Irina Pires, 42 anos, nasceu no Barreiro e cresceu no distrito de Castelo Branco, na aldeia de Penha Garcia, rodeada pelo mundo da arte. A mãe era tricotadeira, o avô era artesão e organizava feiras e as tias eram apaixonadas por pintura. Quando entrou na escola primária, decidiu inscrever-se no clube da saúde e no clube da costura, duas áreas que, mais tarde, resultaram nas suas duas vertentes profissionais, e, que à primeira vista, podem não estar relacionadas.
“A grande pioneira da enfermagem Florence Nightingale dizia que a enfermagem é uma arte. E é verdade. Ser enfermeira requer muita criatividade e imaginação para dar resposta às necessidades das pessoas. As carteiras para mim são também uma arte, a arte de fazer algo para os outros”, revela Irina Pires à New in Coimbra.
Apesar de ter o “bichinho” pela arte, aos 18 anos mudou-se para Coimbra e iniciou um novo ciclo na sua vida ao ingressar na licenciatura de Enfermagem. Atualmente é enfermeira nos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde trabalha também no gabinete de qualidade e segurança do doente e é responsável pela rubrica entrevista das Notícias de Enfermagem do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Ama o que faz, mas queria desafiar (ainda mais) a criatividade, que sempre borbulhou dentro de si. Pôs mãos à obra e transformou a sua paixão pela moda e fotografia num negócio ao tornar-se designer de carteiras.
“Depois de uma viagem a Paris, vim cheia de ideias e comecei a fazer experiências e, passo a passo, fui criando carteiras personalizadas com uma técnica da minha autoria, caraterizada por um bordado específico, que é a identidade da marca”, conta.
Através de um processo criativo e de uma técnica que foi amadurecendo, o objetivo passou sempre por criar carteiras únicas, com significado e que marcassem a diferença por onde passassem. Neste momento, Irina tem dois tipos de carteiras: plastificadas e em pele, com valores compreendidos entre os 25€ e os 45€. “Aprendi a experimentar vários materiais. Hoje, ainda estou a aprender. Continuo a fazer experiências. Sou uma eterna insatisfeita”, garante.
Irina foi mãe aos 25 anos e se há carteira que mais a marcou foi a primeira que criou com desenhos do filho. De 2012 para 2022, já criou mais de seis mil carteiras e afirma ter sido “um caminho sempre muito intenso porque as ideias surgiam com muita espontaneidade”. E acrescenta: “Nunca vivi os obstáculos como algo negativo, foram aprendizagens que fui adquirindo e ajudaram-me a construir um caminho consolidado e a ter mais experiência e confiança. Hoje, as minhas criações são feitas com muita tranquilidade”.
O negócio foi crescendo e, agora, além de carteiras cria acessórios, roupas upcycled e objectos de decoração, que vende tanto na página online, ou na loja física, Metamorfose: atelier moda & arte, que abriu em 2020. “A loja é uma referência física da marca, que dá a possibilidade de as pessoas poderem ver e tocar nas carteiras e escolher aquelas que mais se identificam ou de poderem encomendar uma carteira personalizada”.
É para o outro que Irina trabalha e cria a sua arte. “Penso muito na pessoa enquanto estou a criar. É um trabalho artesanal. Sou eu que faço a imagem, o design e a construção toda a carteira. É 100 por cento português e resulta da minha criatividade”, explica.
Ao dedicar-se por completo às suas criações, é crucial uma gestão inteligente do tempo. Quando não consegue estar presente na loja, tem uma pessoa que a ajuda a atender os clientes. Nos fins de semana, aproveita todos os minutos para se dedicar à arte. É aqui que a família revela ser um braço direito e um apoio. “A minha família é incrível. Quando os meus pais vêm cá ajudam-me a fazer as carteiras. A minha mãe borda e o meu pai corta os materiais. Acabam por se envolver também no projeto”, descreve.
A juntar a este negócio tem sempre projetos em curso e ideias que quer pôr em prática, tendo já no currículo a organização de desfiles de moda e exposições na cidade. “A ideia surge, solidifico e faço acontecer. Não penso no futuro, o presente é onde deposito o meu foco de atenção. Os meus sonhos são metas concretizáveis, acho que nem chegam a ser sonhos”, remata.
Carregue na imagem para conhecer algumas criações de Irina Pires.