“No meu tempo é que se comia bem”. Quem nunca ouviu esta frase que dê a primeira garfada. Os nossos pais relembram as receitas das avós que já as confecionavam tal como os seus antepassados. Porém, devido à correria do dia a dia, muito deste conhecimento, que é patrimônio de todos nós, vai ficar perdido.
Quando a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra se inscreveu para ser a Região Europeia de Gastronomia 2021-2022, distinção que declarou, o objetivo era “valorizar o património cultural da região, através da promoção da gastronomia enquanto marca distintiva”. O resultado está agora refletido na Carta Gastronómica da Região de Coimbra apresentada a 23 de abril deste ano.
Não espere um simples livro de receitas porque é muito mais do que isso. Prepare-se para viajar por saber alguns sabores que, provavelmente, eram desconhecidos. Ao longo de 294 páginas, a Carta Gastronómica da Região de Coimbra serve-nos refeições reconfortantes, das mais comuns às quase perdidas no tempo, transmissões de história, costumes e aprendizagens populares.
Para escrever esta carta, que funciona como uma homenagem a um povo, cada um dos 19 municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra escolheram seis receitas que surgem divididas em temáticas. O livro também conta com a participação da Escola de Hotelaria e Turismo da Região de Coimbra e tem editoria cooperativa de Guida Cândido.
“Cientes de que uma Carta Gastronómica tem a nobre função de ser um inventário do receituário regional, não se pretendeu tão redutora, pelo que o nosso receituário apresenta-se respaldado numa perspetiva histórica, sociológica e antropológica, com uma abordagem mais técnica ao nível da informação nutricional”, lê-se na introdução do documento.

Partindo dessa base, e mais do que se revestir de uma “função de cristalização do passado”, a carta assume-se como “um documento de valorização, salvaguarda e promoção da gastronomia e dos produtos endógenos da região, mas acima de tudo é determinante para a perpetuação e renovação deste conhecimento legado”.
Num território que vai da serra ao mar e em que basta percorrermos meia dúzia de quilómetros para provar especialidades completamente distintas, a Carta Gastronómica da Região de Coimbra divide-se por temáticas. A secção “Do mar” conta com iguarias como a sardinha torrada na telha com batata assada na areia.
Da Tocha, no concelho de Cantanhede, segue-se “Do Fiel Amigo” onde podemos conhecer a feijoada de sames, da Figueira da Foz, ou uma variedade de tibornadas, de Oliveira do Hospital, Góis e Tábua. “Do rio” surgem as lampreias em arroz no caso de Montemor-o-Velho e à moda de Penacova, ou ainda as enguias à moda dos armazéns de Lavos, da Figueira da Foz, ou, de Soure, em Caldeirada.
Nas carnes, “Do açougue” destaque para as chanfanas, de Penela, Miranda do Corvo, Vila Nova de Poiares ou Lousã; e para as variedades regionais de borrego ou cabrito. “Da matança” chamam a atenção as papas de moado, da Figueira da Foz, mas também o tão típico leitão da Mealhada. Da “capoeira” sai a galinha tostada de Condeixa-a-Nova.
“Da horta” tiramos a sopa de chícharos, de Penela, e as batatas de mira assadas na areia. “Do grão e da farinha” fazem-se os carolos amargos e doces, de Tábua, o bolo de cornos, de Mortágua ou a filhó espichada da Pampilhosa da Serra. “Do Açúcar” provam-se, por exemplo, o pudim das Clarissas, de Coimbra.
No final fica o que tiramos “Da fermentação”, como a aguardente de medronho da Pampilhosa da Serra, a cerveja de Coimbra, ou o queijo e requeijão Serra da Estrela DOP, de Oliveira do Hospital. A Carta Gastronómica da Região de Coimbra está disponível online para consultar ou descarregar.
De seguida carreguei na galeria para conhecer algumas das especialidades da Carta Gastronómica da Região de Coimbra.

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