Miranda do Corvo é uma das terras onde, inegavelmente, se faz boa chanfana. Prato que, segundo reza a lenda, surgiu no Mosteiro de Semide, onde as freiras terão descoberto uma fórmula para cozinhar e conservar a carne resultante do pagamento das rendas utilizadas pelos agricultores e rendeiros locais. Cabras e ovelhas eram alguns dos animais que era entregues como forma de pagamento.
“Como as freiras não tinham disponibilidade nem meios para manter tão grande rebanho (…), (passaram a) cozinhar e conservar a respetiva carne, aproveitando o vinho que lhes era também entregue pelos rendeiros, o louro que tinham na sua quinta, bem como os alhos e demais ingredientes”, explicam os locais.
Surge então a chanfana, um prato “que era religiosamente guardado ao longo do ano nas caves frescas do mosteiro” porque “a carne assada no vinho mantinha-se no molho gorduroso solidificado, durante largos meses”.
Não é, contudo, a única lenda que procura desvendar as origens da receita. Outra das versões aponta para que tenha sido criada”durante a terceira invasão francesa, altura em que as freiras inventaram esta fórmula gastronómica para evitar que os soldados franceses roubassem as cabras e as ovelhas da região.
Há ainda uma terceira lenda que defende que a receita da Chanfana nada tem a ver com o Mosteiro de Semide, mas apenas com as invasões francesas. Desta forma, há quem conte a história de que quando as tropas francesas andaram pela região da Lousã e de Miranda do Corvo, a população envenenou as águas para matar os franceses, mas como era preciso cozinhar a carne habitualmente consumida (de cabra e de carneiro) e, como a água estava envenenada, utilizou-se o vinho da região.
Lendas à parte, estamos a falar de um dos pratos que foi eleito como uma das 7 Maravilhas de Portugal à Mesa e que, além de Miranda do Corvo, é também uma das especialidades dos concelhos vizinhos da Lousã e Vila Nova de Poiares. Mas existem diferenças na forma como este prato é confecionado em cada um destes concelhos. Apesar de a base em todos eles ser o vinho tinto e carne de cabra velha, a chanfana é cozinhada de formas diferentes, no forno ou, por exemplo, no caso mirandense, em caçoilas de barro vermelho.
É este prato que será servido em 15 restaurantes do concelho até ao próximo 1 de maio no âmbito da Semana da Chanfana. Um evento promovido pelo município de Miranda do Corvo que inclui um conjunto de eventos destinados a promover a gastronomia tradicional do concelho. Mas as ementas contam também com pratos típicos como a sopa de casamento (couves e pão enriquecidos com o molho da chanfana) e os negalhos (tripas de cabra assadas em vinho tinto).
Rui Godinho, vereador da câmara municipal, afirma que a iniciativa pretende “promover a gastronomia tradicional, sobretudo o seu prato mais conhecido”, com a autarquia a agendar para este período um conjunto de atividades culturais. Este sábado, 22 de abril, tem lugar a apresentação do Roteiro Poético, e, no domingo 23 de abril, realiza-se o concerto comemorativo do 25 de Abril, intitulado “Viva Zeca”, com António Ataíde e Inês Graça, na Casa das Artes. No dia 28 de abril, a Casa das Artes acolhe a antestreia do telefilme “O Pio dos Mochos”, rodado no concelho de Miranda do Corvo na segunda quinzena de maio de 2021.
Trata-se de uma obra cinematográfica realizada por Diana Antunes, com produção da Ukbar Filmes, numa parceria com a RTP 1, baseada na obra “Contos Vermelhos”, de Soeiro Pereira Gomes, que remonta às décadas 20 e 30 do século XX, inspirado numa manifestação laboral de 1936.
No programa dos Sabores da Chanfana está incluído ainda o XX Capítulo da Real Confraria da Cabra Velha, que vai decorrer na Casa das Artes e no Mosteiro de Semide.
Para os interessados em saber de que forma é que é feita a Chanfana, deixamos aqui a receita.
O que precisa
Carne de cabra velha; vinho tinto; alho; louro e sal
Como fazer