Em miúda, Manon Desouse passava horas a ver os novos videoclipes e concertos dos seus artistas favoritos. Entre as coreografias elaboradas e os visuais extravagantes, a jovem, atualmente com 25 anos, dava por si hipnotizada por aquelas produções. Imaginava fazer parte daquele universo que a fascina — sem saber que o sonho se concretizaria.
A criativa foi responsável pelos looks que Sabrina Carpenter usou nos concertos de abertura da digressão mundial de Taylor Swift, a The Eras Tour. Em conjunto com John Mumblo, o stylist principal da artista, escolheu dois conjuntos desenhados por si para serem usados durante o mês de novembro, em países como a Argentina e o Brasil.
“É um trabalho que envolve uma grande pesquisa. No final do ano passado, viajei sozinha até Los Angeles (EUA) e queria encontrar artistas para trabalhar”, começa por contar à NiT. “Consegui encontrar-me com o John [Mumblo] para lhe mostrar o meu trabalho e, quando o viu, disse que tinha de fazer parte da tour.”
Durante os espetáculos, milhões de pessoas olharam para as peças monocromáticas, que criou em parceria com o designer Domingo Rodríguez Lázaro, fundador da etiqueta espanhola Dominnico. A marca, que já vestiu artistas como Lady Gaga e Rosalía, já era uma das favoritas de Manon.
“Gosto de criar relações genuínas com as marcas e, como já tinha comprado várias coisas dele para o meu arquivo, começámos a conversar online”, acrescenta. Desta relação, surgiu a oportunidade de o ajudar a desenhar duas peças que fazem parte da coleção de primavera-verão 2023 da etiqueta, intitulada Nenne.
O primeiro modelo é um minivestido de couro branco com uma minissaia plissada. Devido ao tecido técnico, muda de cor e torna-se rosa quando exposto aos raios UV. Já o segundo visual era totalmente rosa, composto por um top de camurça em formato de borboleta com alças duplas, um fecho de metal no centro do peito e um monograma com cristais Swarovski.
“Tenho um estilo pouco conservador, então tentei dar um toque pessoal à identidade mais contida da marca”, explica. Todo o processo foi feito à distância e, embora as peças não tenham sido feitas para Carpenter, os conjuntos são ajustáveis e acabaram por servir na perfeição à estrela pop.
O resultado não podia ter sido melhor. Entre publicações em revistas internacionais — como a “Vogue” espanhola — e centenas de partilhas nas redes sociais, o mediatismo surpreendeu Manon. “Nunca tinha feito parte de um projeto assim. Não tenho conta no X (antigo Twitter), mas quando escrevo o meu nome, todos os fãs estão a falar sobre o que fiz.”
Da parte da artista e da equipa, o feedback também foi 100 por cento positivo. “Ficamos todos super contentes”, refere a stylist, que destaca “a reação incrível” da cantora. Basta olhar para a postura confiante com que ostentou as criações da jovem portuguesa em palco.
Dos primeiros videoclipes às estrelas internacionais
Filha de pai português e mãe francesa, Manon viveu até aos 15 anos na capital nacional. Nessa altura, foi viver para o México devido a uma oportunidade profissional do progenitor. Entretanto, ainda passou uma temporada a estudar em Espanha e, em 2020, regressou ao país onde nasceu.
Assim que voltou a Lisboa, decidiu explorar a sua paixão pelo mundo da moda e lançar a sua marca de roupa, a Black Sheep. Embora o negócio tenha ficado em stand by, a loja online serviu como cartão de apresentação da criativa à indústria, que passou a estar atenta ao cenário musical no País, à procura das primeiras experiências.
Uma das primeiras oportunidades deu-se com o videoclipe da canção “Como Tu”, que junta Bárbara Bandeira e Ivandro. A stylist entrou em contacto após ter visto um anúncio da cantora à procura de assistentes para a equipa e juntou-se à produção de moda do projeto, que já soma 28 milhões de visualizações no YouTube.
Seguiram-se outras oportunidades internacionais, em concertos de nomes como a argentina Emilia Mernes e a espanhola Aitana. “Vou estar sempre grata à Francesca [Rinciari], que me ajudou a entrar neste mundo e sempre me passou muitos contactos. Foi uma das primeiras pessoas a ver algo especial em mim”, frisa, sobre a célebre consultora de moda.
No entanto, explica, não entra em contacto com ninguém a meio de uma digressão. “Faço sempre uma pesquisa enorme em cada trabalho. Quando fazia as minhas produções, queria complementar as sessões com peças que chamassem à atenção. Decidi fazer isso: procurar marcas boas, artistas independentes e criar coisas únicas.”
Manon tem outro projeto paralelo, no qual personaliza artigos como sapatilhas ou microfones com cristais Swarovski. Além de vender as peças na sua página de Instagram, a jovem teve a ideia de usar a sua paixão por pedras preciosas para complementar o seu trabalho como stylist.
“Queria criar algo com que as pessoas me pudessem identificar logo. Se quiserem alguém que faça este tipo de trabalhos, já sabem que podem contar comigo e que trabalho rápido”, diz. Em média, demora entre 2 ou 3 dias a adornar um par de sneakers novos, como faz com as famosas sapatilhas Air Jordan.
Embora se considere “uma sortuda”, o maior sonho de Manon é ver alguma celebridade a assumir este conceito como parte da sua identidade. Nathy Peluso, Duki e Trueno são alguns dos nomes que aponta, mas, para chegar até eles, sabe que não consegue ficar a viver apenas no nosso País.
“Gosto muito de Portugal, mas a indústria musical aqui é muito diferente. Quero fazer parte de outros projetos ligados à música em que acredito”, conclui. Até lá, é a partir do quarto onde guarda centenas de cristais Swarovski que envia (e recebe) e-mails com novas propostas — que prefere não revelar. O segredo é mantido até os objetivos se materializarem.
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