Há uma voz de Coimbra no “The Voice Portugal” que tem emocionado os mentores e que está a conquistar o público. O fadista António Ataíde, de 54 anos, tem despertado emoções e votos. Ao longo das galas tem cantado temas como “Meu menino é d’oiro”, “A Morte Saiu à Rua” ou “Minha Mãe”, num registo muito pouco habitual num concurso de talentos.
Fã assumido de Zeca Afonso, António Ataíde tem cantado fado de Coimbra em todo o mundo. Começou a cantar muito novo, ainda não tinha dez anos. Nos tempos de estudante teve um grupo de fados, o “Tinteto”, mais tarde foi gerente da conhecida casa de fados conimbricense aCappella onde esteve durante mais de uma década. Já pisou palcos de norte a sul de Portugal e também pela Europa, Brasil, Moçambique, Canadá e até Japão. Está no mundo da música há 32 anos mas só agora decidiu arriscar e candidatar-se a um programa de talentos.
Assistente social e diretor do Centro de Acolhimento Temporário da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) da Figueira da Foz tem sempre o coração nos palcos. Irmão do ex-presidente da Câmara da Figueira da Foz, falecido em 2020, João Ataíde vem de uma família em que todos cantam ou tocam. Acredita no “gene musical” até porque o pai tocava bandolim e a mãe cantava muito bem. Aliás, no concurso estava também o seu sobrinho, Lourenço Ataíde, que acabou por ser eliminado na última gala.
A entrega com que canta chamou a atenção dos mentores do “The Voice Portugal” logo nas provas cegas quando interpretou “Meu menino é d’oiro” de Zeca Afonso. “Foi a primeira vez que me emocionei desde que começou este ‘The Voice’, que é uma coisa que me acontece raramente”, afirmou na altura Marisa Liz que viria a ser a sua mentora. “Isto foi de uma simplicidade arrebatadora porque além de ser uma canção do Zeca, a forma como estavas a cantar, não consegui controlar a emoção”, disse.
Dino D’Santiago chegou mesmo a compará-lo a Cesária Évora, com quem Ataíde já partilhou um palco. “O teu dizer é tão honesto e és o exemplo perfeito de que realmente, como aconteceu com a Cesária Évora, a partir dos 50 e tal anos é que a vida dela a nível musical é que se começou a desenvolver, és o perfeito exemplo que realmente nós devemos vibrar na energia dos nossos sonhos”, referiu o mentor.
Depois disso começou a aventura que foi ponderada. Ciente de que a música portuguesa, e particularmente a canção de Coimbra, tem sofrido um processo de valorização que é recente, decidiu avançar. Nos bastidores do concurso é muito acarinhado e até tratado por “tio” pelos outros concorrentes e elementos da produção. Na gala de 4 de dezembro depois de cantar “Minha mãe” foi afastado mas acabou por ser repescado graças à votação do público.
“A música sempre esteve presente na minha vida. Comecei a cantar com oito, nove anos às escondidas. Eu vivo mesmo da música em termos emocionais. Se um dia deixar de cantar acho que morro”, afirmou o concorrente durante o programa, confessando-se “em pulgas” para “realizar este sonho”.
Com a capa de estudante traçada e com os companheiros de sempre, Bruno Costa na guitarra e Nuno Botelho à viola voltou a levar longe Coimbra na voz. Marisa agradeceu e os telespectadores reconheceram. “O António trouxe uma forma de cantar muito emocional”, sublinhou, agradecendo também ao público que tenha permitido que neste tipo de concurso haja hoje “a liberdade de se cantar o que se quiser”.
“Devagarinho, devagarinho tem feito um grande percurso”, afirmou a apresentadora Catarina Furtado que também não ficou indiferente à forma sentida com que o concorrente se entrega à música.
Ataíde tem composições originais como o caso da “Canção Coimbra” e “Impuros” que estão disponíveis no Spotify, tem duas bandas e vários projetos ligados ao fado. Não tem dúvidas que é Zeca Afonso a sua grande referência no mundo da música, embora não consiga escolher uma só canção de que mais goste.
Em relação aos próximos passos no “The Voice Portugal” é certo que vai continuar no registo do fado de Coimbra e talvez até leve consigo outras vozes da cidade. A próxima gala é domingo, dia 11 de dezembro, e vai ser decisiva para o percurso do concorrente de Coimbra.