Miguel Luís, 49 anos, ficou órfão aos cinco. Foi criado na Casa do Gaiato, em Semide, Miranda do Corvo, e ainda novo começou a trabalhar na restauração. Passou pelas cozinhas de vários restaurantes conhecidos da cidade e, mais tarde, com “muito trabalho e esforço”, tornou-se empresário e representante da carne de raça arouquesa DOP.
Teve casas de renome como a Adega do Leite, o Bar Navarro e o 007, que acabou por fechar por causa da pandemia. Pai de dois rapazes e uma rapariga, decidiu ajudar o mais velho, de 19 anos, a lançar o seu próprio negócio. No Manjar da Quinta, que abriu a 18 de agosto, onde era o antigo Telheiro, junto à Estação Velha, quem manda é o filho.
“Ele é que é o patrão. Eu estou aqui para ajudá-lo, mas a ideia é dar-lhe um apoio e sair daqui a um ano”, avança Miguel Luís à New in Coimbra. João Carlos Marmé ainda está a estudar Hotelaria na Escola Profissional Beira Aguieira, em Penacova, mas já sente a responsabilidade que o pai, ansioso por “fazer dele um homem e lhe deixar a vida feita”, lhe incute.
O restaurante é especializado em carne de raça arouquesa DOP e pratos regionais, como a chanfana, o cabrito assado ou o leitão à Bairrada. “A raça arouquesa foi uma paixão que tive”, conta Miguel, recordando os tempos em que esteve em Alvarenga (Arouca). “É uma carne tenra e suculenta, porque as vitelas andam no monte e comem carqueja”, descreve, falando da preocupação que tem em “não deixar acabar a tradição”.
Aqui pode provar a “verdadeira” posta de vitela arouquesa (16€), a vitela assada à alvarenga (9,50€), a generosa costeleta de vitela com batata a murro (14,50€), naco (14€) ou alheira de raça arouquesa com ovo (7,50€). “Tudo carne certificada e da máxima qualidade”, assegura Miguel Luís que conhece bem as melhores carnes do País e corre feiras nacionais e internacionais de gastronomia em representação dos produtores.
Com uma aposta forte na cozinha tradicional, o Manjar da Quinta tem um forno a lenha que usa para assar leitão, chanfana e cabrito. “Temos de acreditar na nossa gastronomia que é muito boa”, defende o empresário.
Entre as carnes, há uma grande variedade de pratos com “carne de porco 100 por cento nacional”, como secretos de porco preto (14,50€), costeletas, barriguinha, febras ou entrecosto (8,50€). Para quem prefere peixe, a ementa tem opções como o bacalhau com broa à moda antiga (14,50€), gambas panadas com arroz à beira-mar (18,50€) ou filetes com arroz de berbigão (12,50€). A carta de vinhos também percorre o País com néctares do Dão, Alentejo, Douro ou Bairrada. Não faltam os rosés e espumantes.
A localização, na zona norte da cidade e próxima da Estação Velha, faz com que as diárias, por 9,50€ — ou 10,95€ com sobremesa — sejam um atrativo. “Esta casa já teve muito nome e agora estava fechada, com muito esforço, porque é um espaço caro, queremos que volte a ser uma casa conhecida e com muitos clientes”, afirma Miguel Luís, referindo-se ao restaurante Telheiro que ali funcionou durante vários anos.
Quem for jantar ao Manjar da Quinta corre o sério risco de se cruzar com os jogadores da Académica, que sempre tiveram uma ligação àquele espaço, o que é visível pelos quadros na parede e o cachecol preto e branco sobre o balcão. “É o nosso clube, vamos sempre apoiá-lo”, afirma Miguel Luís que serve diariamente o jantar à equipa da Briosa.
“Queremos que as pessoas entrem e se sintam em casa”, afirma João Carlos, ainda não tão habituado como o pai às relações públicas. “Ele está aqui de corpo e alma, com humildade, que seja um lutador e um vencedor como o pai foi”, declara Miguel Luís, de olhos cheios de orgulho e sem esquecer os tempos em que ele, gaiato, vendia o “jornalinho” da instituição que o acolheu pelas ruas de Coimbra.
