“Maravilhoso”, terá afirmado Carlos após o nascimento do seu segundo filho, Harry. Dirigia-se a Diana, então sua mulher, a quem agradeceu. “Deste-me um herdeiro e um sobresselente. O meu trabalho está feito.”
A revelação polémica é feita precisamente por Harry, o príncipe rebelde que desde que abandonou os deveres reais tem alimentado dezenas de controvérsias, numa aparente batalha pública com a família real britânica. A mais recente arma? O livro de memórias a que, adequadamente, decidiu batizar de “Spare”, que em tradução literal significa sobresselente.
Com lançamento previsto para 10 de janeiro, as primeiras cópias começam a chegar às livrarias — em Espanha, o livro foi lançado por engano antes do tempo — e o conteúdo a ser lançado aos poucos pela imprensa. Em Portugal, a edição da Objectiva, traduzida para “Na Sombra”, está disponível por 20,66€. Em dezembro, fontes ligadas a Harry iam deixando antever que o livro não conteria “revelações bombásticas” e que não seria “um ataque à família”. Aparentemente, estavam errados.
Segundo o “The Sun”, o processo de preparação e escrita das memórias de Harry não terá sido fácil. O livro terá sido devolvido pelos editores para que o príncipe pudesse fazer inúmeras alterações. Especula-se que o objetivo seria o de inclui mais revelações e polémicas na narrativa.
Entre relatos mais inócuos, descobrimos que os dois herdeiros de Carlos se tratam por Willy e Harold. É também revelada a circunstância em que perdeu a virgindade, num “episódio humilhante” com “uma mulher mais velha que adorava cavalos”.
Harry, que sempre foi um jovem rebelde e problemático, aproveitou para recuperar alguns dos momentos da sua adolescência. Teria 17 anos quando experimentou cocaína pela primeira vez. “Claro que consumia nessa altura. Fi-lo na casa de outra pessoa, durante um fim de semana de caça. Ofereceram-me uma linha e depois dessa vez consumi em mais ocasiões.”
A experiência “não foi muito divertida”. “Não me fez sentir particularmente feliz, como parecia fazer a outras pessoas. Fez-me sentir diferente e esse era o meu grande objetivo. Sentir. Ser diferente. Era um rapaz de 17 anos disposto a experimentar quase tudo que pudesse afetar a ordem pré-estabelecida ou, pelo menos, era isso que eu dizia a mim próprio.”
Em 2005, foi também manchete em todos os jornais, num escândalo provocado pela farda escolhida por Harry para uma festa de máscaras. A imagem do príncipe, vestido com uma farda nazi, de suástica no braço, correu o mundo.
O príncipe decidiu também fazer revelações sobre os seus tempos nas forças militares britânicas, onde foi piloto de helicópteros. Fez várias missões no Afeganistão e, segundo o próprio, terá matado 25 pessoas. “Em condições de batalha, há muito fogo indiscriminado. Na era dos Apaches e dos computadores, tudo o que eu fiz ao longo de duas missões ficou gravado e registado”, conta.
“Conseguia sempre saber, com precisão, quantos inimigos combatentes matei. Sempre senti que não devia ignorar esse número. Entre as muitas coisas que aprendi no exército, a responsabilidade está no topo da lista.”
Sobre o número de mortes, confessa que nunca foi algo “que desse particular satisfação”. “Mas também nunca me envergonhei dele. Naturalmente, preferia não ter esse número no meu currículo militar, mas por outro lado, também preferia viver num mundo sem talibãs, num mundo sem guerra. Até para um praticante ocasional do pensamento mágico como eu, há realidades que não podem ser alteradas.”
Mais sumarentos são os relatos da relação atribulada entre os dois casais, Harry e Meghan, William e Kate. Terá sido antes do casamento dos primeiros que decorreu um dos confrontos.
Kate, que acabara de ser mãe, foi insultada por Meghan, que a acusou de ter “um cérebro de bebé”. Acabaria por pedir desculpas pelo incidente, não sem antes ver William enfurecido, enquanto lhe apontava o dedo à cara.
“Isso é rude, Meghan. Não é assim que fazemos as coisas nesta casa”, terá dito. A mulher de Harry não se ficou. “Se não te importas, tira o dedo da minha cara.”
Sobre a escolha escandalosa, Harry assume a culpa, mas aponta também o dedo a William e Kate. Segundo o livro de memórias, o príncipe estava dividido entre a farda de piloto e a farda nazi. Decidiu pedir opinião ao irmão e à sua namorada, que aconselharam a última.
Quando Harry surgiu à sua frente com a suástica, “ambos gritaram”. “É pior do que o maillot do Willy. Muito mais ridículo”, terão dito. “Era esse o objetivo”, rematou o príncipe, que haveria de se desculpar publicamente pelo incidente, que apelidou de “um dos maiores erros” da sua vida.
Naquele que é possivelmente a maior e mais bombástica revelação do livro, Harry recorda o episódio em que William o terá agredido fisicamente por causa das tensões entre a família e Meghan.
Numa altura em que os conflitos entre todos ocupavam diariamente as páginas dos tabloides, William decidiu visitar o irmão para discutir o que poderia ser feito e chegou “zangado”, a “papaguear a narrativa da imprensa”, que apelidava a sua mulher de “difícil”, “rude” e “abrasiva”.
Harry descreve o comportamento do irmão como irracional. Sentia que era tratado de forma injusta e, para si, William estava a agir menos como um irmão e mais como herdeiro da coroa.
William terá explicado que estava apenas a tentar ajudá-lo. Harry riu-se, o que terá irritado ainda mais o já zangado irmão, que o seguiu até à cozinha.
“Tirou-me o copo de água da mão, pousou-o e chamou-me outro nome. Depois veio na minha direção”, recorda. “Aconteceu tudo muito depressa. Agarrou-me pelo colarinho, arrancou-me o colar e atirou-me ao chão. Caí em cima da taça de comida do cão, que se partiu sob as minhas costas, senti os pedaços a cortarem-me. Por momentos fiquei ali deitado, confuso, depois levantei-me e disse-lhe que se fosse embora.”
Furioso, William terá dito ao irmão que lhe batesse de volta, num cenário que Harry compara às lutas que tinham quando eram crianças. Recusou e William saiu, apenas para voltar um par de minutos depois, “com ar de arrependido e a pedir desculpas”.
“Não precisas de contar nada disto à Meghan”, terá atirado William antes de sair. “Que me atacaste?”, respondeu Harry. “Não te ataquei, Harold”, concluiu o herdeiro ao trono.
O episódio haveria de chegar mais tarde ao conhecimento de Meghan. Antes, Harry preferiu guardar segredo e contar apenas o sucedido ao seu psicólogo. A mulher eventualmente reparou nos arranhões e nas nódoas negras deixadas pela queda. “Não fiquei particularmente surpreendido nem zangado”, confessa Harry sobre o comportamento do irmão. “Fiquei apenas terrivelmente triste.”