“Porque é que alguém haveria de querer viver assim?” Esta é a pergunta que Baylen Dupree faz a todos os que duvidam da sua condição. Com milhões de seguidores e agora uma série própria na TLC, a jovem de 22 anos usa a sua plataforma para desmistificar a Síndrome de Tourette, revelar os desafios diários que enfrenta e, acima de tudo, inspirar quem vive com a mesma patologia. Mas, apesar da crescente visibilidade, Baylen tem uma certeza: não quer ser “o rosto” da condição.
“A Tourette não tem um único padrão, porque se manifesta de maneira diferente em cada pessoa”, explicou em entrevista ao “Today”, onde falava sobre “Baylen Out Loud”, o seu reality show que estreou nos EUA a 13 de janeiro e em Portugal, no TLC, a 1 de fevereiro. “Há dias em que os tiques são intensos e outros em que consigo ter mais controlo. Gostava de dizer que não passo o tempo todo com tiques, mas a verdade é que ocupam grande parte do meu dia.”
A Síndrome de Tourette é um distúrbio neurológico caracterizado por movimentos repetitivos ou sons involuntários (tiques). No caso de Baylen, as obscenidades e palavrões são recorrentes. “O Joe Biden vive na Casa Branca e há vaginas penduradas na Casa Branca. O Joe Biden está enterrado no meu quintal depois de ter cheirado cocaína durante a Guerra Revolucionária de 1812”, atira involuntariamente num dos episódios. “Até fico sem fôlego”, brinca, assim que o tique pára.
Natural de Ranson, West Virginia, a jovem ganhou notoriedade nas redes sociais ao partilhar momentos do seu dia a dia com mais de 10 milhões de seguidores no TikTok e 1,4 milhões no Instagram. Mas a transição para a televisão trouxe um novo nível de vulnerabilidade e desafios. “No TikTok, as pessoas veem apenas entre 30 segundos e três minutos da minha vida — e só veem o que quero mostrar: os momentos felizes, as partes boas. Mas a série vai muito além disso”, revela.
Os pais repararam nos primeiros tiques quando Baylen tinha cerca de sete anos, mas o diagnóstico definitivo só chegou perto dos 18. Além desta condição, também vive com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), uma patologia que afeta cerca de 60 por cento das pessoas com Síndrome de Tourette, segundo a Fundação Internacional de Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
“Tenho tiques que preciso de repetir três vezes e isso está ligado ao que chamamos de TOC Tourettiano, uma sobreposição entre ambas as condições”, explica. Nos últimos anos tem recorrido à terapia CBIT (Intervenção Comportamental Abrangente para Tiques), uma abordagem sem medicação que lhe ensinou a identificar gatilhos e a controlar melhor os impulsos involuntários.
“A CBIT mudou completamente a minha vida”, garante. Embora já tenha experimentado medicamentos para a Tourette, optou por não continuar devido aos efeitos secundários. Em vez disso, encontrou outras formas de gestão, apostando na música, fé, exercício físico, massagens e mudanças na alimentação.
A luta contra o ceticismo
Com a crescente exposição pública, Baylen também enfrenta críticas e dúvidas sobre a autenticidade da sua condição. No segundo episódio de Baylen Out Loud, transmitido a 27 de janeiro, responde diretamente às acusações de que estaria a fingir a doença para chamar a atenção.
“Há pessoas que dizem que finjo a Tourette. Mas porque é que alguém faria isso? Quem é que quereria viver assim?” Durante a entrevista ao “Today”, Dupree desabafou sobre a falta de compreensão que ainda existe em torno da síndrome.
“Irrita-me profundamente que algumas pessoas acreditem que a Tourette tem sempre o mesmo aspeto. Pegam num vídeo de 50 segundos e dizem: ‘Aqui não tiveste tiques, então estás a mentir.’ Mas será que aguentavam passar um dia inteiro comigo? Se quiserem tentar, estejam à vontade.”
A Tourette Association of America, uma das principais organizações norte-americanas de apoio a pessoas com a condição, já defendeu Baylen publicamente e enalteceu o impacto que teve na sensibilização para a síndrome. “Quando conheces uma pessoa com Tourette, conheces apenas uma pessoa com Tourette”, esclarece a associação, reforçando que cada caso é único e pode variar ao longo do tempo.
Os novos desafios no amor
Desde novembro de 2022, Baylen namora com Colin Dooley, membro da Força Aérea dos Estados Unidos. Quando se conheceram numa aplicação de encontros, o jovem confessou ter ficado inicialmente cético ao ver a referência à Tourette no perfil dela. “Não sabia se ela estava a falar a sério ou não”, admite no reality show da TLC. “As pessoas fazem piadas sobre tudo nas apps.”
Mas, rapidamente, Dooley percebeu que Baylen enfrentava desafios reais e tornou-se um dos seus maiores apoios. “O Colin é o meu remédio”, diz Baylen no segundo episódio de Baylen Out Loud, que, em Portugal, vai ser transmitido este sábado, 8 de fevereiro.
A primeira temporada do programa acompanha o casal num momento decisivo: a possível mudança de Dooley devido ao trabalho na Força Aérea e o impacto que isso pode ter na relação. Enquanto isso acontece, Baylen continua a sua missão de desmistificar a Síndrome de Tourette, provando que, apesar dos desafios, “é possível viver com autenticidade, ambição” e, acima de tudo, sem deixar que a condição a defina.
Carregue na galeria e conheça algumas das séries e temporadas que estreiam em fevereiro nas plataformas de streaming e canais de televisão.