Simon de Waal não é apenas o argumentista de “iHostage”, o novo filme sensação da Netflix. Além do cinema, trabalha como investigador na polícia de Amesterdão — uma experiência que acabou por ser essencial para criar esta história. O acesso a informações privilegiadas sobre o caso real que inspirou a produção ajudou a construir o argumento do projeto que, neste momento, lidera o top de visualizações da plataforma em Portugal.
“Começámos a pesquisar e tivemos acesso a muitas informações privilegiadas. Percebemos como é que os agentes mantiveram contacto com os reféns e entendemos o envolvimento da Apple no caso”, explica Bobby Boermans, o realizador, à própria Netflix.
“iHostage” estreou a 18 de abril e recria um sequestro que aconteceu em 2022 numa Apple Store de Amesterdão, quando um homem armado manteve reféns durante várias horas e exigiu um resgate em criptomoedas. O filme mostra o ponto de vista do agressor, das vítimas e das forças policiais.
O ataque aconteceu a 22 de fevereiro, no centro da cidade. A loja em Leidseplein tornou-se palco de um cenário de terror quando um homem armado invadiu o espaço e exigiu 200 milhões de euros em criptomoedas. Durante cinco horas, o mundo acompanhou o caso em direto.
O sequestrador foi identificado como Abdel Rahman Akkad, de 27 anos, residente em Amesterdão, já conhecido pelas autoridades por posse de armas e ameaças. Vestido com roupa de camuflado, armado com uma pistola e uma espingarda automática, entrou na loja por volta das 17h40.
Disparou contra a polícia e ameaçou detonar explosivos que dizia ter na sua posse. Enquanto algumas pessoas conseguiram fugir ou esconder-se, manteve um homem búlgaro de 44 anos como refém, com uma arma apontada à cabeça. A certa altura, enviou uma selfie com o refém para uma redação local — uma provocação que causou impacto por toda a Europa.
Durante várias horas, a polícia cercou a zona e os negociadores tentaram prolongar a conversa. O desfecho aconteceu depois de um pedido do sequestrador: queria água. A polícia aproveitou o momento para enviar um robô com uma garrafa.
Foi nessa altura que o refém correu. Akkad tentou persegui-lo, mas quando passou pela porta da frente foi imediatamente atropelado por um carro da polícia a alta velocidade. Acabaria por morrer no hospital no dia seguinte. Os explosivos que dizia transportar nunca chegaram a ser encontrados.
Este foi o episódio real que inspirou “iHostage”, um thriller psicológico neerlandês que também já está entre os mais vistos a nível mundial. O filme recria o sequestro com detalhe, alterando apenas os nomes das personagens.
“Consegui falar com membros da polícia que estiveram diretamente envolvidas”, conta de Waal à plataforma. “Queria saber se concordavam com a forma como os factos foram retratados, como os acontecimentos realmente se desenrolaram, o que foi dito. Queria manter-me o mais próximo possível da verdade.”
À “People”, Boermans explicou que a motivação para fazer o filme passou pela vontade de explorar a dimensão emocional do caso. “‘iHostage’ não é apenas um filme sobre um sequestro”, sublinha. “É sobre as escolhas que fazemos em momentos de desespero, e sobre como, mesmo em situações extremas, há espaço para coragem e humanidade. Senti que este era um momento que precisava de ser contado — não para ser um espetáculo, mas como um espelho da fragilidade humana em situações extremas.”