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Vinted. Afinal, quais os riscos de comprar (e vender) na famosa plataforma?

O mercado online nasceu em 2008 e já está presente em dezenas de países. Aparentemente, é um dos sites favoritos do deputado do Chega, Miguel Arruda.
Um dos marketplaces mais populares.

Há cerca de oito meses, vários utilizadores da Vinted depararam-se com uma conta intitulada “miguelarruda84”. O nome, tão banal como qualquer outro na plataforma de venda de artigos em segunda mão, não causou estranheza nos compradores que procuravam uma nova camisa ou outro par de sapatilhas em segunda mão.

O perfil foi apagado durante a tarde desta quinta-feira, 23 de janeiro, após ter tomado conta de várias manchetes e debates nas redes sociais. Ao que tudo indica, a página pertencia ao deputado do Chega Miguel Arruda, investigado pelas autoridades por venda online de peças que, alegadamente, furtava de malas nos tapetes do Aeroporto de Lisboa.

Antes de ter desaparecido, a conta — cujo username é uma junção do nome do arguido com o seu ano de nascimento — tinha cerca de 56 produtos de homem, mulher e alguns artigos infantis, com preços a oscilarem entre um e cinco euros. Segundo a RTP, o email associado à conta é o mesmo que o parlamentar — que passou para deputado não-inscrito na Assembleia da República, na sequência da polémica — entregou ao partido Chega.

Em entrevista à TVI, Miguel Arruda rejeitou a acusação de que estaria a vender produtos roubados naquele site. “Penso que a minha mulher tem uma conta lá para se entreter um bocadinho”.

O tema tem levantado várias questões sobre a aplicação. Afinal, a Vinted é uma das mais famosas plataformas de roupa de venda em segunda mão, contando, em julho de 2024, com 28 milhões de utilizadores, segundo o site oficial. Desde a fundação que existem preocupações por parte dos utilizadores com questões como burlas online, falta de transparência fiscal ou a genuinidade dos produtos vendidos.

Em 2008, nascia um unicórnio

Como quase todos os negócios, a Vinted nasceu de uma necessidade comum que se transformou num verdadeiro sucesso. A criação surgiu da cabeça da lituana Milda Mikute, em 2008, ao imaginar este mercado online depois de uma mudança de casa onde foi preciso despachar tralha em excesso.

Além das categorias de roupas para homem, mulher e criança, a Vinted reserva uma área para peças de decoração e livros. Porém, o negócio tornou-se tão abrangente que, atualmente, é possível encontrar um pouco de tudo, desde gadgets de beleza a maquilhagem.

A startup tornou-se no primeiro unicórnio do País — ou seja, as que recebem uma avaliação acima dos mil milhões de euros — e traz a vontade de ajudar os portugueses a, tal como Mikute, livrarem-se da sua tralha. A empresa deixa outra garantia: os vendedores e compradores não terão que pagar quaisquer taxas.

A loja funciona de forma intuitiva. Há uma montra semelhante a qualquer outra loja online e, quando vê um artigo de que gosta, o utilizador pode carregar no botão “falar com o vendedor”, contactando o membro, ou seguir logo para a opção “comprar agora”. Os preços são sempre negociáveis e, após a compra, o dinheiro fica em suspenso até o comprador receber a peça. Se estiver tudo de acordo com o esperado, o montante entra na conta do vendedor.

Que medidas são tomadas?

Nos últimos anos, a plataforma tem tentado abordar algumas das preocupações habituais nestas compras entre consumidores, desde logo com a possibilidade de optar por pagar um pequeno extra — cinco por cento do valor da compra e uma taxa de 70 cêntimos — que oferece uma camada adicional de proteção ao comprador.

No caso de artigos de luxo, a Vinted oferece um serviço de Verificação de Artigos, concebido especificamente para categorias selecionadas de anúncios de peças de designers. Trata-se de uma alternativa grátis para os vendedores, mas paga pelos compradores. Se um artigo for adquirido com este serviço, a equipa de especialistas situada na Alemanha irá verificar de que se trata de um artigo autêntico.

Ainda assim, no final de 2022, o marketplace de artigos em segunda mão registava uma centena de queixas relativas a burlas online em Portugal, registando um aumento desde o início do ano. No Portal da Queixa existem diversas reclamações registadas, quase duas por dia a reclamar de problemas relacionados com o serviço.

Estes crimes têm afetado mais quem procura vender produtos através da plataforma. Normalmente as burlas acontecem através do MB Way, pelo que é recomendado não partilhar com ninguém o PIN da aplicação. Quando alguém se inscreve, o site avisa que práticas os utilizadores devem seguir para que desfrutem do serviço em segurança.

Num comentário, publicado no mesmo portal, em maio de 2024, um utilizador denunciou “a venda de material roubado”, na compra de uns óculos de realidade virtual. “Quando estamos a utilizar uma plataforma destas, utilizamos por ser seguro. No entanto o artigo adquirido é dado como roubado e não para utilizar. Avisei a Vinted dentro do prazo legal que existia um problema, falei com o vendedor/burlão que disse que iria tratar da devolução”, escreveu.

E acrescentou: “Como cliente, não temos forma de tratar da devolução ficando à mercê do burlão. Passadas 48 horas, a venda é dada como concluída automaticamente, ficando o burlão protegido pela própria entidade, que após esse prazo diz que nada podia fazer. Curioso que até um seguro de compra é obrigatório fazer. Mas a proteção é zero.”

Os lucros já pagam impostos

Nos últimos anos, têm sido feitas também várias alterações ao funcionamento no nosso País. Uma nova legislação exige que plataformas como a Vinted comuniquem os dados financeiros dos vendedores ao Fisco. Isto significa que, desde janeiro de 2024, se realizar mais de 30 vendas anuais ou vendas acima de dois mil euros, estas passam a ser comunicadas automaticamente à Autoridade Tributária.

O limite parece elevado, mas não é assim tão difícil atingi-lo. Basta realizar três vendas mensais para o superar. Caso as empresas não recolham a informação, ou se os próprios vendedores a omitirem, serão penalizados com coimas entre os 250€ e os 1.250€. A medida aplica-se tanto a particulares como empresas.

Como os sites e as aplicações são cada vez mais utilizados para negócios, a Comissão Europeia e o Parlamento consideram ser necessário alargar as regras de transparência fiscal para travar potenciais casos de evasão associados à subdeclaração destas atividades. Os 27 Estados-membros já trocam informação há vários anos sobre rendimentos de trabalho e pensões, além de remunerações dos membros da administração.

Apesar do sucesso da empresa no nosso País, onde já atua desde 2021, só em 2023 é que a plataforma deu lucro pela primeira vez, registando uma faturação de 17,8 milhões de euros, face aos 20,4 milhões de euros de prejuízo registados no período homólogo. “Estamos na frente de um mercado com um enorme potencial”, comemorou na altura o diretor-executivo, Thomas Plantenga, citado pela BBC.

O registo na Vinted é gratuito e pode ser feito através do site oficial, mas também nas aplicações para Android e iOS.

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