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Reabriu a mais antiga taberna de Coimbra e está cheia de petiscos

Com um ambiente familiar e de história, a Ti Ermelinda é um verdadeiro ponto de encontro na cidade.
Luísa Lucas mostra o documento mais antigo da tasca.

Ainda vamos a subir a rua Fernandes Tomás, depois de passar o Arco da Almedina, e já cheira a chouriço assado. A meio da rua, o louro seco pendurado na porta denuncia que está por ali uma taberna. Está e não é uma qualquer. A taberna da Ti Ermelinda é a mais antiga de Coimbra. Fechou com a pandemia e, depois da morte da antiga proprietária que lhe dava o nome, tinha o fim decretado. Porém, a vizinha do lado, Luísa Lucas, não deixou que assim fosse. Pegou no negócio e reabriu a tasca em outubro, com uma carta cheia de petiscos e, claro, vinho a copo.

A casa tem mais de 140 anos e já teve inúmeros proprietários. Carlos Correia e Ermelinda Gonçalves foram os que mais lideraram o projeto durante mais tempo. Compraram o espaço em 1975 por 70 contos (350 euros). O casal, natural de Seixo da Beira, em Oliveira do Hospital, foi a alma da taberna nos últimos anos. Todos conheciam a Ti Ermelinda, mulher que acolhia toda a gente e passava o tempo a fazer os seus tapetes de Arraiolos. Só a doença foi capaz de a afastar do balcão onde se sentia feliz. Acabou por morrer no ano passado. 

Os antigos donos, Carlos e Ermelinda.

Luísa Lucas, 46 anos, proprietária dos restaurantes Fangas e Fangas Veg, na mesma rua, conhecia bem o casal, com quem mantinha uma relação de amizade. Quando viu que as portas não se iam voltar a abrir, decidiu “aproveitar a oportunidade”, conta à New in Coimbra. No dia 5 de outubro, reabriu a taberna e agora “o senhor Carlos” é um dos clientes mais fiéis. 

“Não fizemos obras, só demos alguns toques de decoração e alterámos algum mobiliário, quisemos mantermo-nos fidedignos ao original”, revela Luísa. Atrás do balcão numa das prateleiras, mantém-se a fotografia de Carlos e Ermelinda, como se estivessem a vigiar o negócio. A taberna é “complementar” aos almoços e jantares servidos nos Fangas e muitas vezes, quando as casas estão cheias, funciona como “sala de espera”. 

O espaço é pequeno, mas muito acolhedor. O candeeiro de cestaria e o grande balcão ao fundo recebem os clientes que se sentam em pequenos bancos de madeira. Nas paredes há recortes de jornal e livros de atas expostos com as honras que merecem.

“São coisas antigas que os anteriores proprietários me passaram como se autênticos tesouros fossem”, revela Luísa Lucas.

E são. Estes livros de atas foram escritos por estudantes que criaram a Confraria Ermelindina, em homenagem à taberneira que estimavam. As reuniões aconteciam à mesa da tasca e tudo era anotado, até as idas à casa de banho. “Que fique assente que a padroeira ofereceu um pires de azeitonas”, lê-se num dos muitos excertos cheios de humor e ironia. De entre o espólio, salta à vista uma folha de teste da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra preenchida com uma referência ao curso de Halterocopismo (Aplicadíssimo). 

“É a mais antiga tasca de Coimbra em funcionamento”, diz com orgulho Luísa Lucas, que procura introduzir no espaço o conceito de “beber um copo e trincar um petisco ao fim da tarde” sem fugir da tradição que tem servido para atrair turistas. “Não devemos deixar morrer as tabernas, mas sim torná-las mais modernas, mais polidas, mas sempre direnciadoras e originais”, alerta, dando como exemplo o estatuto alcançado pelas bodegas em Espanha e pelas tratorias em Itália.

“Ter uma taberna é como abrir a porta da nossa casa e servir o que há na cozinha”, acredita a empresária.

Na Ti Ermelinda, essa tarefa é de Henrique Matos. Era funcionário do restaurante Fangas e foi desafiado a tomar conta da tasca. É ele quem serve à mesa, está ao balcão e até cozinha. O delicioso bolo de chocolate, vendido à fatia, tem receita dele. “Recebo os clientes e faço-lhes uma visita guiada, conto um pouco da história da casa e dos seus anteriores proprietários”, explica à NiC. 

Frases como “Ó mulher, tem calma”, “Ó homem, cala-te” ou “Só bebo tinto” estão estampadas em pequenos azulejos pendurados nas paredes e fixos nas mesas. Não falta o telefone antigo, de disco, as medidas de vinho e a ferradura para afastar a má sorte. 

Noutros tempos, esta taberna abria às 7 horas e o copo de vinho custava oito tostões. Havia sempre presunto, queijo e pão sobre a mesa, para acompanhar o vinho que ainda estava em pipas. Agora. o espaço abre de sexta a terça-feira, entre as 15 e as 23 horas. O copo de vinho custa 1,5€, se for um jarro de meio litro o preço é 4€ e de um litro 7,5€. Como esta continua a ser uma casa de estudantes, não faltam os shots, a 1€ cada, e também há sangria, a 9€ o jarro. Para comer há bifanas no pão (2,5€), sandes de queijo (1,5€) e de presunto (1,70€), além da tradicional patanisca (1,80€), as azeitonas (2,5€), chouriço, morcela ou alheira (8€), bôla de carne (2,5€) ou torresmos (5€). 

De seguida carregue na galeria e veja as imagens da mais antiga taberna de Coimbra em funcionamento. 

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA

    Rua Fernandes Tomás, n.º 59
    3000-168 Coimbra
  • HORÁRIO
  • De sexta a terça-feira das 15h00 às 23h00
PREÇO MÉDIO
Menos de 10€

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