Chegado o último ano da faculdade, há toda uma tradição a ser cumprida. A caricatura faz parte desse ritual da despedida. Em Coimbra, a caricatura tem uma longa história e Luís Costa, 60 anos, faz parte dela desde 1988. É um dos caricaturistas mais requisitados, mas trabalhar com as Belas Artes não fazia parte dos seus planos quando ingressou na licenciatura de Geologia.
“Os meus colegas sabiam que tinha capacidade para o desenho quando repararam que eu sabia desenhar fósseis”, revela Luís Costa. Na altura, o célebre caricaturista Quim Reis faleceu e pediram-lhe que desenhasse as caricaturas para o curso de Geologia.
Na verdade, Luís já não tinha interesse pela licenciatura, acabando por abandonar a universidade para se dedicar à sua arte, um gosto que o acompanha desde miúdo. “Os meus pais levavam-me ao cinema e ofereciam-me banda desenhada”. Natural dos Açores, vive em Coimbra desde os 12 anos e é aqui que tem desbravando caminho como autodidata nas Belas Artes.
De ano para ano, foi conquistando a confiança dos estudantes. A paixão pela caricatura é a mesma, o que mudou foi o traço e a técnica. “Tive que evoluir ao nível do traço das bocas, os pequenos desenhos das características da caricatura. Deixei também de trabalhar com canetas rotring e passei a usar o pincel”, afirma. Cada caricaturista tem o seu estilo e Luís Costa diz que sempre seguiu a tradição, mas que tenta dar um twist pessoal de inovação.
A casa do artista de Belas Artes é o reflexo da sua personalidade, repleta de obras de arte, com uma espólio de banda desenhada e uma coleção de merchandising de “Star Wars” e de “Tintim”. Ao longo de 35 anos de carreira, já abriu as portas a mais de 60 mil estudantes que vêm a sua casa para serem desenhados com o máximo pormenor e sensibilidade. “Quando sento a pessoa à minha frente, chamo-lhe ‘síndrome da cadeira’ porque ela fica extremamente nervosa. No entanto, só estou atento à estrutura do seu rosto”, revela.
Com os traços do rosto terminados, Luís dedica o serão a finalizar as caricaturas com tinta da china e pincel, sempre ao som de música clássica, com o rádio ligado na Antena 2. “Gosto de trabalhar à noite porque ninguém me chateia”, confessa.
São várias as histórias que pode contar, mas há uma que bate o recorde das gargalhadas. “Um dia, estava com o auricular, atendi um telefonema e disse: “ora diga”. O estudante, que eu estava a desenhar, não percebeu que estava ao telefone e começou a repetir tudo o que dizia. Foi risota geral na sala quando os colegas se aperceberam do que é que ele estava a dizer”, recorda.
Por definição, a caricatura exagera as características da pessoa de uma forma humorística. De acordo com Luís Costa, há estudantes, em especial do sexo feminino, que não gostam do resultado final das suas caricaturas. “Acabo por dar mais importância a que fique parecida do que exagerada. Pessoalmente, gosto de exagerar. Se eu fizesse 100 por cento a vontade aos caricaturados, a caricatura já se tinha perdido e eram só retratos”, sublinha.
O desenho é a grande fonte de sustento de Luís Costa. Além das caricaturas, tem ainda tempo para a ilustração, pintura, cartoon e design gráfico. Em breve, pretende fazer uma exposição de pintura, sendo que o seu estilo nesta arte é influenciado pelo figurativismo narrativo, o pop e a sua paixão de longa data, a banda desenhada.
Quando não está a trabalhar, gosta de cultivar a sua cultura tanto no cinema, com filmes italianos, que, segundo o próprio, são os melhores, citando referências como Fellini, Visconti e Antonioni, como na ópera. Assim que pode, viaja até ao estrangeiro para se deliciar com um espetáculo. Por fim, todos os anos, vai a Angoulême, o maior festival internacional de banda desenhada, que se realiza em França. “Nunca tenho tédio”, afirma.
Desde 1974 que Coimbra é a sua casa. A cidade viu-o a tornar-se num dos nomes mais sonantes da caricatura estudantil. Com 35 anos de carreira, não pretende abrandar o ritmo e quer continuar a fazer o que mais gosta: desenhar. Assim seja feita a sua vontade.
De seguida carregue na galeria para conhecer alguns dos trabalhos do artista Luís Costa.