O mundo da moda está a mudar. Mais devagar do que muitos gostariam, é certo, mas velhos paradigmas têm vindo a ceder. As modelos plus size são um exemplo disso mesmo, porém, apesar da inclusão ser cada vez mais uma realidade, as oportunidades de trabalho — sobretudo em Portugal — ainda são escassas. Uma realidade que a portuguesa Patericia Pinto conheceu em primeira mão e que a levou a construir uma carreira internacional a partir dos Estados Unidos da América.
As oportunidade de começar a trabalhar nesta área surgiu há cerca de um ano, de forma inesperada. A jovem de 26 trabalhava como maquilhadora e foi convidada a substituir uma profissional no casting de uma agência em Guimarães. No entanto, quando apareceu, decidiram que devia ser ela a ocupar a cadeira das aspirantes a manequins.
“A equipa viu as minhas fotos e disseram-me que me devia inscrever no processo de seleção. Estavam à procura de modelos plus size e enquadrava-me no perfil que procuravam”, conta à NiT. “Sempre fui muito extrovertida e gosto de tirar fotografias. Resolvi participar e acabei por ficar agenciada.”
Nesta altura, já vivia em Nova Iorque, para onde se tinha mudado no início de 2021 por motivos pessoais. Por isso, apesar de ter sido selecionada pela Face Models no casting em Guimarães, foi em território norte-americano que começou a procurar trabalhos enquanto modelo fotográfico.
“Em Portugal sentia muita dificuldade para entrar no mercado. Durante o tempo que estive na agência, raras vezes me chamaram”, explica. Além disso, como já passava pouco tempo cá, a nível logístico, não era fácil gerir os trabalhos.
Apesar de reconhecer que o mercado internacional é mais competitivo, também existe uma maior abertura para modelos com corpos acima dos tamanhos médios. Isto acontece porque as marcas perceberam uma coisa simples: a realidade vende mais do que a ficção. Aliás, o principal obstáculo que Patericia enfrentou é algo que lhe coloca um sorriso no rosto — existem cada vez mais modelos plus size, o que significa que há muita concorrência.
Numa fase inicial, fez alguns trabalhos para ganhar experiência. Foi modelo na escola The Makeup Academy, em Nova Iorque, e colaborou com vários fotógrafos a nível individual. Mais tarde, surgiu a oportunidade de trabalhar em campanhas para a marca de Khloe Kardashian e, agora a residir em Miami, é um dos rostos da marca de luxo Amour 781 — aquilo que agora lhe ocupa a maior parte do seu tempo.
O percurso de Patericia
Atualmente, a portuguesa faz campanhas fotográficas, está envolvida look books e é rosto da marca no segmento do comércio eletrónico. Curiosamente, apesar do sucesso, nunca imaginou que o seu percurso profissional fosse passar pela indústria da moda.
“Há 20 anos, era impensável ver uma modelo do meu tamanho. Em criança gostava de me vestir de forma criativa, por isso, mais depressa iria para designer”, recorda. Ao mesmo tempo, uma vez que a mãe tinha um negócio na área da beleza, também sempre esteve ligada ao mundo da maquilhagem, que viria a explorar.
Antes disso, porém, formou-se em Línguas e Relações Internacionais e foi viver para a China, no âmbito do curso. Nesta fase, e à medida que ia expandindo os horizontes, começou a perceber que manter-se entre as fronteiras nacionais não era uma opção.
“Em 2019, voltei para Portugal e comecei a procurar onde gostava de trabalhar. Mandei currículos para o Dubai e arranjei um trabalho [na área das vendas]”. Manteve-se no emirado durante um ano até que a pandemia a obrigou a regressar ao Porto. Porém, assim que pôde rumou ao continente americano e foi lá que consolidou a carreira como modelo.
Apesar de estar a quilómetros de distância, não esquece o País onde nasceu. “O meu maior objetivo é chegar a Portugal, entrar num shopping e conseguir comprar roupas que me serviam. Existe muita propaganda e campanhas, mas as lojas não têm números grandes à venda”, refere, sobre a lacuna que ainda existe a nível comercial.
Mais do que querer fazer trabalhos de sucesso ou construir um bom nome, Patericia tem outra meta. E não passa apenas por vender a roupa das marcas que anuncia. Quando era adolescente sentia dificuldade em encontrar peças que lhe servissem, hoje quer fazer com que a sua voz seja ouvida. Quer fazer com que miúdas mais novas se sintam representadas e decidiu assumir o termo plus size. Sempre teve mais peso do que as pessoas à sua volta e, por isso, o rótulo acabou por lhe ser atribuído. “Não é um motivo de orgulho”, admite. Escolheu adotar a expressão — que continua usada para a descrever — e fazer algo positivo com isso.
A portuguesa não tem dúvidas: “As modelos plus size podem ser bonitas, confiantes, sexy. E também podem parecer nas capas de revista”. Porém, esta mensagem não é algo que possa transmitir sozinha e é através do sentido de comunidade, que se tem vindo a construir, que tenta contribuir para dar mais visibilidade a mulheres com corpos semelhantes aos seu.
“Neste momento, sinto-me feliz com o que estou a fazer lá fora. No entanto, o meu maior desejo seria conseguir transformar a indústria da moda nacional e ser a cara dessa transformação”, desabafa. E conclui: “Concretizava-me mais se visse a mudança a acontecer no meu País”.
Carregue na galeria para ver mais imagens de Patericia Pinto, incluindo algumas campanhas fotográficas em que participou.