Spoiler alert: este é um artigo rico em calorias. Dito isto, vamos à história de um arroz doce que se come de uma ponta a outra. Taça e tudo. A solução, inventada em plena pandemia, fez deste um produto sustentável e uma ajuda preciosa para o Centro Social e Paroquial das Meãs do Campo (CSPMC), em Montemor-o-Velho, realizar os seus projetos. É tão bom, tão bom que nem a cantora Bárbara Bandeira lhe resiste.
Na última edição da Feira do Ano do concelho, em setembro, a instituição de solidariedade social vendeu mais de meia tonelada de arroz doce. De cada vez que era feito um tacho, ouvia-se um sino a tocar para chamar quem quisesse rapar o que restava. A cantora Bárbara Bandeira, que atuou no evento, foi uma das que não resistiu à tentação.
O arroz doce começou a ser feito por voluntárias para vender em feiras e outras iniciativas com o objetivo de “angariar dinheiro para fazer face às despesas da instituição”, explica Susana Medina, 42 anos, que pertence à direção da IPSS desde novembro de 2019. A sobremesa ganhou fama e começou a ser muito solicitada.
O segredo? “É ser feito com produtos locais: o arroz é carolino do Baixo Mondego e o leite também de produtores locais, vamos mesmo buscá-lo à ordenha, é maravilhoso”, revela a responsável, que trabalha no setor de recursos humanos de uma fábrica da zona. Acrescenta-se o açúcar, o pau de canela e o limão, também da terra, muitas das vezes trazido por quem tem em casa. “Dizem-nos: olha que tenho lá limões, queres que te traga?”.
O arroz doce é feito no Patio Bar da instituição, na aldeia, e a confeção envolve toda a comunidade, explica Susana Medina. “Seja porque nos encomendam, seja porque ajudam a fazer ou nos trazem produtos para a confeção”, explica. As 45 funcionárias são as doceiras de serviço e a elas juntam-se dois voluntários, que apoiam mais nas questões logísticas.
Durante a pandemia a produção não só não parou, como até aumentou. “Começámos a entregar porta a porta no concelho de Montemor-o-Velho. Como não havia feiras precisámos de nos reinventar “, frisa Susana. Mas havia um problema: as taças de plástico usadas para acondicionar o arroz doce.
Comer a taça
“Queríamos ser mais sustentáveis e pensámos: vamos comer também a taça”, recorda. Puseram as mãos na massa, que fizeram com a farinha do arroz local e um toque de canela, e deram-lhe a forma de uma tacinha. “É crocante e não é doce, o que contrasta com o arroz que é doce e cremoso”, explica Susana. “Pode degustar a nossa iguaria e comer também o recipiente. É como na ginjinha de Óbidos em copo de chocolate”, exemplifica.
À inovação, que custa 1,50€ a unidade e 1€ a miniatura, foi dado o nome de Delícia do Baixo Mondego e a marca já foi registada, assim como a do Arroz Doce do Centro Social e Paroquial de Meãs do Campo, vendido em pratos tradicionais grandes (15€) ou mais pequenos (10€).
Além destes produtos, a instituição produz bateiras ― pequenas barcas também comestíveis, a lembrar as que em tempos navegavam no rio Mondego, cheias de arroz doce ou doce de amêndoa que custam 1€ a unidade ― e variantes do arroz doce com compotas de morango ou de mirtilo caseiras. Tudo pode ser encomendado no Facebook da instituição ou através do número de telemóvel 962 470 442.
“Foi uma solução que encontrámos no meio das dificuldades que a pandemia trouxe para o setor social”, sublinha Susana Medina. “Não dizemos que não a ninguém. Para nós, foi um gosto continuar com o projeto, que já existia antes, mas dar-lhe mais força e obter rendimento para fazer face a diversos projetos que colocamos no horizonte e que provavelmente não conseguiríamos realizar de outra forma”, acrescenta.
O CSPMC é uma IPSS que apoia atualmente cerca de 150 pessoas nas valências de creche, centro de atividades de tempos livres, centro de dia, apoio domiciliário e estrutura residencial para pessoas idosas. Admitindo que a produção, que é totalmente artesanal, já começa a pedir outro tipo de respostas, Susana Medina assegura que o objetivo “a curto médio prazo é alavancar este produto que é reconhecido”, sempre no “caminho da sustentabilidade ambiental”.
O arroz doce é uma tradição tão enraizada em Meãs do Campo que ainda hoje, quando há um casamento na aldeia, esta sobremesa é feita em casa dos noivos e levada, em pratos ou travessas, aos convidados pelas raparigas solteiras.
Carregue na galeria para ver Bárbara Bandeira a deliciar-se com o arroz doce e conhecer os produtos criados pelo CSPMC.