Em 2023, quatro irmãos com idades compreendidas entre 11 meses e 13 anos desafiaram todas as expectativas ao sobreviverem durante 40 dias na vasta selva da Amazónia colombiana. Sozinhos e rodeados por predadores naturais e outras ameaças, conseguiram transformar uma tragédia num verdadeiro testemunho de resiliência e sobrevivência, uma história que paralisou e comoveu o mundo.
Este relato extraordinário é retratado no documentário “As Crianças Perdidas”, que estreou na Netflix a 14 de novembro e, desde então, escalou o top de visualizações: em Portugal ocupa o segundo lugar e, em termos globais, está em terceiro.
A plataforma de streaming descreve a produção como uma “narrativa emocionante e inspiradora sobre a luta pela sobrevivência de quatro irmãos indígenas na selva da Amazónia após um trágico acidente de avião”. O documentário “explora a resiliência das crianças, mas também celebra a força das tradições indígenas e a colaboração entre culturas durante uma missão de resgate sem precedentes”.
Foi no primeiro dia de maio de 2023 que Lesly (13 anos), Soleiny (9), Tien (4) e Cristin (11 meses) embarcaram num pequeno avião Cessna 206 com Magdalena Mucutuy, a mãe. A viagem, que partiu de uma remota aldeia em Araracuara com destino a San José del Guaviare, cidade a 400 quilómetros de Bogotá onde vivia o pai, marcava o início de uma nova fase nas suas vidas.
Contudo, o destino dos irmãos mudou tragicamente quando a aeronave sofreu uma falha mecânica e caiu na floresta. Todos os adultos a bordo, incluindo a mãe, morreram no acidente.
Apesar do choque, os miúdos conseguiram sobreviver ao impacto com alguns ferimentos. Lesly, a mais velha, apresentava um corte profundo no rosto e uma perna ferida, mas assumiu rapidamente a missão de liderar os irmãos.
Os ensinamentos da cultura Huitoto, que aprendeu com a mãe, foram fundamentais para garantir a sobrevivência. As suas competências na identificação de frutas comestíveis e plantas medicinais, bem como um vasto conhecimento sobre a selva, mostraram-se cruciais ao longo dos 40 dias de isolamento. Em determinado momento, Lesly teve de matar uma cobra venenosa com um pau, ao perceber que os irmãos se preparavam para se sentar em cima dela, sem se aperceberem do perigo.
A Amazónia, embora deslumbrante, é também um dos ambientes mais hostis do planeta. Durante os dias que se seguiram ao acidente, os irmãos tiveram de enfrentar chuvas torrenciais, calor intenso, fauna selvagem e uma constante falta de alimentos e água potável. Mesmo assim, Lesly improvisava abrigos e cuidava do bebé Cristin, enquanto lutava contra a exaustão física e emocional.
A situação tornou-se especialmente precária para Tien, de 4 anos, que começou a enfraquecer rapidamente: os médicos que trataram dela relataram que não sobreviveria mais dois dias na selva.
A busca pelos irmãos desaparecidos mobilizou a Colômbia. Durante várias semanas, equipas de resgate, incluindo elementos do exército e voluntários indígenas, envolveram-se numa operação histórica que mobilizou milhares de pessoas.
O pai nunca perdeu a expectativa de reencontrar os filhos e recebia atualizações positivas dos grupos de busca com frequência, que encontravam indícios de vida, como frutas consumidas, pegadas e vestígios de roupa. Estas pistas alimentavam a esperança quando que esse sentimento parecia quase impossível.
O documentário ganha novos contornos na segunda metade, quando é revelado que os irmãos eram vítimas de abusos por parte do pai antes do acidente. De facto, a avó e a tia acreditavam que se mantinham escondidos na floresta para evitar o progenitor. Contudo, estas alegações nunca foram confirmadas.
Finalmente, a 9 de junho, os quatro irmãos foram encontrados em vida. O resgate gerou comoção global e, embora estivessem debilitados, desidratados e desnutridos, a sobrevivência foi possível graças à liderança de Lesly e ao seu conhecimento das tradições indígenas. O momento emocionante em que foram resgatados e transportados em segurança da selva tornou-se um símbolo de esperança e resiliência, eternizado por uma fotografia que rapidamente se tornou viral.
Após o resgate, os irmãos foram levados para um hospital em Bogotá, capital da Colômbia, onde receberam os cuidados médicos necessários. No entanto, surgiu rapidamente uma nova problemática: a questão da custódia. O pai pretendia ficar com os filhos, mas os miúdos resistiam, alegando que era abusivo.
Atualmente, encontram-se sob a proteção do Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), que se empenha em garantir a sua segurança e em preservar as tradições culturais que fazem parte da sua identidade Huitoto.
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