Em 2018, Raquel Florêncio, atualmente com 38 anos, acabava de chegar a Portugal, com o filho, em busca de uma vida melhor. Instalou-se em Leiria, onde “já fez de tudo um pouco” — passou por lares de idosos, cafés e restaurantes—, porém, faltava algo para se sentir “completamente realizada”.
Mudou-se para Cantanhede há cerca de quatro anos, após conhecer o atual marido e pai do seu segundo filho. Pouco depois de se instalar na região, pensou abrir um negócio, para “deixar um legado” ao primogénito, Lucas, de 19 anos. “Ele já trabalhava numa fábrica, mas em Coimbra. Queria tê-lo perto mais perto de mim e ajudá-lo financeiramente. Como sabia que ele era muito responsável, a minha meta era deixá-lo a tomar conta de qualquer empreendimento que eu começasse”, explica. Assim, surgiu a ideia de fundar uma loja dedicada ao fruto do Brasil que tem feito furor em Portugal: o açaí.
O destino trocou-lhe as voltas, quando, há dois meses, Lucas morreu num acidente de mota. As obras do espaço, que estavam já perto do final, ficaram em suspenso, assim como “o mundo” de Raquel. Passou algumas semanas em luto no Brasil e, quando retornou, voltou a tomar as rédeas ao negócio. “Vi que tinha duas hipóteses: ou me entregava à dor da perda e me perdia no sofrimento, ou me obrigava a usar a situação para crescer. O pesar faz parte do processo”, conta à NiC. “O Lucas gostaria de me ver continuar. Hoje sei que se sobreviver a isto, consigo aguentar qualquer coisa.”

Em jeito de “homenagem” ao filho, o Paraíso do Açaí abriu portas no sábado, 9 de agosto, na Rua Dom Afonso Henriques, em Cantanhede. O nome, escolhido pelo marido, que “tem sido uma grande ajuda”, destaca a estrela da casa. O açaí, com o valor de 22,5€ por quilo, é importado diretamente do Brasil e a escolha do fornecedor foi, garante a proprietária, bastante demorada. “Experimentei vários até ter a certeza de que a qualidade estava garantida. Há alguns açaís em que praticamente só se sente água. Tinha de saber que aqui não seria assim”, assegura.
Entre os sabores disponíveis, destacam-se o morango, a banana, o cupuaçu (fruto da Amazónia que pertence à família do cacau, considerado um superalimento, como o açaí) ou leite Nido, sendo, ainda, possível acrescentar outros frutos, cereais ou toppings. Com objetivo de agradar a brasileiros e portugueses, o menu apresenta outras opções, como gelados (20€ o quilo); refrigerantes (1,50€); pastel com caldo de cana (4,5€); coxinhas (2€); ou rissóis (1,8€). “Prefiro começar com uma carta mais pequena, mas ter a certeza de que aquilo que ofereço é, de facto, muito bom. Em breve terei mais oferta”, admite.
Lá dentro, o ambiente “de conforto” é marcado pelos tons roxos e amarelos e por uma decoração que remete para a Amazónia: há quadros com animais e uma parede floral de onde sobressaem os verdes.
O Paraíso do Açaí está aberto todos os dias, das 10 horas às 23 horas. Atualmente, tem capacidade para cerca de 40 pessoas, porém, Raquel planeia criar uma esplanada em breve, para conseguir receber mais clientes.