As melhores reviews deste restaurante típico de Coimbra encontram-se na sala de jantar. Os clientes escrevem mensagens em pedaços das toalhas de papel, que são depois colados nas paredes. No restaurante Zé Manel dos Ossos há estudantes, trabalhadores, políticos, atores e agora muitos turistas que perpetuam a visita ao mais conhecido mural de papel de Coimbra.
O Zé Manel dos Ossos é um dos restaurantes históricos da cidade, que mantém o aspeto tradicional e as receitas originais, como os ossos ou a feijoada de javali. Fica no Beco do Forno n.º 12, na Baixa de Coimbra, não aceita reservas, mas vale a pena esperar na fila para provar.
Os ossos cozidos são o petisco que deu o nome à casa, que começou por ser uma taberna, fundada por José Manuel Ribeiro Franco. Nasceu em Penela em 1932 e “veio para Coimbra depois do exame da quarta classe” contou à New in Coimbra o filho, António Franco.
Recordando o pai com saudade, António lembra que “foi no dia do exame que o pai calçou os primeiros sapatos” e rumou à cidade, com dez anos, para trabalhar em outras tabernas. Em 1959, “estabeleceu-se a solo, tendo arrendado uma casa de vinhos e de pasto, a que poria o nome de Zé Manel”. António Franco revela que nasceu nas “águas furtadas do estabelecimento” em tempos de “muitas dificuldades”.
Um dia, [o pai, José Manuel] resolveu cozer uns ossos de porco para acompanhar o vinho que servia, dando origem ao famoso petisco, copiado entretanto por outras casas de Coimbra” – explica.
Zé Manel dos Ossos acabou por “ficar com o cognome” e trabalhou até aos 65 anos, “na casa que aparece nos principais roteiros mundiais sempre que se fala de Coimbra e que passou em inúmeros canais televisivos um pouco por todo o mundo”.
Cozidos, os ossos do espinhaço do bovino ou do porco, começaram a ser servidos como petisco a acompanhar o vinho, maioritariamente para clientes estudantes. Na cozinha foi introduzindo novos pratos tradicionais na ementa, como a feijoada de javali, os cogumelos aporcalhados ou as barriguinhas com arroz de feijão. As receitas do fundador, falecido em 2018, foram aprendidas pelos funcionários no ver fazer e continuam a ser preparadas com produtos genuínos.
Hoje gerido por Mário Simões, antigo empregado, o restaurante Zé Manel dos Ossos é um local obrigatório para completar uma visita a Coimbra. Despretensioso e sem ambição de crescer para se manter fiel ao original, o restaurante mantém-se nas mesmas instalações.
Mário Simões pretende que o restaurante se mantenha como taberna coimbrã, mas aos turistas de várias nacionalidades mostra-se poliglota. À New in Coimbra, sem parar o gesto treinado de levar as travessas, o bem disposto gerente recorda que no fim do dia ainda vai “para a quinta em Lamas fazer a vindima”. Afinal, o vinho servido no número 12 do Beco do Forno, em Coimbra, é mesmo vinho da casa.
Muitas memórias descreveriam o ambiente de boa disposição do restaurante, onde está afixado que “não se serve café”. Entre as estórias, conta-nos uma das mais recentes: João Cravinho, na altura ministro da Defesa, foi visto a “ajudar a levantar as travessas para ser atendido mais depressa”.
Dos dizeres que ficam na memória de quem vai provar os ossos, há recados com humor e entre estes um que se destaca, por estar numa barra de madeira: “O vinho não cai mal, quem cai mal somos nós”.
Aberto de segunda a sábado, ao almoço e ao jantar, com preços desde os 5€ por petisco ou cerca 15€ por prato, o Zé Manel dos Ossos encerra ao domingo.
De seguida carregue na galeria e conheça melhor este restaurante.
