Com mais de 15 anos de existência, o grupo Burel Factory tem vindo a destacar-se pela versatilidade no uso de uma matéria-prima tradicional. Com base na paisagem da Serra da Estrela, onde o burel — um tecido artesanal português — é produzido, continuam a alargar a oferta. Ao trabalho que têm vindo a desenvolver nas áreas da arquitetura, decoração e design de interiores, juntam agora a primeira linha de roupa.
“Quem compra projetos de arquitetura, não compra sapatos, carteiras ou casacos. Por isso, no ano passado sentimos necessidade de separar o conceito decorativo da moda”, conta à NiT Isabel Costa, diretora da empresa. “Decidimos utilizar os tecidos, que já produzíamos para designers e apresentávamos em feiras internacionais, para fazer as nossas próprias peças.”
A linha de vestuário foi apresentada esta quarta-feira, 25 de janeiro, e divide-se em dois grupos. O primeiro é composto por um conjunto de peças de montanha, inspirada no cenário da Serra da Estrela e foi criada com base em imagens captadas pela equipa.
O segundo lote de modelos “é uma explosão de cores”, que reinterpreta padrões que fazem parte dos arquivos da Lanifícios Império, a unidade fabril do grupo. A coleção inclui casacos, blazers, vestidos, calças, saias e até T-shirts. O objetivo é que a oferta seja o mais abrangente possível e, — mesmo que os agasalhos sejam o bestseller óbvio —, quiseram brincar com todas as silhuetas. Sempre com o foco na produção limitada, com fibras naturais e designs intemporais.
“Chamámos a coleção de Woolclopedia, porque é uma enciclopédia da lã. A primeira coisa em que pensámos foi como podíamos contar a história desta herança têxtil”, acrescenta Filipa Homem, a diretora criativa do projeto. “A vontade aumentou quando visitei Manteigas, porque a confeção é uma fábrica-museu com um arquivo gigantesco.”
Quando viu um anúncio do grupo, que queria recrutar um designer de moda, já conhecia à marca. Acreditou no potencial da iniciativa, mas percebeu que tinha uma missão pela frente: “Não [queremos] mostrar apenas de onde é que a lã vem, mas também o que custa fazer uma peça, saberem que há técnicas e pessoas por trás com um know-how específico”.
O uso do burel como principal matéria-prima foi o ponto de partida. No entanto, como o material é normalmente utilizado em design de interiores, é muito denso — tem cerca de 800 gramas. Ao lado dos mestres da fábrica, chegaram a gramagens mais baixas e trabalharam em acabamentos mais suaves para obterem um toque mais macio.
“Trabalhámos as fanelas, os tecidos de dupla-face — visíveis nos blazers — e todos os padrões que encontrámos no arquivo. Depois, mexemos nas cores. Usamos o xadrez, encontrado nos coletes dos pastores e mexemos naquilo que é tradicional para fazer algo novo. Foi um processo muito orgânico, não estivemos semanas a pensar nisto”, “acrescenta Filipa.
O principal objetivo é captar clientes de diferentes faixas etárias, mas com uma pequena coleção: “Queríamos que desse para os avós, para os pais e os netos”. Além disso, dividir a linha entre vestuário feminino e masculino implicava um investimento muito grande, por isso, apostaram na versatilidade.
Neste momento, a produção consiste em 100 peças com tecidos exclusivos da Lanifícios Império. De seguida, entram em contacto com parceiros no norte de Portugal que os ajudam a criar os produtos. Como é difícil uma fábrica aceitar uma quantidade tão reduzida, Filipa explica que foi preciso “que se apaixonassem pelo projeto” — um desafio que Isabel superou.
Em conversa à NiT, a diretora mantém o entusiasmo: “Queremos criar um ciclo de criar e preservar património. Trazer a pastorícia e quem faz parte desta arte até aos nossos dias. Em Manteigas, tudo o que podemos fazer, e que dê empregos, traz vida, natalidade, dinamiza a economia e valoriza o nosso saber-fazer. Estão muitas mãos envolvidas neste projeto”, acrescenta.
Esta linha orientadora é para manter, embora ainda não exista um caminho definido para os próximos passos. Isabel explica que “não existem grandes planos de futuro” — mas até ao final do ano vão existir mais duas linhas, que vão dar continuidade à história. Já conhecemos a Serra da Estrela e a fábrica. Seguem-se novos capítulos, que a diretora prefere ainda não revelar.
Para saber mais sobre a história da Burel Factory, leia o artigo da NiT sobre o trabalho da empresa no design de anteriores, assim como o artigo sobre a loja que inauguraram em Lisboa, no verão passado.
As peças da linha de vestuário da Burel Factory já estão disponíveis no site da marca e os preços variam entre os 58€ e os 366€. Carregue na galeria para conhecer as propostas, fotografadas por Marta Machado.