Tudo começou em 2008, com o encerramento da escola primária da aldeia de Anaguéis, em Coimbra, devido à falta de inscrições. Para aproveitar as instalações e não acabar ao abandono, um grupo de mulheres uniu-se para voltar a dar vida ao espaço. Levaram consigo diversos teares com o objetivo de manter a tradição acessa e ensinar a arte aos mais jovens. Nasceu assim a Associação Herança do Passado.
Desde então que Mara Pereira assumiu também a posição de presidente da associação. “A nossa principal função é manter a tradição viva, não apenas da tecelagem tradicional da aldeia como também os costumes. Além de atender sempre à necessidade das pessoas locais e ser uma forma de manter as pessoas mais velhas ativas”, salienta a responsável de 65 anos.
A associação é ainda palco de workshops focados nas mais diferentes áreas. “Como temos agricultores na região, é costume organizarmos formações de condução de tratores ou de poda”, explica. “Nunca queremos que deixe de ser uma escola”.
Ao longo do ano o espaço tem sido ponto de encontro entre tecedeiras da aldeia que partilham conhecimentos sobre técnica de tecelagem de Almalaguês, que é tradicional da região. “Possui características muito próprias, como as ranhuras do pente e a linha utilizada”, começa por explicar.
Cada tecedeira possui a própria oficina. “Há momentos da semana em que nos juntamos para partilhar ideias ou trabalhar em conjunto”. O resultado é uma peça única, repuxada e brilhante. Antigamente a arte era passada entre as gerações. Aliás, a maioria das tecedeiras já trabalha desde os 16 anos.
Para contrastar com as restantes membros, Mara descobriu a tecelagem de Almalaguês apenas aos 30 anos. Por ser professora do primeiro ciclo, mudou-se para a aldeia e tornou-se uma das caras da tele-escola. Entre conversas com as colegas, cruzou caminho e aprendeu as técnicas desta arte com uma das professoras de produção plásticas. Até hoje nunca mais parou.
Com o crescimento da associação e numa tentativa de exibir os trabalhos feitos, a Herança do Passado já esteve em várias lojas de diversos pontos da cidade de Coimbra que acabaram por fechar portas. O local mais recente foi cedido pela Câmara Municipal de Coimbra na Rua Direita e todos os dias há uma pessoa diferente no espaço. Agora, durante o mês de agosto, a Associação foi convidada a partilhar o seu trabalho no Fórum Coimbra com uma nova pop up no shopping.
O novo espaço está aberto das 10 horas às 23 horas, de segunda a sexta-feira. Aos sábados e vésperas de feriados, o espaço só fecha à meia-noite. A banca tem imensos produtos feitos à mão, desde marcadores de livros a toalhas. Ao todo estão presentes os trabalhos de 19 artesãs. E todos podem ser adquiridos. Vai estar ainda disponível um tear antigo onde os adultos e os miúdos podem experimentar esta arte.
Até ao final do mês pode adquirir as peças de Almalaguês tradicional. Os valores variam entre 1€ e 100€. Há produtos que podem ultrapassar este valor, dependendo do trabalho em questão, como, por exemplo, as toalhas, tapetes e até mesmo colchas que poderão chegar aos 1000€.
Se ficou curioso com o trabalho da Herança do Passado, no dia 21 de setembro a Associação promete sair à rua nas mais diversas praças emblemáticas de Coimbra. Será uma oportunidade para apresentar todo o processo de tecelagem em secções.
Carregue na galeria para conhecer a nova banca da Herança do Passado, no Fórum Coimbra.