Monsenhor Nunes Pereira foi um dos principais artistas portugueses de xilogravura na segunda metade do século XX. Natural da localidade de Mata, Pampilhosa da Serra, Nunes Pereira estudou no Seminário Maior de Coimbra e, depois de ordenado, esteve durante uma década na paróquia de Montemor-o-Velho. O jovem padre destacou-se na sede de concelho pela sua ação pastoral e por fazer renascer o talento artístico herdado do pai, que foi escultor santeiro.
Neste período, publicou na imprensa artigos e desenhos sobre a freguesia e conseguiu apoio para o restauro da Capela-Mor do Convento de Nossa Senhora dos Anjos naquela vila, onde escreveu e ilustrou uma memória descritiva. Depois, esteve na paróquia de Coja (Arganil) e em S. Bartolomeu (Coimbra), onde se aposentou em 1980. Passou a residir na Casa Paroquial, anexa à igreja, onde tinha o seu atelier, conciliando o exercício de sacerdote com um crescente interesse pelo cultivo das artes, desde a poesia à escultura, passando pelo desenho, aguarela, vitral e, sobretudo, xilogravura.
Fundador do Movimento Artístico de Coimbra (MAC), o pároco adquiriu uma habitação na Portela (Coimbra), situada numa encosta privilegiada para o Mondego onde instalou o seu atelier ao qual chamava oficina. Em 1981, a Diocese de Coimbra nomeou Nunes Pereira como membro da Comissão de Arte Sacra e Conservador do Património Artístico. Colaborou ainda no estudo de monumentos, na valorização do património arqueológico da Igreja de São Bartolomeu e investigou sobre os túmulos e o púlpito de Santa Cruz.
Desenhos artísticos a buril, água forte, ponta seca e lápis, gravuras em madeira, cobre, lousa, marfim e calhau rolado foram os materiais onde executou grande parte das suas obras que a partir desta terça-feira, 13 de junho, vão poder ser conhecidas na Oficina-Museu do Seminário Maior de Coimbra.
“Santos da Casa (não) fazem milagres — Tu és o princípio de um grande Santo” é o título da exposição temporária que pretende dar a conhecer algumas das inéditas obras do padre-artista. Na mostra, e em ligação à Jornada Mundial da Juventude 2023, serão destacados os santos patronos escolhidos pela Diocese de Coimbra: São Teotónio, Santo António, Rainha Santa Isabel e Santo Agostinho.
De modo mais permanente, poderá ser conhecida a obra maior de Monsenhor Nunes Pereira — Os Contos de Fajão — constituída por 23 quadros xilogravados da autoria de Nunes Pereira e algumas peças do escultor Rui Nóbrega, que se associou a esta iniciativa, com algumas das suas peças em escultura, alusivas à temática (São Joaquim, Santo António, São Francisco e Nossa Senhora do Ó).
A oficina-museu fica na parte baixa do edifício situado junto ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Na antiga oficina do padre-escultor, está exposta a maior coleção do artista (mais de 15 mil peças) e algumas das melhores obras. A exposição temporária pode ser visitada até ao dia 20 de janeiro de 2024.