, a atriz que é filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis tem a grande oportunidade no ecrã em “The Idol”, a série onde será protagonista ao lado de The Weeknd.
A carreira começou sobretudo ao lado do pai e da mãe e nas suas produções, de “Tusk” a “Yoga Hosers”, ainda em criança. Apesar de se manter maioritariamente em silêncio, sobretudo depois dos escândalos públicos do pai, Lily-Rose não escapou às acusações de nepotismo.
“A Internet interessa-se mais com quem é a tua família do que propriamente as pessoas que te escolhem para os papéis”, explicou numa entrevista à “Elle”. “[Ser filha de famosos] talvez te permita estar na sala, mas ainda assim, não conseguiste nada. Há muito trabalho que vem depois disso.”
E acrescentou: “É estranho que reduzam alguém à ideia de que só está onde está por uma questão geracional. Para mim não faz qualquer sentido.”
Outra jovem atriz que tem agarrado este rótulo é Maude Apatow, cujo papel mais conhecido é o de Lexi Howard, na bem-sucedida série da HBO “Euphoria”. Maude é filha do produtor e realizador Judd Apatow, mas também da atriz Leslie Mann, uma ligação que, por muito tempo, a entristeceu.
“Tento não deixar que isso me afete”, fala sobre a tendência a julgar que os filhos de famosos o são apenas devido ao nome e não ao talento. “Obviamente que percebo que estou numa posição privilegiada. Muitas pessoas em situações semelhantes provaram que eram boas ao longo dos anos e é isso que quero fazer, continuar a trabalhar e a trabalhar bem”, revelou numa entrevista.
“Ainda estou no início da minha carreira, tenho pouco para mostrar, mas espero que um dia possa dizer que tenho orgulho de tudo o que fiz por mim própria”, notou, antes de apontar para os conselhos dados pelo pai.
“Ele sempre me disse que ser atriz é difícil porque nunca sabes o que vem a seguir. Sempre me encorajou a escrever”, diz. “Podes gravar um filme e esperar que funcione, mas nunca sabes como é que ele vai ser editado. Não ter qualquer tipo de controlo é assustador, por isso tento também fazer outras coisas.”
Maude, ao contrário de outros filhos de famosos, não se importa que os pais estejam envolvidos na sua carreira. “O meu pai lê sempre aquilo que eu escrevo. Espero quase sempre que tenha tudo terminado para lhe pedir conselhos. Por vezes é horrível porque ele surge sempre com uma ideia melhor do que a minha, mas ajuda-me imenso, tal como a minha mãe.”
Um pouco mais velha, mas ainda perfeitamente capaz de encaixar neste grupo de bebés do nepotismo, Zoe Kravitz é um nome incontornável. Filha da atriz Lisa Bonet e da super estrela da música Lenny Kravitz, tem vivido uma carreira de altos e baixos, mas nos últimos dois anos evidenciou-se como protagonista do remake de “Alta Fidelidade” — que tinha a sua mãe no elenco original — e como Catwoman.
“É perfeitamente normal que entremos no negócio da família”, justificou numa entrevista à “GQ”, apesar de admitir ter sofrido de uma “profunda insegurança” no arranque da carreira. Diz que está orgulhosa de seguir as passadas dos pais mas também do avô, o ator Roxie Roker. “Aliás, foi das profissões que originaram os apelidos. Se fosses um ferreiro, a tua família era Ferreira”, justifica a atriz de 34 anos.
A nova onda de bebés de famosos prossegue com nomes como John David Washington, o filho de Denzel Washington que aos 38 anos vive também anos de sucesso, primeiro com o papel em “BlacKkKlansman”, depois com o papel principal em “Tenet”, de Christopher Nolan, “Malcolm & Marie”, de Barry Levinson, e mais recentemente “Amesterdão”, de David O. Russell.
Apesar de hoje ostentar com orgulho o apelido do pai, nem sempre foi assim. Chegou mesmo a esconder o nome de família durante as primeiras audições.
“Eu sou familiar do Denzel Washington, por isso sei como as pessoas mudavam o comportamento quando descobriam quem era o meu pai”, conta. “Tendia a mentir, dizia que o meu pai trabalhava na construção civil ou que estava preso, apenas para conseguir ter algum ar de normalidade.”
Washington sentia-se preso com a bagagem familiar. “Achava que não me levavam a sério, mesmo que eu fosse bom. Acabavam sempre por me julgar, por isso naturalmente escondia a identidade do meu pai. Acho que me estava a proteger a mim próprio.”
Ainda tentou ensaiar uma carreira no futebol americano, mas uma lesão levou-o a procurar outra carreira. Perante a mudança, o pai tinha um valioso conselho para lhe dar: “Não há qualquer garantia de que vais conseguir, mas se falhares, podes ter a garantia de que não irás ter sucesso.”
Lily Collins é mais um caso paradigmático, ela que é filha do icónico músico britânico Phil Collins. Aos 33 anos, não é propriamente uma novata no mundo da televisão e do cinema, mas foi com o papel de protagonista em “Emily in Paris”, o mega sucesso da Netflix”, que finalmente se revelou.
Collins afirma que nunca teve problemas em esperar pela fama, mesmo que isso demorasse. O que não queria era usar o nome do pai para saltar etapas.
“Estava completamente fora de questão deixar que as pessoas achassem que eu gozei de um livre-passe graças ao nome do meu pai. Tenho muito orgulho nele, mas queria ser eu própria e não a filha dele. Por isso mesmo não me importei de esperar pela minha grande oportunidade”, explicou à “Vogue” francesa.
Collins, tal como o pai, também adora cantar, mas preferiu traçar outro rumo. “Adoro cantar mas queria fazer outra coisa longe do meu génio paternal, preferi ser atriz”, contou.
Sem receios, admite que participou numa boa dose de audições falhadas. “Ensinou-me a focar-me mais no meu trabalho e isso permitiu-me fazer da interpretação o meu emprego. E não pretendo descansar à sombra da bananeira: o ambiente é muito competitivo.”
A verdade é que nenhum destes casos é, individual ou coletivamente, uma prova irrefutável de nepotismo em Hollywood. Ou melhor, não reflete nada que não aconteça há décadas nos bastidores das produções.
O pai de Jennifer Aniston era o ator John Aniston. O pai de Ben Stiller era o ator Jerry Stiller. Laura Dern recebeu o talento de Bruce Dern. Angelina Jolie? Filha de Jon Voight. Kate Hudson? Tinha Goldie Hawn como mãe. E os exemplos dariam para uma muito longa lista, como esta que a NiT preparou.
Carregue na galeria para conhecer estas super estrelas filhas de celebridades.