Quando a criadora de conteúdos Carla Rockmore se tornou viral no TikTok, as comparações com Carrie Bradshaw não tardaram. Afinal, até partilham a primeira letra do nome próprio. Porém, ao contrário da personagem principal de “O Sexo e a Cidade” a designer não vive em Nova Iorque, mas em Dallas, no estado do Texas. Apesar dos 2.500 quilómetros que a separam da cidade natal de Carrie, a semelhança que muitos encontram entre ambas está dentro de casa de Carla.
O colorido e magnífico closet da escritora nova-iorquina continua a ser icónico,décadas após o fim da série. No entanto, o ícone de moda não tinha direito a dois andares repletos de peças coloridas e extravagantes, algo que a texana tem. Aos 55 anos, a criadora de conteúdos usa o TikTok como palco onde cria diariamente um espetáculo para mais de 1,3 milhão de seguidores apaixonados pela sua coleção e pelo seu estilo eclético.
Antes da pandemia, Carla não tinha uma conta nas redes sociais e nem se interessava pelo mundo online. Umas semanas antes dos confinamentos, estava na Índia a produzir a sua linha de joias. Quando a situação se agravou, recebeu um telefonema do marido a pedir-lhe para regressar aos Estados Unidos e não teve opção. “Deixei lá tudo, voei de regresso a casa e fiquei a ver Netflix durante duas semanas, mas precisava de fazer algo mais”. Sem nada à sua volta, como materiais ou uma equipa de trabalho, percebeu que tudo o que tinha era a sua coleção de roupa e um smartphone. Criou uma conta na rede social e, para a edição dos vídeos, contou com a ajuda do filho.
Durante um ano, entre março de 2020 e abril de 2021, não ultrapassou os 100 seguidores. No entanto, a partir do primeiro vídeo que se tornou viral, num fim de semana, passou a ter mais de 250 mil pessoas a acompanhá-la. “Estava a vestir-me para um jantar, mas não queria ir porque estava cansada e inchada. Acho que fiz algo engraçado e as pessoas adoraram.”
Os números de seguidores e visualizações subiram exponencialmente, mas todos os conteúdos continuam a ser improvisados. Embora admita que “devia escrever um guião”, recusa-se a olhar para o que as pessoas à sua volta fazem. Basta ter uma ideia na cabeça, como uma peça de roupa que quer mostrar, liga a câmara e grava, deixando que o outfit também seja a estrela.
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“[O meu estilo] não tem pés nem cabeça. Um dia posso ser minimalista, com Jill Sanders, e no outro sou mais Molly Goddard, com folhos e pérolas”, explica sobre o seu gosto “esquizofrénico”: “Sentir-me-ia estrangulada se tivesse de me colocar numa caixa com um só estilo”.
Sobre as comparações com Carrie Bradshaw, a tiktoker refere que é uma forma de se sentir validada. “Era exatamente assim que me vestia, com roupa excêntrica, que mistura vestidos de noite com peças para o dia a dia. Ambas reconhecíamos que a moda é uma forma de mostrar ao mundo quem somos sem palavras. Não sinto que seja uma vocação séria, não é uma cirurgia ao cérebro, então por que não brincar?”.
Antes dos primeiros vídeos se tornarem hiper populares no TikTok, ouvia poucas críticas aos seus visuais do dia a dia. No entanto, o pequeno grupo de pessoas à sua volta faziam comentários sobre o facto de ser uma espécie de irmã gémea da personagem interpretada por Sarah Jessica Parker. Quando os seus conteúdos se tornaram virais, as pessoas que apontaram a semelhança multiplicaram-se — o cabelo loiro e encaracolado ajudou.
Um closet de sonho
A maior parte dos conteúdos são gravados dentro do próprio armário da influencer, que impressiona graças à sua dimensão. Ocupa dois andares e conta com uma lareira e uma escadaria. As peças estão organizadas por estações e, em prateleiras cúbicas, guarda a sua extensa coleção de joias, a sua maior paixão.
“Se vierem a minha casa perceberem que não é tão grande quanto parece”, refere. No entanto, a forma divertida como está configurado ajuda a criar a ilusão de o guarda-roupa é um espaço megalómano. Aliás, foram os dois elementos mais inusitados que a levaram a optar por comprar a casa, assim que a viu à venda.
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Quanto à sua peça favorita, está sempre a mudar. Neste momento, destaca um top vintage de malha metálica queterá pertencido à modelo e atriz Jerry Hall. Tem muitos artigos de luxo, mas também não descarta alguns achados da Zara. Mais do que os itens, o closet ganha vida através das cores que ama, sendo o verde esmeralda a sua favorita.
À personalidade alegre e visual irreverente, a popularidade da influencer deve-se aos seus inúmeros truques de estilo. À NiT, conta a sua manobra principal. “Quando compro uma camisola, escolho um tamanho maior para ter tecido suficiente para poder vesti-la de várias formas diferentes. Se for uma peça grande e cruzarmos com umas calças, vai criar um drapeado diagonal lisonjeiro na cintura, que afina a silhueta e eleva a camisa”.
A carreira na moda
Carla Rockmore passou a infância numa casa rodeada de cores, já que a mãe era pintora e inspirou o seu trabalho enquanto designer. Ainda ponderou seguir uma carreira como atriz, mas optou por canalizar a sua imaginação para a moda. “Era uma criança muito criativa”, diz à NiT. “Aprendi a expressar-me quando falava com a minha mãe sobre proporções, formas e cores”, explica. Quando a progenitora a aconselhou a abandonar a ambição de ser atriz, por receio de que “nunca ganharia um tostão”, não teve dúvidas de que a sua vocação passava pela moda.
Ao acabar o secundário, formou-se em Modelagem e Desenho. Quando tinha 21 anos, já trabalhava como designer em Amsterdão, nos Países Baixos, numa pequena marca onde ficou durante vários anos. Aprendeu que não gostava de costurar, mas percebia de vendas, sabia falar com o público e o que a apaixonava era a conceção do vestuário.
“Quando regressei à América do Norte, desenhava as roupas. Outras pessoas cortavam e cosiam-nas, e eu vendia-as. Era um mercado diferente, estava a trabalhar para grandes fabricantes”, diz. “Havia uma equipa à minha volta para garantir que as minhas ideias chegavam ao mercado, então tinha lojas como a H&M às quais vendia as linhas.”
Nos dois filhos, com 18 e 21 anos, reconhece a necessidade que sentem de não destoarem das pessoas que os rodeiam. Carla, embora compreenda, deixou de sentir essa necessidade de aprovação assim que entrou para o mercado de trabalho, sobretudo porque estava numa área pautada pela criatividade. Nunca fez de propósito para se vestir de forma criativa, mas passou a usar precisamente o que gostava e o aquilo que achava que complementava a sua personalidade irreverente. Algo que nunca mudou.
O avançar da idade também nunca foi um problema “Alimento-me bem, faço exercício e bebo muita água. Vou envelhecer de qualquer forma, não posso mudar isso”, explica. Ao mesmo tempo, sabe que não seria tão popular como criadora de conteúdos se fosse mais jovem, nem seria capaz de trocar a sua confiança e experiência atual pela pessoa que era quando mais nova.
Deste hobby, que já se tornou um trabalho, retira ainda um dos seus maiores prazeres. Apesar de não ter pensado nisso numa fase inicial, o seu alcance permite-lhe chegar não só chegar a mulheres na casa dos 20 como às mães delas, que também se conseguem identificar com os temas retratados nos vídeos da influencer.
“Se posso mostrar que uma mulher pode ser dinâmica, bonita e empenhada aos 55 anos, talvez a geração mais jovem perceba que há vida depois dos 25”, conclui. “E a geração mais velha pensará, se tiver desistido, que pode colocar um batom.”
Se quiser acompanhar as aventuras de Carla Rockmore, pode seguir os seus conteúdos através do TikTok ou na sua página de Instagram. Carregue na galeria para ver mais imagens do estilo único da norte-americana.