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O negócio que nasceu em honra a 3 mulheres e preserva a arte de Almalaguês

Salomé Carmo aprendeu o ofício para ajudar uma tecedeira a vencer a depressão. Volvidos três anos, fundou o Tear da Lu.
Salomé Carmo na Feira Popular.

Salomé Carmo tinha cerca de seis anos quando o seu pai decidiu promover um workshop, na própria garagem, sobre a tecelagem de Almalaguês. O objetivo era dinamizar a pequena localidade de Castelo Viegas, de onde são naturais, com a arte da freguesia vizinha, de onde veio uma tecedeira só para ensinar o ofício.

Desse atelier, saiu um grupo de pessoas que lhe deu continuidade, porém, com o passar dos anos, algumas foram abandonando, outras foram morrendo. Em 2020, dois meses antes do início da quarentena, devido à pandemia da Covid-19, Salomé, atualmente com 45 anos, procurou conhecer também a arte da tecelagem de Almalaguês.

De acordo com a própria, tudo surgiu “um pouco por acaso” e com a finalidade de interagir e ajudar uma das últimas tecedeiras de Castelo Viegas, que tinha frequentado o curso, a vencer uma depressão. “Isto é uma aldeia pequena, temos todas contactos umas com as outras”, conta à NiC.

A arte do “bordado a miúdo” destaca-se pelos chamados “puxados”, conseguidos com uma farpa ou um ferro. Daí nascem os relevos e tufos no tecido que, por sua vez, criam desenhos icónicos e complexos. Esta foi-se tornando na nova paixão de Salomé, que comprou um tear, usado, mas bom estado, e, com o tempo de quarentena, foi-se dedicando cada vez mais. “Comecei a fazer muitas experiências e gostar. Iniciei-me com capas para livros, carteiras e porta moedas, algo muito aleatório”, diz.

Mais tarde, contactou uma tecedeira de Almalaguês, que lhe passou mais ensinamentos, e foi-se aperfeiçoando. Conseguiu, ainda, um segundo tear, que já estava sem uso, oferecido pela filha de uma outra artesã, de Castelo Viegas, que já tinha falecido.

A grande evolução no seu trabalho deu-se, contudo, no momento em que Salomé quis oferecer um “presente diferente” ao seu pai, grande apreciador de arte sacra. “Aventurei-me”, afirma, entre sorrisos. Dessa aventura, saiu um presépio. Cada figura foi feita num molde de pano, com fatos e mantos em tear. “Uso muitas vezes roupas velhas, corto em tiras e aproveito todos os materiais. Tentei muita coisa até chegar ao resultado final, mas sou muito ligada aos trabalhos manuais e, por isso, isto é algo que me vai surgindo naturalmente”, garante.

Os fatos e mantos com a arte do tear de Almalaguês.

No final, as peças fizeram sucesso e começaram a chegar as encomendas. Há três anos, Salomé criou o Tear da Lu e começou a vender para fora. O nome, não foi escolhido em vão- é uma homenagem às “Lus” da sua vida. Lurdes e Lucinda, as suas avós materna e paterna, respetivamente. Luísa, o nome da antiga dona do tear que lhe foi doado.

Só depois de iniciar o projeto, descobriu que, no passado, a sua avó e tia materna tinham sido, também elas, tecedeiras. “Sempre conheci a minha avó como cozinheira”, explica.

Esta não é, porém, a sua atividade principal. Durante muitos anos, Salomé foi professora de educação musical no ensino básico. Hoje é animadora numa IPSS em Castelo Viegas. Todas as peças que saem do Tear da Lu são produzidas ao final de cada dia útil, mas sobretudo ao fim de semana. “O tear faz barulho quando está a bater, então guardo isso para durante o dia, no sábado e no domingo”.

Apesar de formar as suas peças com a mesma técnica de Almalaguês, a animadora não se considera uma “tecedeira de Almalaguês”. “Sou de perto, mas não sou de lá. Seria pretensioso da minha parte intitular-me dessa forma, até porque fui fugindo um bocadinho à produção de toalhas, carpetes e esse tipo de produtos”, explica.

O preço das peças feitas por Salomé pode variar conforme o tamanho ou tecidos utilizados. Pode encontrar pins, brincos e porta-chaves que começam nos 2€; capas para livros a 12€, carteiras que vão dos 10€ aos 40€. Os artigos mais procurados são as figuras, que podem incluir a Rainha Santa Isabel, Nossa Senhora de Fátima, presépios e até árvores de Natal. Os valores vão dos 15€ aos 200€. Todos podem ser personalizados, mediante encomenda.

Para comprar, pode fazê-lo através das suas redes sociais. O Tear da Lu tem, ainda, uma banca na Feira Popular de Coimbra, que decorre até 13 de julho e participa, igualmente, no Coimbra Hype Market.

Carregue na galeria para conhecer algumas peças produzidas com a arte do tear de Almalaguês.

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