O restaurante Cordel Maneirista, há 11 anos em Santa Clara, Coimbra, é conhecido pelos sabores ancestrais dos pratos genuínos e cheios de caráter, que nos lembram outros tempos e nos transportam às origens. O chef Paulo Queirós e a mulher, Eduarda Antunes, sempre procuraram manter uma relação próxima com os produtores e conhecer o que põem na mesa dos seus clientes.
Com o passar dos anos, perceberam que muitos dos produtos que compravam sobretudo na região das Beiras e de Trás-os-Montes se estavam a perder nos tempos e começaram a sentir necessidade de os dar a conhecer de uma outra forma. Assim nasceu a Mercearia do Cordel que vai abrir as portas esta semana para compras e petiscos.
Esta que se intitula orgulhosamente de mercearia portuguesa passa a funcionar esta sexta-feira, 25 de novembro, no rés do chão do mesmo edifício do restaurante Cordel, de esquina virada para o Convento São Francisco, onde em tempos o casal teve a Hamburgueria Maneirista. “Tudo o que come no restaurante vai estar à venda na mercearia”, conta à New in Coimbra Paulo Queirós, 56 anos, falando da “proximidade” que foi criando com os pequenos produtores.
O espaço, comprido e estreito, faz-nos andar para trás nos anos pela simplicidade do que tem à venda. Quase se conseguem ouvir os trabalhadores que andaram na apanha da azeitona que depois fez o azeite que agora está nas prateleiras. Na rugosidade das amêndoas de Alfândega da Fé como que conseguimos sentir o toque de quem as cuidou e apanhou e o cheiro a fumeiro remete-nos para Trás-os-Montes, região onde o chef tem origens e que tem uma grande quota de artigos na mercearia.

“Isto está a acabar. Já mais ninguém faz. Terminado este produtor, este produto termina também”, Eduarda, 46 anos, tem urgência em chamar a atenção para as imensas relíquias que tem entre quatro paredes. Os olhos brilham quando fala dos cuscos transmontanos, vendidos a 15€/quilo, num transparente pote de vidro, mas que antes de aqui chegarem passam por um “processo único, demorado e totalmente artesanal”. Vai avisando sem se cansar enquanto aponta para os artigos: “isto qualquer dia só num museu”.
No enorme armário de madeira, há autênticas raridades: perdiz desossada (21€), pêra passa de Oliveira do Hospital (em embalagens de 150 gramas a 6,50€, de 100 gramas a 5€ ou ao quilo a 33€), conservas de peixe do rio (9,50€), vinagre de cereja (2,60€) e até o azeite Ouro Líquido que tem mesmo pepitas de ouro (9,70€). O arroz carolino do Baixo Mondego (3,60€), que o chef Paulo Queirós usa para todos os pratos de arroz, só fazendo variar o tempo de cozedura, também tem lugar de destaque.
No balcão de mármore saltam à vista os pinhões de Álcacer do Sal (120€/quilo) e a mala de cartão “This is Coimbra — Food Stories”, criada pelo Cordel Maneirista, e que venceu por unanimidade o concurso mundial “World Food Gifts Challenge 2022″. Lá dentro está Coimbra: perdiz fria à moda de Coimbra, numa exaltação da Coimbra Senhorial, e uma lembrança deste berço de seis reis da primeira dinastia que tinham a caça como uma atividade de eleição, além de homenagear a arte do escabeche; o suspiro, que traduz a notoriedade da doçaria conventual de Coimbra, e exalta o imaginário da boémia académica na arte da sedução; bolachas artesanais de cerveja, como promoção do turismo industrial e uma memoria dos biscoitos duros que alimentavam as embarcações séc. XV e XVI; a toalha de Almalaguês, que espelha a sabedoria dos nossos antepassados traduzida pelo trabalho minucioso do algodão, transformando-o em obras-primas; um prato de loiça de Coimbra e os palitos de Penacova, que evidenciam a mestria de quem esculpe a madeira.
Esta maleta de cartão reciclado, acompanhada com uma carta de amor, custa 70€. Tudo o que compõe a premiada mala está à venda separadamente na mercearia. A título de exemplo, um prato de loiça de Coimbra custa 7€ uma toalha de Almalaguês 12,50€.

A herança transmontana está muito presente também nos inúmeros enchidos, entre os quais encontra um surpreendente chouriço de abóbora, mas também o butelo (enchido de porco, feito com o bucho e recheado de ossos e cartilagem e alguma carne) que tradicionalmente acompanha com as casulas (20€/quilo), que são cascas de feijão secas. Os queijos e os vinhos são de diferentes regiões.
Os doces conventuais, entre os quais está o também famoso pudim das clarissas (25€ ou 40€ com forma de oferta) que conquistou o segundo lugar no concurso European Food Gifts 2021, não faltam, não fosse o chef Queirós um apaixonado pela matéria e um guloso assumido.
“Havia um desejo muito grande de podermos ter disponível para venda aquilo que se serve no restaurante, por um lado e por outro de divulgar algumas coisas que se estão a perder”, resume o casal.
Além de levar todos estes produtos para casa, pode também sentar-se à mesa e petiscar. A mercearia, que conta dinamizar encontros com os produtores, degustações e provas (algumas gratuitas), vai também funcionar como casa de petiscos.
Pode provar o folar transmontano (4€), as alcaparras (3€), degustar azeite (6€) ou saborear pastéis de chaves na versão mini (quatro unidades 6,50€) ou normal (2 unidades 5€). Há ainda peixe do rio (a partir de 10€) e tábuas que podem ser mistas (18€), de enchidos ou de queijos (8,50€), tudo para acompanhar com vinho servido a copo (a partir de 3€).
A pedido de muitos clientes, a mercearia irá servir também um hambúrguer artesanal que tem queijo do Rabaçal na composição. Para o Natal, a mercearia disponibiliza cabazes (25€ e 50€) que podem ser personalizados, além de sugestões para todos os gostos e preços.
De seguida carregue na galeria e fique a conhecer alguns dos produtos que pode encontrar na Mercearia do Cordel.