A indústria da moda pode ser muito cruel. Uma expressão que, muito provavelmente, não estará ler pela primeira vez — mas que terá alguma verdade. Aquilo que há seis meses era incrível, rapidamente deixou de o ser. No entanto, existem modelos que têm a capacidade de ocupar um lugar especial e eterno nos nossos corações. E quando se tratam de sapatilhas, parece o sentimento de apego a certos designs é ainda mais forte.
Ninguém pode negar: há pares que guardamos com carinho na nossa memória — e os da Sanjo são um desses casos. Entre 1920 e 1970 todos conheciam a marca que produzia as sapatilhas de eleição de muitos portugueses e dificilmente se encontrava alguém que não tivesse um no armário. Agora, vai conseguir admirar alguns dos modelos mais antigos da insígnia nacional — e não só.
Sim, leu bem. A exposição “Sapatilhas: Marcas Portuguesas do Estado Novo ao Virar do Milénio” vai juntar mais de 500 modelos de sapatilhas de 100 marcas criadas e produzidas em Portugal.
À Sanjo juntam-se nomes como Cortebel, e outros menos conhecidos, com menor produção ou propósitos diferentes, como, por exemplo, os modelos criados exclusivamente para a prática de desportos específicos. Celtex, Centro, Cross, Desportex, Gitto’s, Jorui, Mind, Valcor e Xávi Sport são algumas das marcas que tiveram maior expressão no mercado nacional e também estarão representados no conjunto exposto.
Todos espelham o contexto social, cultural, político e económico de uma época e é mesmo esse o objetivo. Em exposição a partir das 16 horas do dia 11 de fevereiro na Casa do Design, em Matosinhos, a mostra dará a conhecer “uma parte do legado da indústria nacional de calçado desportivo”, anunciam em comunicado.
A apresentação resulta numa parceria entre a autarquia e a esad—idea, o Centro de Investigação da Escola Superior de Artes e Design. Pensada numa numa altura em que “as sapatilhas ganham dimensão global como um dos ícones da cultura contemporânea”, a exposição tem curadoria de Pedro Carvalho de Almeida.
Da tecnologia usada no fabrico das sapatilhas às embalagens em que eram comercializadas, a exposição conta ainda com uma instalação audiovisual que “pretende avivar a memória” e convidar os visitantes a contribuírem com “informação, testemunhos ou questões, participando na construção ativa de uma memória identitária, coletiva e em permanente evolução”, adiantam.
Haverá também um ciclo de conversas com moderação do curador, onde serão abordados temas relacionados com a cultura e a indústria do calçado em Portugal. O primeiro evento da programação paralela, dedicado aos conteúdos da exposição e ao catálogo, acontece no dia 25 de Fevereiro. “Entre março e junho, discute-se o papel do designer como colecionador, as ligações entre o design, a indústria e o artesanato, e ainda os desafios e oportunidades no desenvolvimento sustentável”.
A exposição “Sapatilhas: Marcas Portuguesas do Estado Novo ao Virar do Milénio” pode ser visitada até dia 27 de agosto. Está aberta de segunda a sexta-feira das 9 horas às 12h30 e das 14 horas às 17h30. Aos sábados, domingos e feriados funciona das 15 às 18 horas. A entrada é livre.