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25 músicas que mudaram a vida de André Sardet (segundo ele próprio)

O músico conimbricense está a celebrar os 25 anos de carreira e falou com a revista sobre esse marco.
André Sardet lançou o primeiro disco em 1996

André Sardet está a celebrar os 25 anos de carreira de forma bem vincada. No ano passado, lançou um novo disco para assinalar esse marco, “Ponto de Partida”. E desde então que tem continuado a dar concertos especiais de celebração, pelo País fora, com um alinhamento que percorre toda a sua carreira.

O artista vai continuar a realizar a digressão de 25 anos de carreira até ao final de 2023. No verão, os concertos acontecerão mais nos grandes eventos populares; no outono e no inverno, as performances regressam às salas mais intimistas. Para assinalar este marco, André Sardet partilhou com a revista 25 canções que marcaram a sua vida — e falámos com o músico sobre este momento do seu trajeto. Pode ouvir todos os temas neste podcast especial da NiTfm.

As 25 músicas da vida de André Sardet

“Sozinho”, Caetano Veloso

“Leãozinho”, Caetano Veloso

“Samba de Verão”, Caetano Veloso

“Saiu para a Rua”, Rui Veloso (a primeira música que André Sardet aprendeu a tocar)

“Sei de uma Camponesa”, Rui Veloso

“Prometido é Devido”, Rui Veloso

“Bairro do Amor”, Jorge Palma

“Frágil”, Jorge Palma

“Primeiro Dia”, Sérgio Godinho

“Com um Brilhozinho nos Olhos”, Sérgio Godinho

“Balada das Sete Saias”, Trovante

“Memórias de um Beijo”, Trovante

“João e Maria”, Chico Buarque

“Apesar de Você”, Chico Buarque

“The Beat(en) Generation”, The The

“Fields of Gold”, Sting

“Englishman in New York”, Sting

“End of the Line”, The Traveling Wilburys

“Every Little Thing”, Jeff Lyne

“Me And Mr Jones”, Amy Winehouse

“Your Song”, Elton John

“Like a Tattoo”, Sade

“Tema da Saudade”, Mayra Andrade

“Solid Ground”, Michael Kiwanuka

“Smokin Out the Window”, Bruno Mars e Anderson .Paak

Quando é que começou a idealizar as celebrações dos 25 anos de carreira?
Comecei um bocadinho tarde. Isto é, andei sempre um bocadinho a fugir daquela ideia de celebrar o passado. E só avancei um bocadinho mais na ideia de celebrar os 25 anos de carreira porque achei que isto era uma oportunidade também de demonstrar e associar a este momento uma prova de vitalidade criativa, que é o que tento neste álbum. E foi a partir daí que comecei a achar graça à ideia de celebrar os 25 anos. 

Porque a ideia era que fosse um disco que celebrasse esse marco, mas que também valesse por si só em termos criativos?
Exatamente. Foi um álbum que quis que fosse virado para a frente, que tivesse muito poucos temas do passado e muito mais temas atuais. 

Mas tendo em conta que o álbum teria sempre esta aura de celebração dos 25 anos, foi um desafio particular por não ser um simples novo disco?
Sim, tem associado a este álbum uma comemoração. Não só é uma celebração de um momento de carreira, mas também de vida. Tenho alguma dificuldade em dissociar as duas coisas. Costumo dizer que não tenho uma profissão, tenho uma vida. Não consigo ir de férias e não pensar em música. Não consigo ir de fim de semana e fechar a porta do escritório e não pensar mais em música durante o fim de semana. Eu componho porque alguma coisa me faz compor ou me inquieta ou vejo em alguém uma história que me faz querer transformar isso em música — e isso pode acontecer em qualquer momento.

A construção deste disco foi diferente em relação a outros trabalhos? Tem períodos específicos em que está mais focado na composição, ou, lá está, depende muito dos momentos de inspiração que levam à construção de canções?
Sou um bocadinho autobiográfico. Portanto, preciso de viver para compor. E este álbum tem momentos diferentes de vida e de carreira em relação aos primeiros — ou às primeiras músicas. Por exemplo, neste álbum olho para a minha filha que está no momento de sair de casa e digo: vai, vai em frente, e essa música é que abre o álbum, chama-se “Se Eu Te Disser”. E olho para o meu filho e lembro-me desse tempo que ele está a viver, em que não tínhamos problemas e não sabíamos a finitude das coisas e das pessoas. Eu não pensava nisso. Eram momentos sempre felizes. E isso também está neste álbum. Ou seja, eu vou compondo sobre outras coisas. Por exemplo, quando lancei o “Mundo de Cartão”, quis compor sobre a paternidade porque foi algo que mexeu muito comigo. Foi algo que teve uma influência muito grande na minha maneira de ser e estar. E este álbum também reflete isso.

No fundo, os álbuns vão retratando a sua vida ao longo dos anos.
Exatamente. 

Quando começou na música, pensava que isto iria ser a sua vida? Tinha essa perspetiva de futuro, ou nem por isso?
A grande dificuldade desta vida é que não sabemos quando é que acaba. Por isso, havia esse abismo. Mas no início foi bastante mais fácil, porque não pensava muito sobre se ia ter trabalho quando chegasse aos 40 anos ou não. Depois, quando fui pai pela primeira vez, isso mexeu um bocadinho comigo e senti muito essa responsabilidade e esse calafrio de não saber o que iria ser da minha vida nos próximos anos. Habituei-me a viver com isso, não estou preocupado… Eu não tenho um salário ao fim do mês, não é? Vou tendo, vou ganhando a vida aqui e ali de determinadas formas. É um bocadinho diferente, a minha forma de viver, mas hoje isso já não me preocupa.

Mas quando começou a compor, a gravar, pensou logo que se quereria dedicar à música durante muito tempo, a longo prazo?
Isso, sem dúvida. Até porque não há nada que me faça mais feliz do que a música. Embora eu tenha outras atividades. Há muitos anos, desde 1998, que faço produção de eventos. E isso é uma forma de não ter uma relação tão tensa com a música. Tento não ter uma dependência absoluta da música, porque acabo por ter mais tranquilidade. Acabo por gostar da música de uma forma diferente. 

Claro que estes processos são sempre graduais, mas existiu algum momento em que pensou para si próprio que tinha conseguido, que agora a sua vida seria a música?
Isso foi difícil nos primeiros 10 anos. Foi bastante difícil porque eu não tinha grande reconhecimento nem muito trabalho. A partir dos 10 anos de carreira, do álbum acústico, a coisa aí mudou e consegui sentir o que era o sucesso da música e que era reconhecido. A partir desse momento acho que ficou um legado e um lugar na música portuguesa. Isso deixa-me muito orgulhoso. O “Foi Feitiço” é a música mais tocada da década de 2000. Depois do álbum acústico, nenhum outro vendeu oito platinas. E por isso faz dele o álbum mais vendido dos últimos 15 ou 16 anos. Portanto, acho que ficou alguma coisa. E uma coisa importante é as minhas músicas estarem na vida das pessoas.

E sente isso no dia a dia?
Sinto, e no fundo é o que dá mais significado à minha música e carreira.

Esse disco acústico e o “Foi Feitiço”, em particular, foram obviamente enormes sucessos, até sem paralelo. Muitas vezes, quando um artista atinge um certo patamar, um grande momento de carreira, depois nos anos que se seguem pode debater-se com isso mesmo. No seu caso foi sempre muito tranquilo ou também houve a preocupação de no fundo continuar a ser relevante e fazer novas canções que tivessem o mesmo tipo de impacto junto das pessoas?
É preciso saber viver com o facto de que as carreiras não são planas. Têm altos e baixos, isto é uma montanha-russa, em que se sobe e desce. E é muito importante termos esta noção e sabermos aceitar isto. Eu percebi isso desde muito cedo, mas também sempre olhei para alguns artistas que admiro como referências, ou seja, “quero ser como eles e é neste patamar que eu quero estar”. Isso fez-me, se calhar inconscientemente, nivelar por cima e ser muito exigente comigo próprio, mas foi importante. Acho que esse padrão elevado é, no fundo, uma forma de nivelar por cima e de manter uma referência elevada. 

Já agora, que artistas são essas principais referências?
Caetano Veloso, Rui Veloso, Jorge Palma, Sérgio Godinho, Sting. São assim aqueles mais importantes.

O André tem estado a celebrar os 25 anos de carreira com uma série de concertos. Estes espetáculos são diferentes de outros que faz noutras ocasiões? Como é que os descreveria?
Em termos de alinhamento, são completamente diferentes. Normalmente, penso mais no público do que em mim, quando estou a escolher o alinhamento. Penso mais naquelas músicas que foram reconhecidas pelas pessoas e que sei que querem ouvir. Neste, quis também sublinhar alguns temas de que gosto muito e que não foram reconhecidos por um ou outro motivo. E, portanto, quis, nestas noites, dar às pessoas um lado menos conhecido e felizmente tem sido muito interessante porque as pessoas acabam por se calhar sentir a emoção com que as músicas foram criadas e se calhar justifica a tal preferência que eu tenho por elas e dei-as a conhecer a muitas pessoas que não as conheciam. 

Que objetivos é que ainda não concretizou mas ambiciona muito para os próximos anos?
Queria cantar com o Sting [risos], gramava isso. Nunca se sabe, até estarmos vivos é sempre possível. Gostava que acontecesse. 

É o seu maior sonho musical?
É, sem dúvida.

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