O gin conquistou definitivamente os portugueses. E não só adoramos bebê-lo, como também já o começámos a produzir com qualidade. Nos últimos anos, foram surgindo várias marcas e a ideia de que esta é uma bebida importada foi-se esbatendo. De entre os gins nacionais há um que conta uma história de amor e resiliência. Feito por uma empresa familiar que o produz de forma totalmente artesanal, em Côja, no concelho de Arganil, presta homenagem ao renascer das cinzas da Serra de Açor após os incêndios de 2017.
“Não queríamos que fosse só mais um gin que se lançava no mercado. Depois dos incêndios, pensámos usar todos os sabores que tínhamos perdido, porque infelizmente a nossa serra ficou bastante devastada”, explica Dina Brito, 39 anos, da Donanna, garantindo que a bebida é a estrela da empresa que se dedica também à produção artesanal de licores, doces e bolachas.
“O que o torna especial é precisamente ter esses sabores da serra, nomeadamente o zimbro, castanha, medronho e carqueja, além, claro, de alguns segredos”, refere. Foi nos produtos endógenos que refloresceram no ano seguinte aos grandes incêndios que de uma forma determinada se aprimorou a receita na origem deste gin. Talvez por isso, deva sempre ser servido com folhas verdes, de hortelã, por exemplo.
“É para colorir a nossa serra, de novo”, diz Dina, que largou Seia onde trabalhava na área da hotelaria para se dedicar em exclusivo à empresa fundada pela mãe, na vila de Côja.
Chama-se Gin Donanna Açor e está a fazer um enorme sucesso, assegura Dina, revelando que muitos clientes o escolhem como presente para o Natal, aniversários ou dias especiais. “Vendemos imenso, as pessoas gostam muito”, frisa.
Muito aromático, pode ser servido simples, ou misturado com água tónica, casca de limão e hortelã. É vendido em garrafas de 500 ml que podem ser simples (19€) ou com uma caixa de madeira a lembrar as casinhas de pedra da aldeia do Piódão (25€). Está disponível online, na plataforma Saber Intemporal e em algumas mercearias, lojas gourmet e garrafeiras do País. Em Coimbra, por exemplo, pode encontrar os produtos Donanna no espaço Da Serra à Cidade.
A empresa, familiar e 100 por cento artesanal, nasceu há 17 anos. “A minha mãe fazia licores para consumo e para oferecer, seguindo uma receita que já era da avó dela. Um dia, em agosto de 2005, por brincadeira decidiu levar alguns à Feira da Nossa Avó que se realiza todos os anos em Côja. Levou 47 garrafas e às 10h30 já não tinha nenhuma”. Como resultou, um mês depois repetiu a dose noutra feira e desde aí nunca mais parou.
Para dar continuidade ao negócio, a mãe de Dina, Ana Maria Brito, preparou instalações para a adequada confecção de produtos alimentares, que seguem apertadas regras. “Hoje somos uma unidade de produção artesanal certificada, o que significa que tudo o que produzimos é feito de forma artesanal e com recurso a produtos de qualidade e certificados”, refere a responsável.
Ana Maria tem 65 anos e contou com o apoio financeiro do marido, Leonel, que toda a vida trabalhou nos transportes internacionais e agora também vende os licores em feiras. “Ele foi a alavanca que ajudou a concretizar o início deste sonho”, sublinha a filha.
O casal tem mais duas filhas: Cláudia, de 36 anos, e Carla, de 44. A mais velha ficou desempregada em 2010 e lançou-se na promoção e distribuição dos produtos Donanna. Criou a plataforma Saber Intemporal que hoje comercializa não só a marca da família como outras. Um ano mais tarde foi a vez de Dina.
“Queria acompanhar melhor o meu filho, hoje com 12 anos, e decidi despedir-me e vir para ao pé da minha mãe”, recorda.
Pouco depois estava ela e o marido, Vítor, a gerir o negócio. A mãe já se reformou, mas continua a correr o País, em feiras e eventos, a divulgar os seus artigos.
Além das 13 variedades de licores, que já receberam sete prémios nacionais, com preços a partir de 2,80€, e do gin do Açor, a Donanna dedica-se ao fabrico de doces (cinco deles também premiados), compotas, aguardentes, mel e bolachas. Um dos produtos estrela é a marmelada com vinho do Porto (3,80€) que tem conquistado fama nacional.
“Damo-nos ao trabalho de ir ao pomar selecionar o marmelo que queremos, o seu aspeto, estado de amadurecimento, e depois juntamos carinho e dedicação”, garante Dina.
As embalagens são embrulhadas em papel vegetal com um pequeno cordel, o que lhe dá um aspeto vintage. A verdade é que a receita é antiga e o modo de fazer também é o tradicional.
“Quando temos um fornecedor que nos lança um desafio, arregaçamos as mangas e fazemos novos produtos”, assegura Dina. “Exemplo disso é o chutney de cogumelos. Trabalhamos em parceria e os nossos produtos ajudam a alavancar os dos outros e vice-versa”, exemplifica.
“Todos ajudámos a minha mãe quando criou o negócio porque o objetivo era ela ter uma ocupação, era bom para ela. Estávamos longe de imaginar que um dia viria a ser esta a nossa vida”, afirma a filha do meio. “Agora fazemos questão de dar continuidade ao sonho dela e gostava que um dia os nossos filhos fizessem o mesmo”, remata.
De seguida carregue na galeria e conheça os produtos da marca Donanna.